Não estamos nos referindo ao ritmo carnavalesco, mas sim à nova molécula desenvolvida por pesquisadores do Brasil e Estados Unidos, que apresentou resultados promissores na contenção do avanço da doença cardiovascular. A insuficiência cardíaca é uma das maiores causas de mortalidade no mundo que pode se manifestar em decorrência de um infarto, comprometendo a distribuição de sangue para parte do coração e, consequentemente, sua capacidade de bombear sangue para o resto do corpo. As proteínas quinase são alvos promissores para o tratamento dessas doenças, pois controlam mecanismos envolvidos na sobrevivência e função das células cardíacas, além de frequentemente estarem envolvidas com a regulação da produção de energia na célula. Os pesquisadores detectaram que um tipo de proteína quinase, Kinase Beta 2 (βIIPKC), promove a falha cardíaca quando interage com a Mitofiusina 1 (Mfn1), localizada nas mitocôndrias. A interação de βIIPKC-Mfn1 resulta na redução de tamanho seguida pela morte das mitocôndrias, que compromete a produção de energia e, consequentemente, a função bombeadora do coração. A molécula SAMbA foi desenvolvida justamente para evitar a interação de βIIPKC-Mfn1 e conter a progressão da insuficiência cardíaca. A proteína SAMbA, uma das seis produzidas em laboratório, foi a que melhor impediu a progressão de insuficiência cardíaca in vitro de maneira seletiva, sem afetar a interação entre outras moléculas além de βIIPKC-Mfn1. Posteriormente, foi realizado um experimento com camundongos vítimas de infarto, e foi verificado que o tratamento com SAMbA não somente conteve a doença, como também beneficiou o desempenho cardíaco. O trabalho fornece resultados empolgantes no entendimento dos mecanismos moleculares da insuficiência cardíaca e pode fornecer novas estratégias para o tratamento da doença.
Figura: Modelo proposto para a atuação de SAMbA. Em um coração em estado de insuficiência, a proteína quinase βIIPKC se liga à Mfn1 nas paredes mitocondriais, resultando na redução do tamanho das mitocôndrias, que compromete diretamente a produção de energia e implica na morte celular. O tratamento com SAMbA impede a interação βIIPKC-Mfn1, e ainda reestabelece a forma e função das mitocôndrias, aprimorando a capacidade de contração do coração com insuficiência cardíaca. Imagem: modificada de Ferreira et al., 2019.
Tweet-science: Priscila S. Rothier
Artigo original: Revista Nature Communications (Jan/2019) # A selective inhibitor of mitofusin 1-βIIPKC association improves heart failure outcome in rats. Autores: J. Ferreira, J. C. Campos, N. Qvit e colaboradores.
(Editoração: Gabriel Ferreira, Fernando Mecca, André Pessoni e Caio Oliveira)