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Uma nova face para Luzia, a primeira brasileira

A chegada da nossa espécie às Américas tem sido motivo de intenso debate científico. A visão clássica propunha que por volta de 14 a 12 mil anos atrás povos vindos de regiões da Sibéria e norte da China cruzaram o Estreito de Bering — porção de mar que separa o norte da Ásia e da América do Norte, mas que estava emerso durante este período — e iniciaram o povoamento do continente americano. Porém, na década de 1990, pesquisadores brasileiros propuseram a existência de uma leva anterior de povoamento do continente, de povos aparentados aos atuais aborígenes australianos, que teriam sido quase completamente substituídos pela segunda leva de povos asiáticos. Esta teoria foi impulsionada por descobertas em Lagoa Santa (MG) de crânios fossilizados morfologicamente distintos dos povos indígenas que atualmente habitam as Américas, entre estes o crânio da famosa Luzia, que foi recentemente salvo do incêndio no Museu Nacional. Entretanto, um novo estudo arqueogenético com DNA fóssil suporta a origem dos povos americanos apenas a partir de povos asiáticos, dando uma nova face a Luzia, “a primeira brasileira”. Apesar da origem geográfica única, os resultados sugerem um padrão mais complexo de povoamento do continente, com diversas levas cruzando o istmo do Panamá em direção à América do Sul. Assim, as diferenças morfológicas entre o povo de Luzia e os atuais povos originários americanos teria se dado não por uma origem diferente, mas por caminhos evolutivos distintos dentro do próprio continente.

Figura: Nova reconstrução baseada no crânio de Luzia e novos dados arqueogenéticos. Imagem: André Strauss e Caroline Wilkinson.

Tweet-science: Gabriel S. Ferreira

sobre o autor

Artigos originais:

Revista Science (Nov/2018) # Early human dispersals within the Americas. Autores: J.V. Moreno-Mayar, L. Vinner, e outros.

Revista Cell (Nov/2018) # Reconstructing the deep population history of Central and South America. Autores: C. Posth, N. Nakatsuka, e outros.

(Editoração: Priscila Rothier, Fernando Mecca e André Pessoni)

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