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O que é poluição por misturas?

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Aprenda sobre como as diferentes substâncias químicas podem se unir no ambiente

DESTAQUES:
• Estudar os efeitos das misturas de químicos é fundamental para compreender os impactos em plantas, animais e na saúde humana;
• As misturas dos compostos químicos podem ter efeitos sinérgicos, antagônicos e aditivos;
• No mundo existem vários ambientes impactados pelos efeitos de misturas de diferentes poluentes.

Resumo

As atividades humanas têm contribuído para a entrada de substâncias químicas no ambiente. Mas elas muitas vezes não ficam só, podem unir-se a outros compostos, formando o que chamamos de misturas. Essas misturas podem ser compostas por substâncias presentes no nosso cotidiano como medicamentos, plásticos e pesticidas, causando impactos sobre os animais e a saúde humana. Se ficou interessado em conhecer mais sobre o mundo das misturas de poluentes, vamos te passar uma receita de bolo para entender melhor o assunto!  

 

Você provavelmente já deve ter visto algum parente ou amigo fazendo um bolo. Durante seu preparo misturamos vários ingredientes, colocamos no forno para assar e depois de uma bela cobertura, nos deliciamos com um bolo bem quentinho! Huum!

poluição
Figura 1. Lista de exemplos de diferentes poluentes. Fonte: Arquivo pessoal, via plataforma Canva.

Mas você já parou para pensar que, assim como em uma mistura de bolo, no ambiente podem ter várias substâncias que se unem? Se você ficou curioso, fique atento que vamos te explicar! 

No ambiente, por conta de várias atividades industriais e domésticas, o homem tem gerado muitos poluentes. Mas, antes de seguirmos com a história, você precisa entender que poluentes são substâncias naturais ou artificiais que podem ser capazes de danificar o ambiente e afetar a saúde de animais, vegetais e seres humanos.   

Agora vamos voltar para o bolo! Para fazer um bolo, misturamos todos os ingredientes: farinha, chocolate em pó, fermento, entre outros. Mas o que isso tem a ver com os poluentes? 

Em um rio ou lago, por exemplo, existem várias substâncias químicas que também podem se unir. Pesquisadores vêm descobrindo que vários poluentes como agrotóxicos/pesticidas, medicamentos, produtos de higiene pessoal, plásticos, entre outros compostos químicos podem se unir e fazer mal para seres vivos.

COMO ACONTECE A MISTURA NO AMBIENTE?

A explicação é simples, e está bem debaixo do nosso nariz, é só parar e pensar no nosso dia a dia. Pense, por exemplo, no que acontece depois de você consumir um remédio. Nem tudo que você ingeriu é absorvido pelo seu organismo, parte dele vai para sua urina e depois para o vaso sanitário, certo? Já o xampu que você usou depois de um delicioso banho, vai parar no ralo do banheiro, não é mesmo? 

Bom, tanto as substâncias presentes naquele remédio que você usou como também no xampu, percorreram um longo caminho e chegaram até a estação de tratamento de esgoto da sua cidade. Essas estações removem várias coisas para que, depois de tratada, a água seja devolvida para o ambiente com qualidade. Mas, infelizmente, as estações de tratamento de esgoto de alguns países ainda não possuem tecnologia suficiente para remover algumas das substâncias do remédio e do xampu da água que chega nessas estações. Por conta disso, esses e muitos outros compostos estão chegando no ambiente, pois o esgoto não tratado muda toda a composição química da água, afetando a vida aquática e os seres humanos. Pior ainda: muitos países sequer têm estações de tratamento de esgoto em todo o seu território. 

Agora, pense na natureza! Já imaginou como a falta dessas estações pode ser prejudicial? A ausência de tratamento do esgoto piora o nosso ambiente, e pode ocasionar mais misturas de compostos químicos. Além disso, outras substâncias muito utilizadas na atualidade são os pesticidas, também chamados de agrotóxicos. Esses produtos são utilizados para impedir que ervas daninhas ou alguns animais prejudiquem as plantações, mas estudos apontam que determinados pesticidas podem causar impactos nos ecossistemas.

E OS PLÁSTICOS?

Primeiramente, vamos entender que o plástico é uma junção de várias substâncias químicas. 

Você já parou para pensar na quantidade de plásticos que utilizamos diariamente? Todo esse plástico tem ido para o ambiente. Você já deve ter ido em alguma praia, lago ou rio e visto a quantidade de plásticos nas areias ou na água. Todo esse plástico tem contribuído para a poluição química ou física, desde a sua fabricação até o descarte final.

poluição
Figura 2. Exemplos de substâncias que podem se unir no ambiente. Imagem: Arquivo pessoal, via plataforma Canva.

