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Leite materno pode ajudar a proteger bebês contra a COVID-19

Anticorpos presentes no leite materno de mulheres imunizadas e outras substâncias são importantes para prevenção de bebês contra a COVID-19, tornando a amamentação indispensável. 

 

Em um artigo de revisão publicado em fevereiro de 2021 na revista Physiological Reports, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) discutem a importância da amamentação na prevenção da COVID-19 em bebês. O objetivo do estudo foi investigar por que as crianças são menos acometidas pelo SARS-CoV-2 e se a amamentação poderia ter um papel protetor contra o vírus. A pesquisa contou com a análise de mais de 100 trabalhos científicos que mostram a importância biológica dos diversos componentes do leite humano. Nesta revisão liderada pela professora Patrícia Gama, o leite materno é apontado como essencial para proteger recém-nascidos de distúrbios gastrointestinais associados à doença, além de seus outros sintomas.

O leite materno é rico em componentes proteicos (caseínas, proteínas do soro do leite, imunoglobulina A – IgA, aminoácidos), íons, microrganismos e outras moléculas que estão envolvidas em diferentes atividades biológicas, atuando para induzir a maturação intestinal e o desenvolvimento do sistema imunológico.  Assim, os pesquisadores ressaltam que a amamentação está associada à baixa incidência de inflamação gastrointestinal e à diminuição das doenças respiratórias no período pós-natal, além de ser essencial para proteger os bebês contra doenças infecciosas.  Essas moléculas podem agir como barreiras físicas, biológicas e mecânicas.

 

Importância da amamentação e seu potencial terapêutico contra SARS‐CoV‐2. Adaptado de: Costa, A. V.; Goes, C. P.; Gama, P., 2021.

 

O vírus que causa a COVID-19 se liga à enzima conversora de angiotensina II (ACE2) na membrana celular, a qual  atua como receptor para o vírus e permite o desenvolvimento da doença. A ACE2 está presente em diferentes tipos de células, que incluem células ciliadas nos pulmões e enterócitos no intestino. Assim, desordens respiratórias e intestinais são observadas em indivíduos acometidos pela COVID-19, caracterizando respostas inflamatórias nesses sistemas. 

Sabendo disso, os autores buscaram entender a relação entre a infecção pelo SARS‐CoV‐2 e as implicações da pausa da amamentação. Para isso, compararam efeitos do novo coronavírus com os efeitos de outras doenças (pneumonia e outras doenças virais), analisando as consequências no trato gastrointestinal e respiratório de bebês e as respostas intestinais à interrupção da amamentação, além de alterações imunológicas. Foi observada uma resposta semelhante nas diferentes infecções, indicando alta produção de moléculas pró-inflamatórias tanto em infecções causadas pelo SARS-CoV-2 quanto por outras doenças infecciosas. Com base nesses dados as pesquisadoras concluíram que tanto a COVID-19 quanto a interrupção da amamentação podem contribuir para a inflamação intestinal. Por outro lado, a manutenção da amamentação pode reduzir a resposta inflamatória ao SARS-CoV-2 e outras infecções.

Muitos estudos já haviam demonstrado a presença de anticorpos no leite materno, tanto em leite de mães previamente contaminadas pelo SARS-CoV-2, quanto daquelas imunizadas através da vacinação. As pesquisadoras explicam que esses anticorpos eram passados aos bebês e podem ser mantidos por até 7 meses, conferindo alguma prevenção contra a COVID-19 ou ao menos minimizar os sintomas. Indo um pouco além do que já vinha sendo discutido pela comunidade científica a respeito da importância da amamentação devido a presença de anticorpos específicos contra COVID-19, esse estudo mostra que os vários componentes do leite têm funções protetivas, tornando a manutenção da amamentação fundamental durante a pandemia.

 

Mulher amamentando um bebê em seu colo.
Amamentação. Fonte: Ministério da Saúde

 

Em agosto de 2020 o Ministério da Saúde lançou a campanha “Apoie a amamentação: proteger o futuro é um papel de todos”. E orientou a manutenção da amamentação durante a pandemia da COVID-19 mesmo com a confirmação de contaminação de mães em período de amamentação. Essa campanha reforçou a importância do aleitamento materno por reduzir em até 13% a mortalidade infantil devido alergias, infecções, diarreia, doenças respiratórias, otites, obesidade e diabetes tipo 2.

 

News: Iasmin Taveira

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Breastfeeding importance and its therapeutic potential against SARS‐CoV‐2”, publicado na revista Physiological Reports em 2021, de autoria de Costa e colaboradores.
https://physoc.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.14814/phy2.14744

Matéria no site CNN Brasil, intitulada “USP: Mães passam anticorpos contra Covid-19 para bebês pelo leite materno”, publicada em 18/04/2021.
https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/04/18/pesquisa-leite-materno-passa-anticorpo-contra-covid-19-para-bebes

Matéria no site ICB – USP, intitulada “Amamentação pode ajudar a prevenir Covid-19 em bebês”, publicada em 09/04/2021.
https://ww3.icb.usp.br/noticia-amamentacao-pode-ajudar-a-prevenir-covid-19-em-bebes/

Matéria no site do Ministério da Saúde, publicada em 04/08/2020.
https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-vigilancia-sanitaria/2020/08/ministerio-da-saude-lanca-campanha-de-incentivo-a-amamentacao

 

(Editoração: André Pessoni)

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