Em meio a um mar de doenças muito discutidas atualmente, uma se destaca pelo receio que causa na sociedade: o câncer. A preocupação justifica-se por seus números. Segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar 600 mil novos casos da doença em 2018. Entre os tipos com maior incidência estão o câncer de pele não melanoma, seguido pelo câncer de próstata em homens e pelo câncer de mama em mulheres.
A conscientização sobre o câncer é fundamental não apenas na prevenção, mas na detecção precoce e no aumento das chances de cura. No entanto, a desinformação provocada pela crescente disseminação de conteúdo falso nas redes sociais (as famosas “fake news”) tem causado preocupação e trazem orientações erradas a respeito da doença. Como surgem muitas notícias desprovidas de qualquer embasamento científico sobre o câncer, resolvemos destacar alguns pontos relevantes nessa matéria.
1 – “Câncer é tudo igual”
Mito!
O que chamamos de câncer, na verdade, é um conjunto de mais de 100 doenças. Elas têm em comum a multiplicação descontrolada de células (o crescimento maligno) que as tornam capazes de invadir outros tecidos e órgãos do corpo. Mas o câncer que aparece em um determinado órgão, como o pulmão, por exemplo, tem características muito diferentes de um câncer que aparece na próstata. Cada tecido tem suas particularidades, então, as células tumorais que dele se originam, também apresentam causas e comportamento variados. Isso dificulta a busca por uma cura única para todos os tipos de câncer. As células tumorais de tecidos, como a mama, respondem muito bem a um determinado tratamento, enquanto que células de um câncer de pele não se comportam da mesma forma quando é usado aquele mesmo tratamento.
2 – “Antigamente não tinha Câncer. Câncer é uma doença moderna”
Mito!
O avanço da Medicina e das Comunicações permitiu que nós passássemos a rastrear melhor o câncer e discutir com maior frequência os casos existentes. Por isso hoje se fala mais em câncer, mas isso não quer dizer que há décadas, centenas ou até mesmo milhares de anos atrás ninguém tivesse a doença. Já foi encontrado indícios de câncer de próstata em uma múmia de 2,2 mil anos, sem falar de um antepassado humano sul africano de 1,7 milhão de anos com um tipo agressivo de câncer de osso no dedo.
3 – “Câncer é uma doença de velhos”
Mito!
Com o passar das décadas, a expectativa de vida da população brasileira tem aumentado. Em 1930, por exemplo, a expectativa de vida era de 35 anos e o brasileiro morria de doenças mais simples, tais como infecção, diarreia e pneumonia. Hoje, a expectativa de vida gira em torno de 75 anos, graças ao aparecimento de vacinas, antibióticos e melhores hábitos de vida. É verdade que esse prolongamento da nossa existência nos permite viver o suficiente para que alguns tipos de câncer se manifestem e desenvolvam no decorrer de nossas vidas, mas isso não quer dizer que só apresentamos a doença quando chegamos à terceira idade. Há cânceres que se manifestam em crianças e adolescentes, como as leucemias (que afetam as células sanguíneas), os linfomas (que afetam o sistema linfático), tumor de Wilms (que afeta os rins) e retinoblastoma (que afeta a retina, fundo do olho). Na verdade, o câncer ocupa o primeiro lugar de causa de morte por doença na população entre 1 e 19 anos de idade. Estima-se que ocorrerão cerca de 12.600 casos novos de câncer infantil no Brasil em 2018.
4 – “Câncer é uma doença genética”
Verdade!
Câncer é decorrente de alterações (mutações) que se acumulam em nossos genes, lhe conferindo o caráter de doença genética. Os genes com mutações fazem as células trabalharem de maneira anormal, crescendo fora de controle, causando câncer. Mas, atenção: ser genético é diferente de ser hereditário! O câncer hereditário representa apenas 5% dos casos de câncer, e vem de mutações genéticas herdadas dos pais. Os outros 95% dos casos de câncer acontecem graças a mutações genéticas adquiridas ao longo das nossas vidas por exposição a agentes cancerígenos, como por exemplo, a radiação ultravioleta emitida pelos raios solares que causam o câncer de pele. Essas mutações, por sua vez, não são transmissíveis aos nossos descendentes.