No ar, a queima de plástico libera substâncias que fazem mal para a saúde humana, de outros animais e de plantas. Já nos oceanos, os plásticos fazem muito mal, por exemplo, para as tartarugas marinhas, que se alimentam de águas vivas, mas acabam confundindo os plásticos com o seu alimento e os ingerem, deixando esses animais doentes. Os plásticos também podem ir se desgastando, formando o que chamamos de microplásticos. Alguns estudos já indicam que esses microplásticos podem servir como um transporte para os medicamentos e afetar animais aquáticos. 

Esses são apenas exemplos de algumas substâncias que estão no ambiente, mas na verdade o número é muito maior! É como se o ambiente fosse uma grande batedeira, e dentro dela tivesse vários produtos químicos, como na figura ao lado. 

A UNIÃO FAZ A FORÇA?

Após essa mistura de substâncias, três efeitos podem acontecer. O primeiro é o efeito aditivo, que é a soma dos efeitos das substâncias. Mas além disso, também pode acontecer o efeito sinérgico, que ocorre quando duas substâncias juntas têm seus efeitos mais fortes (Imagina nessa situação que dois mais dois é mais que quatro!), como se fossem superpoderes! Tornando essas substâncias ainda mais prejudiciais ao meio ambiente. Por outro lado, a mistura pode ter o efeito oposto, ou seja, pode enfraquecer o efeito do outro e, quando isso acontece, chamamos de efeito antagônico; neste caso, um poluente reduz o efeito negativo do outro. 

Mas, já parou para pensar em como os pesquisadores conseguem identificar se um efeito é antagônico, sinérgico ou aditivo? Para isso, são realizados experimentos em laboratórios, onde são verificados esses efeitos. Que tal alguns exemplos de estudos realizados em laboratório que investigaram esses efeitos? 

Cientistas descobriram através de experimentos que, dependendo das concentrações, a união de dois agrotóxicos apresenta efeito sinérgico, causando danos para uma espécie de mosca. Já para o efeito antagônico, um grupo de pesquisadores verificaram, também através de experimentos, que certas concentrações de microplástico e o elemento químico cobre não afetam a reprodução de um pequeno crustáceo chamado Daphnia carinata.

Não poderia faltar um exemplo para o efeito aditivo. Pesquisadores também descobriram que os elementos químicos zinco e cobre têm esse efeito aditivo na reprodução de outro crustáceo chamado Ceriodaphnia dúbia. 

UM CALDEIRÃO DE MISTURAS AO REDOR DO MUNDO!

No mundo existem muitos ambientes poluídos, formando um verdadeiro caldeirão de misturas de substâncias.

Quer saber de exemplos reais? Aqui vão alguns: 

O rio Ganges, na Índia, é um rio muito utilizado pela população para diversos fins, tanto religiosos como para sobrevivência, como o próprio consumo da água. Estudos já indicam que há uma grande concentração de metais no rio e outros resíduos industriais, além de esgoto. 

O rio Sarno, na Itália, é considerado o mais poluído da Europa. Neste rio, são despejados resíduos da produção de tomate, de produtos farmacêuticos e de processamentos feitos com o couro.

Algumas áreas do planeta apresentam problemas com a eutrofização da água. A eutrofização é o aumento de nutrientes nas águas, provenientes das atividades humanas, como lançamento de esgoto e utilização de fertilizantes que geram um excesso de reprodução de algas e tem como consequência um desequilíbrio ambiental. Estudos de eutrofização no Mar Báltico, por exemplo, apontam a presença de material fecal animal e humano nessa região com ocorrência de locais considerados “mortos” devido a problemas de oxigenação da água. Esse material fecal indica a presença de esgoto no mar, porém o esgoto apresenta muitas outras substâncias além da matéria fecal.

Você já ouviu falar sobre o maior lixão flutuante do mundo? Ele foi localizado no Oceano Pacífico, onde milhares de plásticos e microplásticos causam efeitos negativos para a biodiversidade.

Imagine o que a ocorrência dessas várias substâncias pode causar nestes ambientes? É importante lembrar que estes corpos de água podem afetar localmente as populações, mas mesmo que estejam longe da sua casa, chegam até os oceanos. E nos oceanos temos organismos aquáticos importantes para o nosso consumo. Não sabemos o que essas misturas podem causar, mas muitas delas podem ser acumuladas nos organismos dos animais que comemos… e, por consequência, em nós humanos. Já pensou nisso?

Mas, e agora? Depois que você soube que o ambiente pode conter inúmeras substâncias e consequências preocupantes com a união delas, o que será que podemos fazer? 

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Figura 3. Os 3 Rs da Sustentabilidade. Reduzir o consumo ao máximo, reutilizar os produtos e materiais enquanto puderem ser reutilizados e, por último, reciclar os materiais que tiverem chegado ao final de sua vida útil.  Imagem: Sustenta Ações.

