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Neuropsicologia: práticas e benefícios - Ilha do Conhecimento
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Neuropsicologia: práticas e benefícios

Como funciona a relação da Neurologia com a Psicologia?

Destaques:
– A correlação entre cérebro, mente e corpo aparece na literatura pelo menos desde o século XVII;
– A Neuropsicologia busca compreender como o funcionamento cerebral é refletido no comportamento humano;
– Podemos trabalhar com reabilitação de funções cognitivas assim como trabalhamos com reabilitação motora.

A Neuropsicologia é uma área de atuação da Psicologia, voltada para o estudo das relações entre o funcionamento do cérebro e suas consequências no comportamento. No século XVII, René Descartes (1596-1650), influente filósofo, físico e matemático francês, sugeriu uma divisão entre corpo e mente, propondo que o cérebro seria o ponto de encontro entre estas duas unidades. É interessante notar que mesmo com essa visão dualista (com corpo e mente separados), este pensador entendia que o cérebro tem importância no comando do que nossos corpos fazem. Entretanto, mais tarde estudiosos passaram a compreender que toda capacidade mental, incluindo as funções da mente, apresenta um correlato neural, mediada por estímulos elétricos.

Um dos grandes pioneiros nesta área, considerado pai da Neuropsicologia, foi Alexander R. Luria (1902-1977). Luria procurava entender a relação entre as bases biológicas do corpo humano e o funcionamento psicológico, e a partir disso desenvolveu o termo “plasticidade cerebral”; interpretou que as funções cognitivas (ou funções corticais superiores) seriam estabelecidas ao longo do desenvolvimento humano, considerando que o ambiente teria influência sobre o sistema nervoso; e estudou acreditando em uma “pluripotencialidade” cerebral, ou seja, que uma determinada área do cérebro pode estar associada a diversos comportamentos. 

Seguindo a lógica de Luria, a Neuropsicologia como ciência busca compreender e estudar como o funcionamento cerebral se reflete no comportamento humano. Este estudo se dá através de três práticas: a Avaliação Neuropsicológica, a Estimulação Cognitiva e a Reabilitação Cognitiva. 

A Avaliação Neuropsicológica se trata de uma investigação clínica que busca avaliar, compreender e esclarecer relações entre comportamento, cognição e possíveis disfunções neurais, que podem ser decorrentes de diversos fatores, como traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais (AVC), demências (como Alzheimer, Parkinson e Corpos de Lewy), abuso de álcool e outras drogas, entre outros. Essa avaliação se dá através de entrevistas iniciais, mais especificamente entrevistas neuropsicológicas minuciosas acerca do desenvolvimento do indivíduo desde a gravidez, aplicação de testes neuropsicológicos, elaboração do Laudo Neuropsicológico e entrevista de devolução ao paciente e responsáveis.  Os testes neuropsicológicos aplicados podem constituir em atividades verbais e não verbais, tanto para adultos quanto para crianças e adolescentes – como por exemplo nas Escalas Wechsler de Inteligência, que abrangem testes em que o paciente é estimulado a fazer contas, explicar o significado de algumas palavras, circular figuras, memorizar números e letras, etc., sendo estas atividades divididas entre verbais e de execução. Trata-se, portanto, da primeira etapa de qualquer acompanhamento dentro da Neuropsicologia, pois a Avaliação Neuropsicológica é a prática que oferece, na conclusão do Laudo, possibilidades de tratamentos, podendo estar inclusas a Estimulação Cognitiva e a Reabilitação Cognitiva.

