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Treinamento físico pode compensar desbalanços metabólicos causados por déficit dos níveis de estrógenos.
DESTAQUES: – Déficit de hormônio estrógeno pode provocar desequilíbrio energético; – Ratas com ovários retirados foram usadas para testar efeitos do treinamento físico sobre a saúde no contexto de déficit de estrógenos; – Treinamento físico regular preveniu desbalanços energéticos que são típicos nos animais com déficit de estrógenos. |
Os estrógenos são hormônios relacionados ao desenvolvimento de características femininas, secretados principalmente pelos ovários e, embora sejam classicamente conhecidos por suas funções sobre o sistema reprodutor, desempenham inúmeras ações fisiológicas. Por outro lado, o fim da secreção ovariana de estrógenos, seja esta condição provocada naturalmente (menopausa) ou por remoção dos ovários, é associado ao desequilíbrio de substratos energéticos, elevando o risco de doenças metabólicas como obesidade, diabetes, dislipidemias, dentre outras.
Buscando entender melhor esses desequilíbrios energéticos sistêmicos gerados pela deficiência de estrógenos, pesquisas vêm se aprofundando sobre as consequências moleculares neste contexto. Um estudo recentemente publicado optou por investigar a relação do hipoestrogenismo com o músculo esquelético, ao considerar que este tecido exerce importante função na regulação metabólica por captar, utilizar e armazenar substratos energéticos do metabolismo dos carboidratos e lipídeos.
Dentre as descobertas, pode-se destacar que o déficit de estrógenos provoca redução de transportadores de substratos presentes no músculo esquelético, tais como GLUT4 e FAT CD36, responsáveis por captar e disponibilizar glicose e ácidos graxos para o tecido muscular, respectivamente. E quais seriam as consequências? A redução do conteúdo destes transportadores reduz a disponibilidade dos substratos energéticos para o tecido muscular, comprometendo funcionalmente o tecido, enquanto eleva a concentração destes substratos na corrente sanguínea, facilitando o surgimento de doenças.
Sendo assim, são necessárias estratégias que possam prevenir complicações metabólicas comumente impostas pela deficiência de estrógenos, a fim de acarretar benefícios à saúde e qualidade de vida. Desse modo, entre as possíveis intervenções existentes, temos a reposição hormonal, a qual pode reverter algumas consequências da deficiência de estrógenos. Contudo, a reposição pode gerar alguns efeitos colaterais indesejáveis. Tendo isso em vista, este estudo optou por utilizar uma ferramenta não farmacológica e considerada um potente modulador energético: o exercício físico.
Dentre os principais resultados obtidos, foi verificado que o treinamento físico realizado regularmente em intensidade moderada (foram avaliadas 12 semanas de treinamento neste estudo com intensidade correspondente a 80% do limiar anaeróbio) foi eficiente em prevenir a perda do conteúdo dos transportadores citados anteriormente, possibilitando condições metabólicas favoráveis apesar do déficit hormonal.
Durante a execução do exercício físico, a contração muscular estimula o aumento da captação e utilização de glicose e lipídeos, favorecendo o equilíbrio sistêmico desses substratos, e elevando o gasto energético durante e após a sessão, o que consequentemente melhora diversos parâmetros metabólicos e diminui o risco de doenças ocasionadas nesta circunstância.
Em síntese, este estudo utilizou ratas em condição de déficit de estrógenos (provocado por remoção bilateral dos ovários a partir de uma técnica cirúrgica conhecida por ovariectomia) e avaliou o efeito do treinamento físico de natação ao longo de 12 semanas em impedir o comprometimento de determinados parâmetros metabólicos energéticos. Um dos pontos mais interessantes deste estudo é a aplicabilidade do protocolo realizado, considerando que a dedicação de apenas 30 minutos/5 vezes na semana em intensidade moderada pode ser eficaz em auxiliar na manutenção da saúde metabólica no que se refere aos níveis de estrógenos em déficit.
Este trabalho contribui com expectativas positivas a serem consideradas no modelo humano devido às similaridades fisiológicas com o modelo animal utilizado (roedores). Contudo, é importante ressaltar que o foco foi avaliar exclusivamente o que o déficit de estrógenos pode provocar, enquanto que em cenário de menopausa, o efeito da senescência também é considerado, o que gera influência sobre todo o contexto fisiológico.
Apesar de resultados satisfatórios, mais estudos são necessários para aprofundar o entendimento sobre o tema e assim obter respostas consolidadas.
Colaboração: Taciane Maria Melges Pejon sobre a autora
Licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências Fisiológicas (Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas). Atualmente é doutoranda em Ciências Fisiológicas pelo Programa Interinstitucional de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de São Carlos, onde desenvolve seu projeto de pesquisa no Laboratório de Fisiologia Endócrina e Exercício Físico (@lafeex.ufscar) sob orientação do Prof. Dr. Wladimir Rafael Beck.
Fontes consultadas:
Artigo científico intitulado “Effects of Moderate–Intensity Physical Training on Skeletal Muscle Substrate Transporters and Metabolic Parameters of Ovariectomized Rats”, publicado na revista Metalites em 2022, de autoria de Pejon, T., Scariot, P., Selistre-de-Araujo, H., e colaboradores.
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(Editoração: Fernando F. Mecca e Loren Pereira)