Pessoas mais radicais, independentemente de qual lado do espectro político, têm mais dificuldade de mudar de opinião e se reajustar a novos contextos.
As bases psicológicas do radicalismo ideológico têm sido exploradas por cientistas já há algum tempo, principalmente após as atrocidades cometidas no século passado, durante as grandes guerras, em nome de doutrinas políticas. Uma das maneiras de estudar o assunto é avaliando a flexibilidade cognitiva das pessoas que adotam tais extremos ideológicos, ou seja, compreendendo a habilidade dos indivíduos de se ajustarem a novos ambientes desafiadores e a mudarem de opinião.
Destaques:
- A flexibilidade cognitiva é menor em indivíduos radicais, tanto de direita quanto de esquerda, do que em pessoas que não declaram partidarismo;
- É possível aumentar a flexibilidade cognitiva com educação e treinamento adequados.
O partidarismo radical está associado com baixa flexibilidade cognitiva, independentemente da orientação política, segundo um estudo recém-publicado. Cientistas aplicaram testes psicológicos em mais de 700 cidadãos estadunidenses, que em um primeiro momento identificaram sua visão ideológica, e em seguida foram avaliados quanto à habilidade de escolher entre diferentes opiniões e tarefas – não necessariamente relacionadas à política. Pessoas que não se identificavam com nenhum partido apresentaram em média maior flexibilidade cognitiva do que aqueles autodeclarados de direita ou de esquerda. Opositores políticos extremistas, por outro lado, apesar de divergirem nas crenças ideológicas, apresentaram similaridades no aspecto psicológico e cognitivo.
Pessoas de mentes mais “rígidas” tendem a apresentar uma visão mais dogmática e dualista sobre o mundo, com mais certeza e segurança, características que são endossadas pela lealdade ao conjunto de doutrinas que seguem. Estudos passados, no entanto, demonstraram que é possível modelar a flexibilidade cognitiva por meio de treinamento e educação – seria essa a solução para construirmos sociedades mais tolerantes?
Tweet-science: Priscila S. Rothier
Referências: Revista Journal of Experimental Psychology (Ago/2019) # The Partisan Mind: Is Extreme Political Partisanship Related to Cognitive Inflexibility? Autores: L. Zmigrod, P. Rentfrow e T. Robbins.
(Editoração: Fernando Mecca, Vinicius Anelli)