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O DNA mais antigo do mundo e por que ele é importante

Material genético recuperado de dentes de mamutes estabelece novo limite para análises genéticas de fósseis.

 

O recorde de DNA mais antigo já sequenciado no mundo quase dobrou após a análise genética de três dentes de mamutes da Sibéria. O dente mais antigo tem idade estimada de 1,2 milhão de anos e pertence a uma linhagem nova. A descoberta foi publicada na revista científica Nature na última quarta-feira e, além de trazer novas informações sobre a história evolutiva dos mamutes, aproxima os achados de DNA do limite teórico previsto para materiais genéticos fósseis. 

O recorde anterior para DNA mais antigo do mundo pertencia a um tipo de cavalo de 750 mil anos. Em termos de comparação, o recorde para DNA humano é de 15 mil anos para um material com origem na África e cerca de 120 mil anos para neandertais na Europa.

 

Ilustração de um mamute grande, de pelo longo marrom e presas brancas curvadas para cima, andando por uma vegetação baixa, como grama, e pedras.
Representação de mamute-lanoso, extinto há cerca de 4 mil anos. Imagem: Rob Pongsajapan/Royal British Columbia Museum/Flickr/Wikimedia Commons.

 

A descoberta de um material tão antigo quanto o encontrado nos dentes de mamute tem relação com o ambiente em que esses animais viveram. Fósseis enterrados no permafrost, solo formado por terra, rochas e gelo permanentemente congelado na região ártica, podem ser preservados durante muito tempo graças à menor velocidade de degradação química em situações de congelamento profundo. 

Os molares de mamute que ganharam os holofotes agora foram descobertos na década de 1970 pelo paleontólogo russo Andrei Sher em diferentes pontos da Sibéria. O material ficou guardado por anos no Instituto Geológico da Academia Russa de Ciências. A estimativa é de que os três animais aos quais eles pertenceram viveram, do mais antigo para o mais jovem, cerca de 1,2 milhão, 1 milhão e 700 mil anos atrás. As datas foram calculadas com base nas rochas do local e nas espécies de roedores fósseis enterradas nas proximidades dos molares. 

Para analisar o DNA dos dentes fósseis, a equipe atual de pesquisadores fez um trabalho parecido ao de montar um quebra-cabeças.  Processos físicos e químicos degradam o DNA em vários fragmentos pequenos com o passar do tempo e, por isso, foi preciso juntar os “pedaços” de sequências genéticas. As referências de material genético utilizadas para guiar os pesquisadores foram os genomas já sequenciados de mamutes mais recentes e também de elefantes.

 

Três imagens do dente de mamute fossilizado. O dente é comprido e largo, com uma coloração marrom e cheio de ranhuras.
Dente do mamute Krestovka, batizado com o mesmo nome do local onde o fóssil foi encontrado na Sibéria. Krestovka tem mais de um milhão de anos e é o mais antigo dos espécimes analisados pelo grupo internacional liderado por pesquisadores do Centro de Paleogenética da Universidade de Estocolmo, na Suécia. Imagem: Reprodução/Universidade de Estocolmo via G1.

 

As análises de DNA indicam que o mamute mais jovem, de 700 mil anos, é um mamute-lanoso, típico de regiões frias e extinto há cerca de 4 mil anos, enquanto o segundo animal é uma espécie das estepes. O terceiro e mais antigo mamute é uma linhagem até então desconhecida, mas que já apresentava várias adaptações físicas que são típicas dos mamutes-lanosos, como a pelagem densa. 

A descoberta ajuda a lançar luz à história evolutiva dos mamutes. Uma das hipóteses dos pesquisadores, por exemplo, é de que essa linhagem recém-descoberta hibridizou com os mamutes-lanosos na América do Norte e deu origem aos mamutes-columbianos, ícones da Era do Gelo que compartilhavam metade de seus genes com a linhagem desconhecida e a outra metade com os mamutes-lanosos.

 

Ilustração de três mamutes peludos e cobertos com neve, andando em uma região coberta de neve e plantas secas.
Ilustração de mamute das estepes. Imagem: Reprodução/Universidade de Estocolmo via G1.

 

A pesquisa também aproxima a recuperação de DNA do limite teórico considerado possível. Pesquisadores como Anders Götherström, um dos autores do estudo, sugerem que teoricamente fragmentos de DNA poderiam ser recuperados de fósseis com até cerca de 2 milhões de anos, no limite da origem do permafrost. 

 

News: Luanne Caires

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Million-year-old DNA sheds light on the genomic history of mammoths”, publicado na revista Nature em 2021, de autoria de van der Valk T, Pečnerová P, Díez-del-Molino D e colaboradores. 
https://www.nature.com/articles/s41586-021-03224-9

Matéria no site Science News, intitulada “Mammoth molars yield the oldest DNA ever sequenced”, publicada em 17/02/2021.
https://www.sciencemag.org/news/2021/02/mammoth-molars-yield-oldest-dna-ever-sequenced

Matéria no site G1, intitulada “Pesquisadores descobrem DNA mais antigo do mundo em mamutes da Sibéria”, publicada em 17/02/2021.
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2021/02/17/pesquisadores-descobrem-dna-mais-antigo-do-mundo-em-mamutes-da-siberia-veja-video.ghtml

 

(Editoração: André Pessoni)

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