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Ilusões ópticas de movimento e sua influência na percepção do tempo

A percepção do tempo é alterada durante observação de ilusões ópticas de movimento

 

Resumo

A observação de movimentos, ou mesmo a de representações (como pinturas e esculturas) que sugerem movimento, são capazes de alterar a nossa percepção do tempo. Este estudo se propôs a examinar se imagens estáticas que causam ilusão óptica de movimento seriam capazes de causar distorções na percepção do tempo por voluntários. Para isso, universitários observaram duas imagens com diferentes intensidades de ilusão de movimento por 9 ou 36 segundos (G9 e G36, respectivamente), sem saberem deste tempo de exibição. Depois, os voluntários reproduziam o tempo que achavam ter se passado durante a exibição de cada imagem. Não foram encontradas diferenças entre as estimativas dos voluntários e o tempo real do experimento no grupo G9. Porém, no grupo G36 a imagem com dois pontos de movimento teve exibição estimada como mais curta que a de seis pontos, além de mais curta que o tempo real. A razão desta diferença pode estar relacionada à diferença de complexidade das imagens de maior ou menor intensidade de movimento ou na diferença de atenção dada a elas.

 

Introdução

A percepção de tempo pode ser alterada por diversas condições ambientais, sendo uma delas a observação de movimentos. Uma série de experimentos demonstrou que indivíduos observando quadrados se movendo em uma tela de computador consideram que aqueles que se movem mais rápido também se movem por mais tempo – mesmo que eles tenham sido exibidos pelo mesmo tempo que quadrados mais lentos.

Já se evidenciou, também, que mesmo diferentes representações de movimento em imagens estáticas podem afetar a percepção do tempo. Em um estudo, fotografias de estátuas de bailarinas em diferentes posturas foram classificadas de acordo com quanto movimento expressavam. Indivíduos estimaram que a exibição daquelas imagens representando mais movimento durava mais tempo do que as com menos movimento representado. Resultado similar foi encontrado com imagens abstratas, utilizando diferentes técnicas de representação de movimento (por exemplo, imagens estroboscópicas – Figura 1).

Interessantemente representações estáticas de movimento causam a ativação de áreas do cérebro humano ligadas ao reconhecimento de movimento real. E que, em congruência com os estudos de percepção do tempo, as imagens classificadas como representando mais movimento, ativam mais intensamente tais áreas cerebrais.

Figura 1: Exemplo de representação de movimento por imagem estroboscópica. Imagem: Dinamismo de um cão na Coleira – Giacomo Balla

Pinturas da artista Bridget Riley, causadoras de ilusão óptica de movimento, configuram bons objetos para estudar a variação da percepção do tempo. Voluntários estimaram a intensidade de movimento evocada pelas obras da pintora em uma escala de 1 a 7 pontos, onde 1 seria o mínimo de movimento, e 7 o máximo. Foram encontradas imagens com as mais diversas pontuações, o que possibilitaria o estudo de efeitos da ilusão óptica de movimento usando esses tipos de pinturas.

Este trabalho se propôs a investigar se tais obras abstratas compostas apenas de formas geométricas e capazes de causar ilusões ópticas de movimento também podem alterar a percepção do tempo.

 

Material & Métodos

O experimento foi conduzido com a participação voluntária de 49 pessoas (23 homens, média de 23 anos), divididas em dois grupos: G9 e G36. As imagens Chant 2 e Fall (Fig. 2) eram exibidas em ordem aleatória por 9 segundos para o grupo G9, e 36 segundos para o grupo G36. Estas imagens possuem intensidade de movimento estimada respectivamente em 2,0 e 6,1 pontos, em uma escala de 1 a 7. Ao fim da exposição de cada imagem, uma tela branca aparecia e os participantes deveriam pressionar uma tecla para iniciar a estimar o tempo que a imagem ficou exibida, e pressionar de novo para terminar a estimativa. Depois, os participantes preenchiam um questionário com escalas de 1 a 7 sobre o nível de movimento, agradabilidade e complexidade das imagens.

Figura 2: Chant 2 estimada com 2.0 pontos de movimento (Imagem: adaptada de Bridget Riley por Nather, Mecca & Bueno, 2013). Fall estimada com 6.1 pontos de movimento (Imagem: Bridget Riley)

 

Resultados

As figuras 3 e 4 mostram as médias de estimativas de tempo para cada imagem, nos grupos G9 e G36, respectivamente. As análises estatísticas apontaram que não houve diferença significativa entre as médias de estimativas das duas imagens no grupo G9. Já no grupo G36, a imagem Chant 2 foi estimada como exibida por menos tempo que o real, de 36 segundos, bem como por menos tempo do que a imagem Fall.

Figura 3: Médias dos tempos estimados para cada imagem no grupo G9. Não foi encontrada diferença significativa. Imagem: Nather, Mecca & Bueno, 2013

Figura 4: Médias dos tempos estimados para cada imagem no grupo G36. A imagem Chant 2 foi estimada como tendo exibição mais curta que Fall e mais curta que o tempo real de 36s de exposição. Imagem: Nather, Mecca & Bueno, 2013

 

Discussão & Conclusões

Assim como o movimento real e suas representações estáticas de movimento, imagens que causam ilusões ópticas de movimento são capazes de causar distorções na percepção do tempo, ao menos se exibidas por período longo o bastante. Diferentes modelos tentam explicar o que causa tais distorções da percepção temporal. Alguns se baseiam na quantidade de informação representada em imagens com mais movimento, que seriam “estocadas” no cérebro causando a impressão de mais tempo decorrido; outros se voltam para a quantidade de atenção dada a um estímulo. Por exemplo, neste estudo, a imagem com menos movimento (Chant 2) foi também considerada mais simples e menos interessante do que a imagem com mais movimento (Fall).

O presente estudo concluiu que os diferentes modelos sobre percepção do tempo não são necessariamente excludentes, de forma que uma combinação deles pode ser necessária para explicar este fenômeno. Concluiu-se também que qualquer que seja a alteração provocada pelas imagens de ilusão óptica de movimento sobre a percepção do tempo, elas são mais sutis do que aquelas causadas por movimento real ou representações de movimento, necessitando haver mais tempo de exposição para causarem uma diferença relevante na percepção do tempo.

 

Pesquisa ao seu alcance: Fernando F. Mecca

sobre o autor

Artigo original

O texto apresentado é uma adaptação do artigo “Motion illusions in Optical Art presented for long durations are temporally distorted”, publicado pela revista Perception em janeiro de 2013, de autoria de Nather, F. C.; Mecca, F. F. e Bueno, J. L. O. O artigo original pode ser acessado em http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1068/p7505.

(Editoração: Priscila Rothier, Gabriela Duarte e Caio Oliveira) 

 

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