5 – “Alimentação saudável cura todo câncer”
Mito!
Os hábitos de vida saudáveis (como prática frequente de exercícios físicos; não fumar; alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras e cereais integrais) realmente estão associados com o bom funcionamento do organismo e com isso evitam alterações celulares, prevenindo vários tipos de câncer. O INCA estima que 40% dos casos da doença podem ser prevenidos com essas medidas. No entanto, a cura de casos já instalados da doença não ocorre apelando apenas a essas medidas. Quem nunca recebeu mensagens dizendo que determinada fruta cura o câncer? Cada hora é uma nova notícia… limão, graviola, etc. Você tem que fazer suco verde, chá verde, tudo verde… Cientistas vêm estudando arduamente, na busca por compostos naturais menos agressivos para o paciente e mais efetivos contra o tumor, mas nenhuma fruta milagrosa foi capaz de aniquilar totalmente um câncer instalado em um paciente doente. Muitas vezes, ainda são necessários os tratamentos convencionais quimioterápicos e radioterápicos. O problema é que pacientes menos instruídos abandonam seus tratamentos e passam a consumir apenas esses milagrosos produtos naturais na esperança de se livrarem da doença… E isso não ocorre. Cada câncer é muito singular. Apenas o médico responsável pelo caso deve prescrever qualquer tipo de tratamento ao seu paciente. Acreditar em tudo que se ouve ou se lê por aí pode representar um risco absurdo para sua saúde.
6 – “Pílula milagrosa foi desenvolvida para curar o câncer”
Mito!
Com frequência surgem notícias de pessoas mal informadas (ou mal intencionadas) prometendo uma cura milagrosa para doentes com uma nova pílula contra o câncer. Já tivemos a pílula de fosfoetanolamina, a pílula de vitamina C, a pílula de cartilagem de tubarão… Até mistura de bicarbonato de sódio e vinagre já teve seus 5 minutos de fama… No entanto, evidências científicas apontam que nenhum desses compostos foi capaz de reverter sozinho o câncer em um paciente humano. No caso da fosfoetanolamina, que ganhou grande destaque em 2015, as análises não só desmentiram os supostos resultados milagrosos, como também relataram que o conteúdo das cápsulas vendidas não correspondia à composição indicada. Ou seja, nem sempre há fosfoetanolamina nos produtos comercializados até hoje com esse nome.
7 – “Tudo que está na Internet é verdade”
Mito!
A circulação de notícias pela Internet é rápida, basta um toque no celular e já replicamos para nossos grupos de contatos. Aí mora o perigo! Muitas vezes, recebemos informações de amigos e cremos ser verdadeiras, não nos damos o trabalho nem de checar antes de sairmos divulgando. Mas a criatividade de quem escreve essas notícias é terreno fértil. Não podemos deixar a desinformação tomar conta de um assunto tão sério, prejudicando o esclarecimento e reforçando a estigmatização da doença.
Pensando em combater essas notícias falsas que circulam, o Instituto Oncoguia disponibilizou um número de WhatsApp para responder o que é verdade e o que é mentira sobre o câncer. “A pessoa envia sua dúvida e em até 48 horas os oncologistas voluntários respondem”, explica Luciana Holtz, fundadora e presidente da ONG. O número do serviço Onco Confirma é (11) 98790- 0241.
A dica aqui é bastante simples: se tem dúvidas sobre o câncer, procure fontes seguras, de pesquisas confiáveis. Não passe adiante informações contraditórias e que podem ser perigosas!
Ciencia et al: Cristiane Figueiredo Pinho
Fontes consultadas:
http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/inca/portal/home
http://www.oncoguia.org.br/
Prates C, Sousa S, Oliveira C, Ikram S. 2011. Prostate metastatic bone cancer in an Egyptian Ptolemaic mummy, a proposed radiological diagnosis. Int. J. Paleopathol. 1(2):98-103.
(Editoração: Eduardo Borges, Viviane Santana e Caio Oliveira)