Resposta:
Apesar da indicação para pacientes em estado grave no Brasil, não há consenso científico sobre a eficácia dos dois medicamentos no combate ao Sars-Cov-2 e a própria OMS afirma que ainda não existe remédio comprovadamente seguro e eficaz contra a Covid-19.
Entenda:
A cloroquina e a hidroxicloroquina são dois compostos análogos usados atualmente no tratamento de malária, lúpus e algumas doenças reumáticas. Seu uso no tratamento da Covid-19 ganhou bastante visibilidade após publicação de duas pesquisas realizadas na China e na França. Na pesquisa do grupo chinês, publicada na revista Nature em fevereiro, a cloroquina se mostrou promissora no combate ao vírus in vitro, ou seja, sem testes de eficácia em humanos. Já na pesquisa feita na França, coordenada pelo médico Didier Raoult e publicada no início de março, a hidroxicloroquina foi usada sozinha em 14 pacientes ou em associação com o antibiótico azitromicina em outros seis pacientes.
Comunidade médica alerta sobre os riscos da automedicação e do uso de medicamentos sem recomendação oficial. Imagem: Pixabay.
Embora os resultados da equipe francesa tenham se mostrado promissores em humanos, a comunidade científica internacional levantou críticas importantes em relação ao trabalho, reconhecidas pelo próprio grupo de Raoult. A primeira delas é que o número de pacientes submetidos ao teste do medicamento no estudo é muito baixo e insuficiente para uma conclusão segura quanto ao uso generalizado em diferentes grupos populacionais. Outra crítica importante é que não houve um grupo controle verdadeiro, ou seja, um grupo formado por pessoas com mesma idade e quadro de saúde daquelas que receberam o medicamento, mas que não foram submetidas à combinação de hidroxicloroquina e azitromicina. O grupo controle é essencial em trabalhos científicos desse tipo, pois serve como parâmetro de comparação do quanto o efeito observado em uma pesquisa se deve mesmo ao fator de interesse (no caso, os medicamentos), e não a fatores como idade, estado da doença e outros. Além disso, os pesquisadores chamam a atenção para a perda de pacientes ao longo do estudo. Inicialmente, a pesquisa contava com 26 pessoas submetidas à medicação. No entanto, três pessoas foram excluídas porque evoluíram para quadros muito graves e foram encaminhadas à UTI, um paciente morreu e dois abandonaram o tratamento.
Os resultados promissores observados pelo grupo francês não tiveram confirmação em outras pesquisas. É o caso do estudo feito na China com 30 pacientes, nos quais 15 receberam tratamento com hidroxicloroquina e 15 não tomaram essa medicação. Após uma semana de tratamento, 13 pacientes do grupo da hidroxicloroquina testaram negativo para o vírus contra 14 do grupo que não fez uso desse remédio.
Testes com medicamentos para combater a Covid-19 estão em andamento em mais de 70 países. Imagem: Getty Images/BBC.
Além da falta de comprovação científica, a polêmica sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina passa pelos riscos dos dois medicamentos. A hidroxicloroquina é considerada uma variante mais segura da cloroquina, mas não deixa de oferecer uma série de potenciais efeitos colaterais, principalmente relacionados ao funcionamento da visão, do fígado e do coração. Segundo a Agência Nacional de Segurança do Medicamento e Produtos de Saúde da França, cerca de 30 pessoas com sintomas de Covid-19 fizeram uso da medicação e apresentaram complicações cardíacas graves. A preocupação aumenta quando se considera que os grupos de risco da doença, como os idosos, já são pessoas que geralmente apresentam sistemas cardiovasculares fragilizados.
Desde março, o programa europeu Discovery está testando quatro tratamentos em 3.200 pacientes, com previsão de publicação dos resultados nas próximas semanas. Os testes incluem a hidroxicloroquina e três antivirais tipicamente utilizados contra os vírus Ebola e HIV. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também monitora outros estudos de tratamento contra a Covid-19 em 74 países, inclusive no Brasil.
News: Luanne Caires
Fontes:
Uso de cloroquina no tratamento da Covid-19 divide opiniões pelo mundo, e cientistas pedem cautela (O Globo)
O que a ciência sabe sobre a cloroquina. E o que falta saber (Nexo Jornal)
Coronavírus: cloroquina será dada a casos graves de Covid-19. Faz sentido? (Saúde – Abril)
Coronavírus: o que a Ciência diz sobre o uso da cloroquina contra a covid-19 (BBC Brasil)
https://www.bbc.com/portuguese/geral-52067244
Coronavírus: o que se sabe sobre a cloroquina, droga que já está em uso no tratamento contra a Covid-19 (O Globo)
Uso da cloroquina contra o coronavírus é alvo de estudos e testes; entenda riscos (G1)
Coronavírus: o que apontam os estudos com cloroquina e outros possíveis remédios (BBC Brasil)
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52226832
(Editoração: André Pessoni)