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Instituto Butantan pede autorização à ANVISA para testar soro anti-Covid em humanos

O soro anti-Covid passa por aprovação da ANVISA para testes em humanos e representa uma esperança no tratamento da Covid-19 para amenizar os sintomas da doença.

 

Chegamos ao marco de mais de 270 mil mortos pela Covid-19 no Brasil, sendo atualmente mais de 2300 mortes por dia. Nesse cenário, somada à vacinação lenta, o Instituto Butantan apresenta mais uma forma de combate ao novo coronavírus. Na última sexta-feira (05/03), o Instituto submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) um pedido para aprovação de um potencial tratamento contra a Covid-19: o soro anti-Covid.

O soro anti-Covid foi produzido a partir do plasma sanguíneo de cavalos infectados com o Sars-Cov-2 inativado. Ou seja, o vírus responsável por provocar a Covid-19 é injetado nos animais, mas não é capaz de gerar a doença. Uma vez contaminados, os cavalos geram uma resposta imune contra o vírus. O plasma dos animais é coletado e purificado até que só ficam os anticorpos contra o Sars-Cov-2. Os anticorpos são finalmente envasados, sendo esse o conteúdo do soro anti-Covid. A seleção do cavalo como animal modelo para produção do soro se deve à grande capacidade desses animais de produzir proteínas de defesa: são capazes de gerar anticorpos 50 vezes mais concentrados que os humanos. O soro já passou por testes em animais e teve um resultado satisfatório. Camundongos foram infectados com o vírus e após dois dias de infecção, quando o animal apresentava sintomas da doença, o soro foi aplicado. Foi observada diminuição da carga viral e da resposta inflamatória, além de uma ótima preservação pulmonar.

 

A imagem mostra uma sala branca, com divisórias de metal, com cavalos lado a lado.
Cavalos usados para produção do soro anti-Covid. Fonte: Instituto Butantan/Reprodução G1.

 

Chegando ao final dos testes em animais e tendo resultados positivos, o Instituto Butantan solicita à ANVISA permissão para início dos testes clínicos, ou seja, os testes em seres humanos. No entanto, até a última quarta-feira o Instituto Butantan não havia enviado o Dossiê Específico de Ensaio Clinico (DEEC), que é um documento central para pesquisa clínica (ou seja, para pesquisas com seres humanos), o qual reúne informações específicas sobre o protocolo de estudo clínico a ser realizado. Sendo assim, a Agência ainda espera esse documento para prosseguir com o parecer de aprovação ou não para testes do soro anti-Covid em humanos. Com a aprovação da ANVISA, o Instituto Butantan poderá começar a realizar os testes clínicos. 

Os testes terão 3 fases. Na primeira etapa um pequeno número de pacientes receberá o soro a fim de analisar a segurança do tratamento e também determinar sua dosagem. Tendo resultados positivos na primeira fase de testes, o soro irá passar pelas análises da fase 2 e 3. Estas fases visam analisar a eficácia do soro contra a Covid-19. Ana Marisa Chudzinski, Diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do instituto paulista, afirma que o objetivo é tratar indivíduos infectados pelo coronavírus e evitar que estas pessoas desenvolvam um quadro grave da doença. O Instituto Butantan conta com 3 mil doses prontas para a fase de testes e mais 3 mil doses aguardando envasamento.

 

Esquema do vírus com suas proteínas (Spike, N e E), membrana e RNA interno.
Imagem esquemática do Sars-Cov-2 e suas proteínas. Fonte: Astuti e Ysrafil (2020).

 

O soro desenvolvido pelo Instituto Butantan não é o único no país, pesquisadores do Instituto Vital Brasil, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) produziram um soro anti-Covid utilizando apenas a proteína Spike do Sars-Cov-2 para gerar anticorpos nos cavalos. Argentina, México e Costa Rica são exemplos de países que também fazem pesquisas com um soro anti-Covid. A Argentina começou a aplicação do soro desenvolvido no país em humanos ainda em janeiro deste ano e foi observado que a necessidade de internação em UTI caiu 24%. Além disso, a mortalidade caiu 45%. A tecnologia usada para produção do soro anti-Covid argentino é a mesma utilizada no Rio de Janeiro.

Uma vez que os pesquisadores do Instituto Butantan usaram o vírus inativado, haverá no soro anticorpos para todas as proteínas do vírus, além da proteína Spike. Chudzinski ressaltou que, apesar da importância da Spike para infecção viral, não é só uma proteína que é responsável por tudo. Assim, os cientistas se animam com estes resultados, pois, caso a eficácia em humanos seja comprovada, este será o primeiro tratamento para Covid-19 com base científica. 

Saiba mais sobre a diferença entre soro e vacina neste link.

 

News: Iasmin Taveira

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site G1, intitulada “Soro anti-Covid: entenda como anticorpos de cavalos podem ajudar em novo tratamento contra o coronavírus”, publicada em 06/03/2021.
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/03/06/soro-anti-covid-entenda-como-anticorpos-de-cavalos-podem-ajudar-em-novo-tratamento-contra-o-coronavirus.ghtml

Matéria no site Super Interessante, intitulada “Como funciona o soro para Covid-19 testado pelo Instituto Butantan”, publicada em 09/03/2021.
https://super.abril.com.br/saude/como-funciona-o-soro-para-covid-19-testado-pelo-instituto-butantan/

Matéria no site CNN Brasil, intitulada “Soro anti-Covid, do Instituto Butantan, chega à fase final de testes em animais”, publicada em 06/03/2021.
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/03/06/soro-anti-covid-do-instituto-butantan-chega-a-fase-final-de-testes-em-animais

Matéria no site ig, intitulada “Anvisa diz que ainda não recebeu dados do Butantan para aprovar soro anticovid”, publicada em 10/03/2021.
https://saude.ig.com.br/2021-03-10/anvisa-diz-que-ainda-nao-recebeu-dados-do-butantan-para-aprovar-soro-anticovid.html

 

(Editoração: André Pessoni)

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