A Estimulação Cognitiva é entendida como uma prática ampla que engloba várias formas de exposição do indivíduo a diferentes atividades e aspectos ambientais, tendo como resultado a manutenção ou o aprimoramento de seu desempenho cognitivo.  Em casos nos quais sujeitos já nascem com algum tipo de comprometimento cerebral, algumas funções cognitivas podem não ser desenvolvidas dentro do que de espera, levando em consideração os parâmetros do desenvolvimento humano, como aprendizagem, atenção ou linguagem, que já podem ser disfuncionais desde os primeiros anos de vida. Há, também, casos nos quais não existe comprometimento orgânico ou psicopatológico, mas falta estimulação de determinadas áreas do cérebro em alguns contextos, como o contexto social, escolar e, principalmente, familiar (por exemplo, cuidadores que não estimulam ou não ajudam nas tarefas de casa). Tanto no caso do comprometimento cerebral quanto no caso do sujeito que não é estimulado adequadamente, cabe o trabalho da Estimulação Cognitiva, a fim de exercitar as funções corticais superiores necessárias. Com isso, o sujeito tem a possibilidade de manter saudáveis suas funções cognitivas, de modo que sua realidade não seja prejudicada por causa de declínios cognitivos. Portanto, o processo cabe em casos nos quais determinada função ou área do cérebro precisa ser mais exercitada e estimulada.

Por sua vez, a Reabilitação Cognitiva oferece auxílio ou assistência na recuperação cognitiva às pessoas que apresentam disfunções neurocognitivas decorrentes de fatores como acidentes, AVC, demências e abuso de álcool e outras drogas, ou seja, fatores que podem comprometer uma função que antes não estava comprometida. Se trata de uma prática mediadora para a reorganização cerebral, visto que colabora para a reorganização das sinapses neuronais e dos circuitos e vias que se encontram prejudicados e disfuncionais após a lesão. Vale destacar que essa reorganização é um processo lento, mas possibilita que o sujeito lesionado possa reaprender funções cognitivas perdidas em função da lesão, então pequenos progressos devem ser valorizados. É importante salientar que o processo fica mais difícil a depender da gravidade da lesão.  Imagine que um sujeito de 30 anos, sem comprometimento cerebral ao longo do seu desenvolvimento, sem lesões orgânicas, sem a presença de algum tipo de psicopatologia e estimulado adequadamente ao longo da sua vida tenha sofrido um traumatismo craniano, e que este traumatismo tenha sido em áreas frontais do cérebro, responsáveis, de modo geral, pelo controle inibitório, pela atenção, produção da fala e pelas funções executivas (funções cognitivas mais complexas). Após o processo de Avaliação Neuropsicológica, o profissional consegue identificar quais funções foram prejudicadas, encaminhando o paciente para tratamento de Reabilitação Cognitiva. Supondo que as funções prejudicadas tenham sido a atenção e o controle inibitório, o trabalho do Neuropsicólogo com esta prática se voltará para a aplicação de atividades que estimulem estas funções, principalmente, e funções com as quais elas se relacionam.

As práticas da Neuropsicologia possibilitam a compreensão das condições neuropsicológicas de um indivíduo, que ocorre por meio de testagem neuropsicológica, estimulação e reabilitação de funções cognitivas que estejam apresentando caráter disfuncional. O encaminhamento de um sujeito para o profissional da Neuropsicologia pode advir tanto de outros profissionais como da própria família. Sua prática é cabível tanto para casos de lesões orgânicas quanto para casos de psicopatologias, sejam diagnosticadas ou suspeitas.

Colaboração: Rafaela de Souza Rothier Duarte sobre a autora

Fontes consultadas:

Malloy-Diniz, L.; et al (Org.). Neuropsicologia: aplicações clínicas. Editora: Artmed, 2016; 

Agonilha, D. O Que é Plasticidade Cerebral? (Veja);

– Cosenza, R.; Malloy-Diniz, L. Declínio cognitivo, plasticidade cerebral e o papel da estimulação cognitiva na maturidade. In: Malloy-Diniz, L.; Fuentes, D.; Cosenza, R. (Org.). Neuropsicologia do envelhecimento. Editora: Artmed, 2013;

– Costa, D.; et al. Avaliação Neuropsicológica da Criança. Jornal de Pediatria. 2004. (Artigo);

– Malloy-Diniz, L.; et al. Avaliação Neuropsicológica. Editora: Artmed, 2018;

Mograbi, D.; Mograbi, G.; Landeira-Fernandez, J. Aspectos históricos da neuropsicologia e o problema mente-cérebro. In: Fuentes, D.; et al (Org.). Neuropsicologia: teoria e prática. Editora: Artmed, 2014.

(Editoração: Priscila Rothier, Fernando Mecca e Caio Oliveira)

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