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Flores como dormitórios para abelhas

#Ciência et al. (Especiais temáticos repletos de informações científicas)

O exemplo dos machos de abelhas Hexantheda missionica dormindo em flores de Calibrachoa elegans

Destaques:
– Nem todas as abelhas dormem em colmeias;
– Mais de 85% das espécies são solitárias, ou seja, não têm organização social;
– Abelhas solitárias fêmeas constroem ninhos, mas os machos não vivem ali com elas;
– Os machos da espécie Hexantheda missionica dormem nas lindas flores de Calibrachoa elegans.

Você sabia que existem abelhas que dormem nas flores? As abelhas são os principais polinizadores das plantas com flores, pois dependem destas para obter seu alimento: o pólen e o néctar. A polinização consiste na transferência de grãos de pólen para o estigma da flor. Algumas espécies de abelhas também utilizam as flores como fonte de materiais para a construção dos ninhos, como óleos e resinas, enquanto outras as utilizam como abrigo. Portanto, as abelhas estão constantemente em contato com as flores, aumentando a chance de transferência de grãos de pólen. 

Mas as abelhas não dormem nas colmeias? Nem todas! Mais de 85% das abelhas são solitárias, ou seja, não apresentam uma organização social. Elas constroem seu próprio ninho e fornecem comida para seus filhotes. Geralmente morrem ou deixam o ninho antes do desenvolvimento de suas crias. Ou seja, elas nem sequer conhecem seus filhotes! Quando as abelhas solitárias nascem, as fêmeas vão para as flores em busca de alimento e constroem seus próprios ninhos. Os machos buscam fêmeas para acasalamento. Porém, eles não vivem com as fêmeas dentro de seus ninhos; em vez disso, eles devem encontrar um lugar para descansar durante a noite, e algumas flores são um ótimo local para a pernoite!

Por exemplo, os machos da abelha solitária Hexantheda missionica dormem nas lindas flores de Calibrachoa elegans. Para buscar abrigo, eles cortam as partes reprodutivas (os estames e o estilete) das flores para se acomodarem na corola. Esse comportamento pode gerar um impacto negativo nas flores, uma vez que, ao cortar suas partes reprodutivas, elas podem não frutificar.

 

Abelha dentro de flor petúnia poinização
Macho de Hexantheda missionica dormindo em flor de Calibrachoa elegans. Os machos permanecem nessa posição, com a cabeça virada em direção à entrada do tubo floral, até o dia seguinte. Foto: Letícia Pataca.


Pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) procuraram entender qual o impacto do comportamento dos machos de
H. missionica nas C. elegans, além de buscar avaliar o papel dos machos como polinizadores desta planta, já que eles tomam néctar nas flores e podem tocar as partes reprodutivas delas, possibilitando a polinização.

Os resultados mostram que os machos não apresentam preferência na escolha das flores para abrigo, podendo cortar flores novas ou velhas. Experimentos realizados mostraram que as flores novas (de primeiro dia) não frutificam, pois ainda não há o crescimento do tubo polínico até o ovário. No entanto, flores cujos estames e estiletes foram cortados 24 horas após a polinização podem formar frutos. Portanto, os machos causam um impacto negativo apenas nas flores de primeiro dia.

Enquanto os machos realizam voos de vistoria em busca de fêmeas, podem, eventualmente, entrar nas flores de C. elegans para tomar néctar. Com isso, saem das flores contendo grãos de pólen aderidos ao seu corpo. Ao entrar em outra flor para tomar néctar, contactam o estigma da flor e, assim, transferem grãos de pólen e promovem a polinização. Isto pôde ser corroborado por testes, nos quais flores visitadas apenas por machos tiveram 40% de frutificação. Portanto, embora machos de H. missionica não sejam tão eficientes como polinizadores quanto as fêmeas, que polinizam 93% das flores, eles exercem o papel de polinizadores complementares em C. elegans.

Colaboração: Letícia Cândida Pataca sobre a autora


Fontes consultadas:

Artigo científico intitulado “Male sleeping aggregations of solitary oil-collecting bees in Brazil (Centridini, Tapinotaspidini, and Tetrapediini; Hymenoptera: Apidae)”, publicado na revista Genetics and Molecular Research em 2009, de autoria de Alves-dos-Santos, I. e colaboradores.

– Artigo científico intitulado “Biologia reprodutiva de Calibrachoa elegans (Miers) Stehmann & Semir (Solanaceae)”, publicado na revista Revta brasil. Bot. em 2001, de autoria de Stehmann, J. R. e Semir, J.

– Matéria na revista Scientific American intitulada “Solitary bees”, publicada em1984, de autoria de Batra, S. W. T. (Matéria)

– Livro “The Bees of the World”, de autoria de Michener, C., publicado pela editora The Johns Hopkins University Press em 2007. 2a ed.

– Livro “Biologia da Polinização”, de autoria de Rech, A. e colaboradores, publicado pela editora Editora Projeto Cultural em 2014. 1a ed.

– Dissertação de Mestrado defendida no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, no ano de 2019, intitulada “Interação especializada entre Calibrachoa elegans (Solanaceae) e abelhas polinizadoras”, de autoria de Vieira, A. L. C.

– Dissertação de Mestrado defendida no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, no ano de 2020, intitulada “Impacto de machos de abelhas oligoléticas na polinização de Calibrachoa elegans (Solanaceae)”, de autoria de Pataca, L. C.

(Editoração: Fernando Mecca, Beatriz Spinelli e Caio Oliveira)

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