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Pesquisadores descobriram que a transição para a maternidade afeta quase todas as partes do cérebro
Durante a gravidez, o corpo das mulheres passa por diversas mudanças hormonais e fisiológicas. Apesar disso ser bem estabelecido, as mudanças neurais que ocorrem durante a gestação não são bem estudadas em humanos. Diante disso, pesquisadores da Califórnia (EUA) mapearam mudanças neuroanatômicas em uma mulher desde a pré-concepção até 2 anos após o parto, usando imagens de precisão. Embora o estudo analise apenas uma pessoa, ele dá início a um grande projeto de pesquisa internacional que visa escanear os cérebros de centenas de mulheres, e pode um dia fornecer pistas sobre distúrbios como a depressão pós-parto. Os resultados foram publicados na revista Nature Neuroscience em setembro de 2024.
Para realização do estudo, os pesquisadores conduziram análises com imagens de precisão da gravidez de uma mulher saudável de 38 anos. A mulher, também neurocientista e pesquisadora envolvida no artigo, Liz Chrastil, teve a oportunidade única de ver como seu cérebro mudou ao longo da gravidez e compartilhar o que aprendeu nesse novo estudo, que oferece o primeiro mapa detalhado do cérebro de uma mulher durante a gestação.
Para isso, ela passou por 26 exames de ressonância magnética (RM) e punção venosa começando 3 semanas antes da concepção, feita por fertilização in vitro, até 2 anos após o parto. Foram observadas reduções generalizadas no cérebro da mulher, ocorrendo em sintonia com o avanço da semana gestacional e o aumento dramático na produção de hormônios sexuais.
“Foi uma jornada muito longa”, disse Chrastil em entrevista. “Fizemos 26 exames antes, durante e depois da gravidez” e encontramos “algumas coisas realmente notáveis”. Foi observado que 80% das regiões estudadas tiveram reduções no volume de massa cinzenta (parte do sistema nervoso central que é composta por células nervosas). Isso é uma média de cerca de 4% do volume cerebral (um evento similar acontece, por exemplo, durante a puberdade).
Os pesquisadores explicam que tal diminuição da massa cinzenta cerebral provavelmente reflete o ajuste fino de redes de células nervosas que estão conectadas umas as outras, compondo os chamados circuitos neurais. Dessa forma, o cérebro se prepara para uma nova fase da vida. “Estudos anteriores haviam tirado fotos do cérebro antes e depois da gravidez, mas nunca tínhamos testemunhado o cérebro no meio dessa metamorfose”, disse Emily Jacobs, da Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara e responsável pelo estudo.
Os autores concluem que os dados gerados na pesquisa servem como um mapa abrangente do cérebro humano durante a gestação, fornecendo um recurso de acesso aberto para a comunidade de imagens cerebrais explorar e entender melhor o cérebro materno. “Há muito sobre a neurobiologia da gravidez que ainda não entendemos, e não é porque as mulheres são muito complicadas. Não é porque a gravidez é um nó górdio”, disse Jacobs. “É um subproduto do fato de que as ciências biomédicas historicamente ignoraram a saúde das mulheres.”
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Referências:
Artigo científico intitulado “Neuroanatomical changes observed over the course of a human pregnancy”, publicado na revista Nature em 2024, de autoria de Pritschet e colaboradores. https://www.nature.com/articles/s41593-024-01741-0#Abs1
Matéria no site G1, intitulada “Pesquisa acompanha gestação e descobre que cérebro de mães é alterado de várias maneiras”, publicada em 17/09/2024. https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2024/09/17/pesquisa-acompanha-gestacao-e-descobre-que-cerebro-das-mulheres-e-alterado-de-varias-maneiras.ghtml