Unicamp cria um sistema nanotecnológico de entrega de compostos com atividade antibiótica que minimiza a seleção de superbactérias.
Num cenário de aparecimento de superbactérias cada vez mais competentes em driblar os antibióticos convencionais, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criaram uma nanopartícula (partícula com tamanho entre 1 e 100nm) de polissacarídeos (“açúcar”) que, ao encapsular nanopartículas de prata, é capaz de combater superbactérias (bactérias que resistem ao tratamento mesmo quando utilizada uma grande quantidade de antibióticos).
Devido à simplicidade da célula bacteriana, mutações que ocorrem aleatoriamente em determinadas colônias resultam no aparecimento de bactérias resistentes a diversos antibióticos, sendo capazes de escapar do mecanismo de ação desses fármacos. Esse é um processo evolutivo natural das bactérias que vem sendo intensificado por ações humanas. O mau uso dos antibióticos prescritos para tratar infecções bacterianas é o principal estímulo antrópico à seleção de superbactérias, o que vai desde a prescrição de antibióticos sem a certeza se realmente se trata de uma infecção bacteriana até a interrupção do tratamento antes do recomendado. Neste sentido, muitos estudos têm buscado alternativas aos antibióticos convencionais, buscando minimizar o desenvolvimento de resistência bacteriana.
A nanotecnologia há muito tempo vem sendo usada como ferramenta para melhorar sistemas de entrega de fármacos, uma vez que é capaz de aumentar a biodisponibilidade das drogas ao seu alvo. Com base nisso, os pesquisadores criaram um sistema de nanopartículas de açúcar que podem encapsular tanto nanopartículas de prata, quanto antibióticos convencionais. Essa combinação promete enganar sistemas de defesa das bactérias e evitar o desenvolvimento de resistência.
Catia Ornelas, orientadora do projeto, explica que “o fato de combinar nanopartículas de prata com antibióticos convencionais no mesmo ‘pacote’ vai permitir uma ação mais devastadora sobre as bactérias, não permitindo que elas desenvolvam resistência tão facilmente”. Cada antibiótico irá desempenhar seu próprio mecanismo de ação, somado com a ação da prata que atua causando danos à parede celular bacteriana, impedindo que as bactérias produzam energia, interrompendo a replicação do DNA e inviabilizando sua multiplicação, como explica Catia.
A nanopartícula de açúcar já atua de maneira promissora como carreador de vários tipos de fármacos anticâncer, tendo mostrado resultados muito promissores em testes in vitro e in vivo. Agora, a patente para combater superbactérias foca no potencial do polissacarídeo (açúcar) como carregador de misturas de compostos com propriedades bactericidas. Catia explica que ainda estão nas fases de testes pré-clínicos, e que os próximos passos da pesquisa incluem testar várias combinações de antibióticos, contra vários tipos de bactérias. As formulações mais promissoras in vitro deverão avançar para estudos em animais.
News: Iasmin Taveira
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria no site Olhar Digital, intitulada “Nanopartícula desenvolvida na Unicamp combate superbactéria”, publicado em 10/07/2021.
https://olhardigital.com.br/2021/07/10/medicina-e-saude/tecnologia-nanoparticula-desenvolvida-na-unicamp-combate-superbacteria/
Artigo científico intitulado “Drug encapsulating polysaccharide-loaded metal nanoparticles: A perspective drug delivery system”, publicado na revista Drug Development Research em 2021, de autoria de Prasher e colaboradores.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ddr.21754
(Editoração: André Pessoni)