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A depressão de inverno

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Transtorno Afetivo Sazonal: Como ele afeta o humor?

DESTAQUES:
• O Transtorno Afetivo Sazonal é uma combinação de distúrbios biológicos, sendo o principal sintoma o humor depressivo que acompanha as estações do ano;
• Geralmente ocorre no final de outono e durante o inverno tendo uma remissão com a chegada da primavera ou do verão;
• Dentre os possíveis tratamento estão: Terapia de Luz, Terapia farmacológica e Terapia Cognitiva Comportamental, além da própria exposição a luz natural do dia.

É normal sentir-se sonolento ou decaído nos primeiros dias de mudança de estação, principalmente quando começa o inverno. Contudo, se estes e outros sintomas permanecem, é possível estarmos diante de um Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) ou Depressão Sazonal ou ainda, como é popularmente conhecida, a “depressão de inverno”. Percorremos um longo caminho para a compreensão dos fatores envolvidos no desencadeamento do TAS, que foi descrito pela primeira vez em 1983.

Mas o que de fato é o TAS? Como identificar?  É um transtorno de humor considerado como um subtipo ou qualificador de transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar do humor de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais.  Portanto, é caracterizado por uma combinação de distúrbios biológicos, além do humor depressivo, acompanhando um padrão sazonal.

Geralmente esse transtorno ocorre no final de outono e durante o inverno, tendo uma remissão com a chegada da primavera ou do verão, conforme o aumento da temperatura e exposição à luz natural. Em suma, o TAS se diferencia da depressão não sazonal na presença de uma relação progressiva regular entre o início da depressão e a época do ano; consequentemente há a diminuição total de sintomas depressivos em determinada época do ano.

depressão
Figura 1. Banhos de luz estão entre os tratamentos mais importantes contra o TAS. Imagem: https://www.healthline.com/health/type-2-diabetes/depression

As manifestações clínicas no TAS, além do humor deprimido, incluem os sintomas de irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, cansaço excessivo, muito sono, aumento de apetite e redução da libido. Alguns dos possíveis fatores de risco incluem histórico familiar prévio de doenças psicológicas, ser do sexo feminino (devido as condições prévias de alteração hormonal) e idade adulta jovem entre 18 a 30 anos de idade.

O TAS afeta cerca de 6% da população geral dos Estados Unidos da América, sendo mais prevalente em altas latitudes, que recebem menos horas de luz solar durante o inverno. Como há mais territórios de grande latitude habitados no hemisfério norte, o TAS é mais prevalente nessas regiões.  Isso ocorre especialmente nos meses de outono e inverno. Um exemplo dessa prevalência foi o estudo que comparou a relação entre TAS ou sazonalidade de humor e qualidade do ciclo sono/vigília em adolescentes italianos e indianos.

Os resultados mostraram que há maior sazonalidade de humor em italianos do que em indianos. Os autores atribuíram tal fato à cidade italiana estudada possuir maior latitude com relação à cidade indiana. Como conclusão, o TAS foi o único preditor significativo de boa/má qualidade de vigília, enquanto não atingiu nível significativo em relação à boa/má qualidade de sono. Desse modo, os resultados são indícios de uma possível influência do TAS na qualidade da vigília, mas mais estudos são necessários para confirmá-los

Ao contrário do que é relatado na literatura internacional – em que a sazonalidade dos sintomas/comportamentos depressivos segue sendo pesquisada empiricamente – a literatura brasileira é menos vasta. Um dos poucos estudos realizados no Brasil sobre a sazonalidade de distúrbios depressivos abordou a prevalência de doença afetiva sazonal em estudantes de medicina de Porto Alegre e confirmou a presença deste tipo de distúrbio na população que coincidia com critérios diagnósticos para depressão. De modo geral, existem poucos estudos que abordem este tipo específico de doença afetiva, especialmente no Rio Grande do Sul, o que pode indicar um campo fértil e útil de estudos.

O diagnóstico de TAS depende dos Critérios de Diagnóstico de Pesquisa validados para depressão maior. Estes critérios são: uma história de depressão preenchendo os Critérios de Diagnóstico de Pesquisa para transtorno afetivo de depressão maior; um histórico de no mínimo dois anos de remissão dos episódios depressivos de outono/inverno na primavera ou no verão e, por fim, a destituição de outro transtorno psiquiátrico maior ou abstração psicossocial para as mudanças de humor sazonais.

 

O TAS e qualidade de vida 

Sabendo-se que o TAS pode implicar prejuízo em termos de produtividade na rotina e que é uma condição até previsível de acontecer, caracteriza-se como passível de prevenção e controle.

Dentre as possibilidades de tratamento estão desde a Fototerapia, Terapia Farmacológica, Terapia Cognitiva Comportamental (Psicoterapia), além da própria exposição à luz natural do dia. Vale ressaltar que esta última, por sua vez, é bem aceita e indicada em casos de sintomas leves, na qual a maioria das pessoas apresenta melhora clínica em cerca de duas semanas após o início do tratamento. Com o intuito de evitar recaídas, a terapia de luz natural deve continuar até a remissão espontânea dos sintomas com a chegada da primavera ou verão, atuando como uma profilaxia. 

Em síntese, a prevalência do TAS varia geograficamente, assim as estatísticas epidemiológicas têm sido difíceis de se obter com precisão. Ademais, a prevalência entre diferentes faixas etárias também deve ser melhor investigada. Por fim, é ideal que os profissionais de saúde consigam realizar um trabalho apurado de triagem para esse transtorno no outono e inverno, permitindo o início imediato de um tratamento mais adequado. Todavia, para sucesso destes pontos mencionados, mais estudos são necessários para entender os pormenores envolvidos no TAS.

 

Colaboração:

Loren Pereira sobre a autora

Loren é biomédica, mestra em Ciências pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, em Uberaba-MG. Atualmente cursa doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical e Infectologia também pela UFTM. É engajada com pesquisa e produção de conteúdo para divulgação científica, além de integrar a equipe de site e edição de textos da Ilha do Conhecimento.

 

Referências:

Artigo científico intitulado “Association between seasonal affective disorder and subjective quality of the sleep/wake cycle in adolescents”, publicado na revista Psychiatry Research em 2014, de autoria de Tonetti, L., Fabri, M., Erbacci, A., e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Distúrbio afetivo sazonal em estudantes de medicina de Porto Alegre” publicado no Jornal Brasileiro de Psiquiatria em 1996, de autoria de Curcio, F., Miola, G., Lehmen, R. e colaboradores.

Artigo científico intitulado “Seasonal Affective Disorder” publicado na revista American Family Physician em 2012, de autoria Kurlansik, S., e Ibay, A.

Artigo científico intitulado “Seasonal Affective Disorder: Common Questions and Answers”, publicado na revista American Family Physician em 2020, de autoria de Galima, S., Vogel, S., e Kowalski, A.

Artigo científico intitulado “Seasonal affective disorder: Is there light at the end of the tunnel?” publicado na revista JAAPA em 2014, de autoria Sanassi, L.

(Editoração: Fernando F. Mecca e Loren Pereira)

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