Os humanos são capazes de realizar pequenos reparos após uma lesão em alguns tecidos ou órgãos, como o fígado. Porém, animais como as salamandras possuem a capacidade de formar novamente ou regenerar grandes porções do corpo após sofrerem alguma lesão grave, como a perda de um braço. A habilidade única desses animais dentre os vertebrados terrestres de reconstruírem membros levanta questionamentos quanto à sua origem evolutiva. Seria essa característica recente e exclusiva de salamandras? Ou seria uma característica mais antiga e herdada dos primeiros tetrápodes? Pesquisadores liderados pelo Prof Igor Schneider do Laboratório de Evolução e Desenvolvimento da UFPA mostram que a origem da regeneração é muito antiga e ocorreu desde os ancestrais de todos os peixes, anteriormente à origem dos tetrápodes. Os braços e pernas de tetrápodes surgiram a partir da modificação das nadadeiras dianteiras e traseiras de peixes. Esse estudo observou que diversas espécies de peixes possuem a habilidade de regenerar suas nadadeiras, da mesma maneira que as salamandras regeneram suas patas, e que um mesmo programa genético é recrutado nessas espécies. Para isso, os pesquisadores compararam o perfil de expressão dos genes ativos durante a regeneração de membros e nadadeiras em salamandra e no peixe Polypterus. O estudo identificou genes ativos no início desse processo, e fundamentais para que a regeneração ocorra. A pesquisa demonstra que a capacidade de regenerar um membro ou nadadeira é muito antiga e está presente desde os ancestrais dos peixes que deram origem aos tetrápodes. A descoberta destes genes fundamentais para a regeneração pode possibilitar o desenvolvimento de abordagens e terapias para a ativação desse programa genético em mamíferos, como os humanos, que não possuem tal capacidade.
Figuras: 1- Peixe bichir-de-senegal (Polypterus senegalus). 2- Nadadeiras do peixe Polypterus. Em A nadadeira diafanizada, após tratamento para colorir em azul a cartilagem e em rosa a porção óssea. Em B nadadeira peitoral completa, enquanto em C e D as nadadeiras estão em processo de regeneração após serem removidas ao nível do endoesqueleto, porção comparável à estrutura óssea de membros dos tetrápodes; nadadeiras com 20 dias após a remoção em C e 40 dias após a remoção em D. Imagens: Camila Guimarães.
Tweet-science: Aline Cutrim Dragalzew
Artigo original: Revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Jul/2019) # Deep evolutionary origin of limb and fin regeneration. Autores: S. Darnet, A. Dragalzew, D. Amaral, e colaboradores.
(Editoração: Fernando Mecca, Priscila Rothier, André Pessoni e Caio Oliveira)