Qual proporção de pessoas precisa existir em uma comunidade para fazer a maioria mudar uma norma social, e como isso acontece? Qual impacto um pequeno grupo de pessoas com ideal fixo pode ter sobre uma comunidade, seja pela internet ou pessoalmente? Tentando compreender essas questões, ligadas a tópicos como direitos de minorias, igualdade de gêneros ou mudanças do uso de uma língua, pesquisadores demonstraram experimentalmente que pelo menos 25% de uma população deve se comprometer com uma mudança social para que a comunidade acolha tal alteração. O experimento foi conduzido on-line em duas fases: primeiramente, grupos de participantes conversavam, dois a dois, a fim de dar nome a uma figura (por exemplo, uma face). A cada vez que os dois participantes concordassem com o nome dado, eles recebiam um prêmio em dinheiro; e quando discordassem, eram punidos perdendo dinheiro. Assim, ao longo de várias repetições, o grupo acabava adotando um único nome para a figura. Então, iniciava-se a segunda fase do experimento: atores entravam no grupo, persistindo em um nome diferente daquele adotado pela maioria. O experimento demonstrou que se os atores correspondessem a menos de 25% do grupo, a norma previamente estabelecida não era modificada. Entretanto, com proporção maior ou igual a 25% de atores comprometidos em mudar a norma, a maior parte do grupo acabava adotando o novo nome para a figura exibida. Os autores enfatizam que a proporção de 25% deve ser flexibilizada por diversas variáveis em contextos reais; entretanto, o estudo abre portas para novas descobertas acerca do impacto de pequenos grupos sobre populações maiores. Tal conhecimento pode ser usado para mudar convenções sociais em grupos on-line, compreender fenômenos como a aceitação do bullying, entre outras aplicações.
Tweet-science: Fernando F. Mecca
Artigo original: Experimental evidence for tipping points in social convention # Science (Jun/2018). Autores: Damon Centola, Joshua Becker, Devon Brackbill e Andrea Baronchelli.
(Editoração: Priscila S. Rothier, Gabriela R. Duarte e Caio M. C. A. de Oliveira)