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Resistência à antimicrobianos já é uma das principais causas de morte do mundo

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)

Estudo aponta a resistência a antimicrobianos como maior ameaça para saúde da humanidade

Em janeiro deste ano (2022), uma colaboração de um grupo de pesquisadores chamados “Colaboradores da Resistência Antimicrobiana” publicou uma análise sistemática da incidência global da resistência à antimicrobianos (AMR – do inglês antimicrobial resistance) em 2019. O estudo publicado na revista The Lancet mostrou que em 2019 as infecções bacterianas não tratáveis lideraram a causa de mortes no mundo. Para as análises foram considerados dados hospitalares de 204 países e regiões. Os autores do estudo alertam que a AMR é a maior ameaça à saúde humana no mundo.

O desenvolvimento de resistência à antimicrobianos por parte de microrganismos ocorre em decorrência da pressão seletiva exercida pelo uso não racional e irresponsável de antibióticos. Os microrganismos selecionados são aqueles que sofreram mutações aleatórias em seu código genético e essas mutações eram positivas para sua sobrevivência quando confrontadas com um composto antimicrobiano, responsável por reduzir o número de microrganismos infectantes ou matá-los. Dessa forma, há uma redução da eficiência do antimicrobiano.

Para a análise, os pesquisadores realizaram uma modelagem estatística considerando 5 fatores: número de mortes em que a infecção desempenhou um papel; proporção de mortes infecciosas atribuíveis a uma determinada síndrome infecciosa; a proporção de mortes por síndrome infecciosa atribuíveis a um determinado patógeno; a porcentagem de um determinado patógeno resistente a um antibiótico de interesse; e o risco excessivo de morte ou duração de uma infecção associada a essa resistência. Com isso os autores puderam separar seus dados em dois contrafatos: mortes atribuíveis à AMR (cenários em que a resistência tem papel direto) e mortes associadas à AMR (cenários em que a resistência tem algum papel). As estimativas foram estatisticamente validadas e os autores as apresentaram agregadas ao nível global e regional.

resistência bacteriana
Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae (mostrada aqui em uma placa de cultura) e Staphylococcus aureus foram as três principais bactérias responsáveis por infecções resistentes a medicamentos fatais em todo o mundo em 2019. Fonte: RODOLFO PARULAN JR./MOMENT/GETTY IMAGES – Reprodução ScienceNews

Os resultados mostram a estimativa de que ocorreram 4,95 milhões de mortes associadas à AMR bacteriana em 2019. Dessas, 1,27 milhões mortes são atribuíveis à AMR bacteriana. Essa estimativa mostra que mais pessoas morreram em decorrência de infecções bacterianas não tratáveis do que de malária ou HIV, por exemplo. O estudo também mostrou que países com menos recursos de saúde têm maiores taxas de mortalidade por AMR, o que mostra que as soluções para esse problema de saúde pública precisam de soluções que considerem diferenças regionais.

Os autores enfatizam que seis patógenos foram responsáveis ​​por 73,4% das mortes diretamente relacionadas à resistência bacteriana, sendo que sete combinações patógeno-droga causaram mais de 50.000 mortes cada. Ou seja, estas combinações refletem a ineficácia do uso destas drogas para tratar esses determinados microrganismos. Esse dado destaca a importância do desenvolvimento de políticas que visam especificamente desenvolver combinações patógeno-droga mais eficientes, particularmente por meio da expansão dos programas de prevenção e controle de infecções. Melhorar o acesso a antibióticos essenciais, também é uma proposta dos autores para lidar com esse problema. Além disso, reforçam que o desenvolvimento de vacinas e novos antibióticos é essencial.

Esse estudo foi o primeiro a fornecer uma avaliação abrangente da incidência global de resistência a antimicrobianos, provendo uma contextualização crucial para entendimento da magnitude desta importante questão de saúde. Os autores concluem que melhorar a compreensão científica dessa ameaça deve ser uma prioridade para os gestores de políticas de saúde globais.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Global burden of bacterial antimicrobial resistance in 2019: a systematic analysis”, publicado na revista The Lancet em 2022, de autoria de Colaboradores da Resistência Antimicrobiana. https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)02724-0/fulltext#%20

Matéria no site ScienceNews, intitulada “Antimicrobial resistance is a leading cause of death globally”, publicado em 24/01/2022. https://www.sciencenews.org/article/antimicrobial-resistance-cause-death-antibiotic-bacteria/amp

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