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A reprodução assistida após os 40 anos de Louise Brown

No último dia 25 de julho foram comemorados os 40 anos do nascimento Louise Brown. Esse aniversário pode parecer uma data comum, mas é um marco que revolucionou a história da medicina. Louise, nascida em uma cidadezinha do interior da Inglaterra, foi o primeiro “bebê de proveta” do mundo. Após nove anos e 50 tentativas falhas, os pesquisadores Bob Edwards e Patrick Steptoe finalmente conseguiram sucesso na inseminação artificial e implantação do embrião no útero, dando início a utilização de técnicas de reprodução assistida (TRA).

Louise Joy Brown, o primeiro bebê de proveta do mundo. Imagem: https://www.mirror.co.uk

O nascimento de Louise causou grande alvoroço na mídia mundial e os debates giravam em torno da ética e da legalidade da técnica de fertilização in vitro utilizada pelos pesquisadores. Também foram levantadas questões a respeito da saúde e da capacidade fértil de bebês nascidos através de reprodução assistida. Algumas dessas perguntas puderam ser respondidas quando, em 1999, a irmã de Louise, Natalie, que também foi gerada pela técnica, deu a luz ao seu primeiro filho, concebido por vias naturais. Em 2006, Louise Brown também deu à luz o seu primeiro filho, acabando com as dúvidas sobre a reprodução dos bebês gerados pela fertilização in vitro.

A notícia do nascimento de Louise Brown foi notícia em jornais e revistas do mundo todo. Imagem: https://www.ivfbabble.com

Na América Latina, o primeiro bebê gerado por fertilização in vitro foi a brasileira Anna Paula Caldeira, nascida em 1984 após o uso de oócitos doados. Atualmente, as TRA são procuradas por casais com dificuldade de engravidar, tais como: mulheres com doenças nos ovários, tubas uterinas ou no útero, homens com baixa qualidade ou quantidade de espermatozoides, casais homoafetivos ou sorodiscordantes, casais com histórico de doenças genéticas na família, entre outros.

A reprodução assistida engloba o conjunto de técnicas utilizadas pela medicina para auxiliar pacientes a terem filhos. Ela se baseia na manipulação de pelo menos um dos gametas (espermatozoides e/ou oócitos) e dos meios de fecundação, preparando as condições ideais para que o processo de fertilização ocorra, com posterior implantação do embrião no útero. As técnicas mais utilizadas atualmente são:

  • Relação Sexual Programada – Coito Programado

A mulher faz um tratamento hormonal para estimular o desenvolvimento dos folículos, que contêm um oócitos em seu interior. Quando ele atinge o tamanho ideal, a mulher utiliza outro hormônio para induzir a liberação do oócito maduro (ovulação). Todo o tratamento é acompanhado por ultrassonografia para acompanhar o crescimento dos folículos. Após a ovulação ser induzida, o casal deve manter relações sexuais próximas ao momento da ovulação para que ocorra a fecundação natural.

  • Inseminação Intrauterina (IIU) Artificial

Nessa técnica, a mulher também tem seus ovários estimulados com hormônios e os espermatozoides são capacitados no laboratório.  O sêmen é processado para separar o líquido seminal dos espermatozoides. Os espermatozoides capacitados são então introduzidos pela vagina e depositados no interior da cavidade uterina. Dessa forma, os espermatozoides conseguem chegar às tubas uterinas, encontrar o oócito e realizar a fertilização. Essa técnica é indicada para casais que possuem alguma obstrução no trajeto dos espermatozoides até as tubas uterinas. Para que ela seja possível, pelo menos uma das trompas uterinas deve estar saudável e os espermatozoides devem ter capacidade de fertilização.

  • Fertilização in vitro (FIV)

Nessa técnica também é feita a estimulação hormonal dos oócitos nos ovários. Quando estes atingem o tamanho ideal, é feita a coleta dos oócitos no interior dos folículos. O parceiro faz a coleta do sêmen, que é processado em laboratório. Aproximadamente 40.000 espermatozoides são colocados juntos a cada óvulo para que ocorra a fertilização, no laboratório. Os gametas ficam em placas, dentro de estufas, com temperatura e nível de gases controlados, de forma a ficar o mais parecido possível com o interior do corpo da mulher. Os embriões formados são selecionados e são então transferidos para o útero, para que seu crescimento continue de forma natural. Como nessa técnica não há a fertilização dentro do sistema reprodutor feminino, pode ser realizada em mulheres com obstrução das tubas uterinas, desde que haja boa qualidade dos espermatozoides e do útero.

  • Injeção Intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI)

A ICSI difere-se da FIV apenas na etapa final: ao invés dos espermatozoides serem colocados juntos com os oócitos, eles são injetados diretamente dentro do oócito. Com o auxílio de micromanipuladores e de uma agulha, o espermatozoide é colocado diretamente no interior do oócito. O embrião é inicialmente cultivado em laboratório e então implantado no útero para continuar seu desenvolvimento. Essa técnica é indicada para casos em que o parceiro possuí qualidade seminal muito ruim, porém atualmente é usada para quase todos os casos de infertilidade no Brasil.

Duas das principais técnicas de reprodução assistida: Fertilização in vitro (FIV) e Injeção Intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI). Imagem: https://www.invitra.com

Com essas técnicas, é possível também a geração de bebês a partir da doação de oócitos ou espermatozoides, quando o casal não produz algum dos gametas, e do útero de substituição (“barriga de aluguel”), quando a mulher não possui o útero saudável para gestar um bebê. Além disso, testes genéticos podem ser realizados nos embriões para o diagnóstico de doenças genéticas, com seleção dos embriões saudáveis para a implantação no útero materno. A reprodução assistida também se tornou a opção para a preservação da fertilidade de pessoas que ser submetidas a tratamentos que podem levar à infertilidade, como a quimioterapia e radioterapia, ou a alguma cirurgia que pode levar à retirada ou perda da função dos ovários e testículos. Nesses casos, os gametas são congelados e armazenados até que o paciente acabe seu tratamento e queira ter filhos.

Em 2010, Edwards e Steptoe receberam o prêmio Nobel de medicina pelo desenvolvimento da técnica de fertilização in vitro.  Desde o nascimento dos primeiros “bebês de proveta”, as TRA foram aprimoradas e se difundiram pelo mundo, com o marco de mais de cinco milhões de bebês nascidos com auxílio dos procedimentos. Assim, a ciência está constantemente por trás de melhorias nas técnicas de reprodução assistida, que permite cada vez mais que casais alcancem seu sonho de ter um filho.

 

Ciência et al: Viviane Paiva Santana

sobre a autora

Fontes consultadas:

Steptoe, P.C. & Edwards, R.G. Birth after the reimplantation of a human embryo. Lancet. 1978; 2,366.

http://www.procriar.com.br/blog/2015/10/23/conheca-a-historia-de-louise-brown-o-primeiro-bebe-gerado-pela-fertilizacao-in-vitro/

https://origen.com.br/reproducao-assistida-conheca-as-5-tecnicas-mais-utilizadas/

(Editoração: Eduardo Borges, Viviane Santana e Caio Oliveira)

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