Depois de saber sobre os efeitos de agrotóxicos, dê preferência em utilizar produtos orgânicos que são livres dessas substâncias, lave bem as frutas, vegetais e legumes antes de consumi-los. E se tiver um espaço em casa, que tal pedir ajuda para seus familiares para montar uma pequena horta?

Sobre os esgotos, converse com seus familiares para cobrar das autoridades da sua cidade a implementação de estações de tratamento ou a aplicação de novas tecnologias para a remoção dos poluentes que ainda não são contemplados no atual tratamento. 

Além disso, crie/adote/desenvolva/pratique novos hábitos para reduzir a poluição ambiental! No caso dos medicamentos vencidos ou fora de uso, ao invés de jogar no lixo comum, peça para seus familiares e amigos levarem até a farmácia mais próxima. Pratique também os 3 Rs!

Dessa forma você ajuda a diminuir a quantidade de lixo que irá para o ambiente. 

Espalhe essa ideia!

 

Colaboradores:

Rafaela dos Santos Costa sobre a autora

Bióloga e doutora em Desenvolvimento e Meio ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Sempre se interessou em entender os efeitos de produtos químicos em diferentes organismos, então trabalhou com poluição ambiental e ecotoxicologia. Nos últimos anos, tem se dedicado a estudar os efeitos dos medicamentos no meio ambiente e seus impactos na saúde humana.

Amanda Nogueira Medeiros sobre a autora

Engenheira Ambiental e doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no Brasil. Já trabalhou com educação ambiental em gestão de resíduos. Sua pesquisa atual se concentra na saúde ambiental e está interessada em aprender como os fatores ambientais, como a poluição, afetam a saúde humana.

Helena de Oliveira Souza sobre a autora

Bióloga e cursando doutorado em Ciências Ambientais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. A natureza lhe traz felicidade, e essa é uma das suas motivações para estudar e ajudar a cuidar do meio ambiente. Também sempre gostou de trabalhar com educação e, recentemente, tem se dedicado a escrever e divulgar questões ambientais para os jovens.

Julio Alejandro Navoni sobre o autor

Bioquímico e doutor em Bioquímica e Farmácia. Atualmente é professor do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sua pesquisa envolve diversas áreas como Bioquímica, Toxicologia, Química Analítica, Contaminação Ambiental e Avaliação de Riscos.

 

Referências

Artigo científico intitulado “A Binary combinations of organophosphorus pesticides exhibit differential toxicity under oxidised and un-oxidised conditions”, publicado na Revista Ecotoxicology and Environmental Safety, em 2015, de autoria de Arora, S., Kumar, A.

Artigo científico intitulado “Assessment of the topsoil heavy metals pollution in the Sarno River basin, south Italy”, publicado na Revista Environmental earth sciences, em 2014, de autoria Cicchella, D e colaboradores.

Artigo científico intitulado “oxicity of copper, lead, and zinc mixtures to Ceriodaphnia dubia and Daphnia carinata”, publicado na Revista Ecotoxicology and Environmental Safety, em 2009, de autoria de Cooper, N.L e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Plastic pollution in the world’s oceans: more than 5 trillion plastic pieces weighing over 250,000 tons afloat at sea”, publicado na Revists PloS one, em 2014, de autoria de Eriksen, M. e colaboradores. 

Artigo científico intitulado “Sedimentary faecal lipids as indicators of Baltic Sea sewage pollution and population growth since 1860 AD”, publicado na Revists Environmental Research, em 2022, de autoria de Kaiser, J., Lerch, M.

Capítulo de livro intitulado “Eutrophication: challenges and solutions” In: Eutrophication: Causes, Consequences and Control: Volume 2, publicado em 2014, de autoria de Khan, M.N.; Mohammad, F.

Capítulo de livro intitulado “Effects of pesticides on environment” In: Plant, soil and microbes: volume 1: implications in crop science, publicado em 2016, de autoria de Mahmood e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Plastic ingestion by sea turtles in Paraíba State, Northeast Brazil.”, publicado na Revists Iheringia. Série Zoologia, em 2015, de autoria de Poli, C. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Microplastics as vectors of pharmaceuticals in aquatic organisms–an overview of their environmental implications”, publicado na Revista Case Studies in Chemical and Environmental Engineering, em 2021, de autoria de Santos, L.H.M.L.M. e colaboradores.

Capítulo de livro intitulado “Story of the Ganga River: Its pollution and rejuvenation” In: Riverine Systems: Understanding the Hydrological, Hydrosocial and Hydro-heritage Dynamics, publicado em 2022, na editora Springer International Publishing, de autoria de Simon, M., Joshi, H. 

Artigo científico intitulado “Antagonistic effects of copper and microplastics in single and binary mixtures on development and reproduction in the freshwater cladoceran Daphnia carinata”, publicado na Revista Environmental Technology & Innovation, em 2021, de autoria de Thi, D.D. e colaboradores.

 

(Editoração: Fernando F. Mecca e Nathália A. Khaled)

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