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Trajetória na ciência: entrevista com Priscilla Elias Ferreira da Silva - Ilha do Conhecimento
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Trajetória na ciência: entrevista com Priscilla Elias Ferreira da Silva

#Especiais (Especiais temáticos repletos de informações científicas)

Na primeira de uma série de entrevistas para o Mês da Mulher, conheça Priscilla e o que ela pensa do fazer ciência sendo mulher no Brasil.

DESTAQUES:
– Priscilla é bióloga, mestra e doutoranda na área de Medicina Tropical e Infectologia, atuando especialmente com Leishmaniose visceral;
– Seu trabalho do mestrado resultou na criação de um aplicativo, o LeishCare, o qual auxilia profissionais de saúde no diagnóstico e manejo de indivíduos acometidos pela doença;
– A pesquisadora aponta para a falta de investimentos governamentais como um ponto chave que impede o progresso da ciência brasileira;
– Também atuando na educação, Priscilla sugere que o professor deve auxiliar seus alunos na busca de fontes seguras sobre diferentes temas do cotidiano, preservando-se de notícias falsas ou sem embasamento científico.

1) Para que o público conheça a Priscilla, como você se apresentaria brevemente?  Esse é um espaço livre, em que você pode optar por uma apresentação acadêmica ou por características pessoais e biográficas que você considere relevantes para sua identidade enquanto mulher na ciência.

Eu sou uma mulher sonhadora. Filha da Elza e do Carlos, irmã da Camila e do José Carlos, minha base. Sou natural do município de Uberaba, licenciada em Ciências Biológicas, Mestra em Ciências e atualmente doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, nossa gloriosa UFTM.

Galgando passos pequenos, fiz a minha trajetória baseada nos meus valores e princípios agregados ao longo do tempo. Percorro os caminhos da Ciência desde 2012, quando ingressei na UFTM. Antes disso, sonhava em ser professora, mas não fazia ideia do que viria pela frente! Cá estou, rodeada de gente querida, realizada em muitos campos de minha vida pessoal e profissional e confiante no futuro próximo.

 

2) O que motivou sua escolha por uma trajetória científica, especialmente na área de Biologia? 

Sempre quis ser professora, tive a oportunidade de prestar o vestibular da UFTM em 2011, e ser aprovada no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Minha aprovação foi sem dúvida um dos melhores dias de minha vida, rememoro com frequência aquele sentimento de alegria. Biologia, ciência que estuda a vida, é uma área de trabalho fascinante e ser licenciada nessa área é realmente um presente, ou seja, poder ensinar dentro de um espaço de aprendizagem o que fora aprendido ao longo da jornada de quatro anos, era realmente um desejo verdadeiro. É o meu objetivo.

 

3) Como é seu dia a dia de trabalho na pesquisa?

Minha rotina é permeada de muito trabalho! Sou bolsista CAPES de dedicação exclusiva, não possuo vínculo empregatício com outras empresas. Assim, meus dias na UFTM são dedicados a trabalhos de campo na linha de pesquisa em Leishmanioses e também realizo a parte de redação científica, ou seja, elaborações e sínteses dos produtos finais dos estudos realizados em campo. Desde o Mestrado trabalho com a Leishmaniose visceral, uma doença infecciosa e parasitária que está entre as 21 doenças tropicais negligenciadas elencadas pela Organização Mundial da Saúde. Minhas pesquisas atuais envolvem essa temática. De modo geral, passo o dia todo no ambiente acadêmico (em modo presencial). Essa é a minha rotina de segunda a sexta-feira. Aos finais de semana me desligo completamente dos estudos para recuperar as boas energias.

 

4) De acordo com as informações em seu currículo Lattes, você finalizou o Ensino Médio em 2005 e ingressou na graduação em Ciências Biológicas em 2012. Esse intervalo parece indicar um caminho não linear rumo à área acadêmica. Caso sinta-se à vontade para compartilhar, quais foram suas experiências profissionais nesse período?

De fato, esse gap entre o término do ensino médio e o início da graduação foi um marco muito importante em minha vida. Desde os 15 anos precisei trabalhar para auxiliar os custos e manutenções de minha casa, havia muitas dificuldades naquela época e tivemos que abrir mão de muitos sonhos inicialmente, tanto eu quanto meus irmãos. Diante de tais problemas, não tive outra escolha senão percorrer o ensino médio e conciliar com o trabalho. Nessa trajetória anterior ao início da vida acadêmica, passei por duas grandes empresas.

Em meados de 2011, decidi mudar de perspectiva, alçar um novo rumo em minha vida, naquela época possuía muitos colegas que terminaram o ensino médio e já estavam prestes a concluir o ensino superior. Foi um “start” pra eu começar a estudar e prestar o vestibular. Havia prestado outros vestibulares antes da UFTM em instituições privadas, eu era aprovada, mas nunca consegui ingressar devido aos altos custos. A UFTM então seria a próxima tentativa e para minha surpresa a aprovação veio. Contudo, na época da aprovação eu mantinha vínculo empregatício em uma empresa muito boa aqui em minha cidade, era um colégio particular da rede cenecista, gerenciada por um homem muito gentil e extremamente profissional, Doutor Danival Roberto, a quem serei eternamente grata, justamente pelas épocas em que tive que me ausentar da escola para cumprir os estágios obrigatórios e também realizar a iniciação à docência, através do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência).

O curso de Biologia na UFTM é noturno, o que me possibilitava trabalhar durante o dia e ir direto do trabalho para a universidade. Foram quatro anos de muitos desafios e incertezas, naquela época meus finais de semana eram inteiramente voltados à rotina de estudos. Não me arrependo de manter o vínculo e continuar estudando. Além do mais, as bolsas oferecidas não eram capazes de cobrir as minhas despesas e os recursos do trabalho eram para os meus gastos pessoais e auxílios em casa.

O fascínio pela sala de aula tomou forma durante meus quase três anos no PIBID. Foi em uma escola municipal, situada em zona rural, que tudo começou. “Meus pimpolhos” era como carinhosamente me referia aos meus alunos do 6º ao 9º ano! Sem dúvidas, eles mudaram a minha vida para sempre… Muito aprendizado e muita experiência adquirida durante esse período na Escola Municipal Celina Soares de Paiva. Ao término da graduação – ainda mantendo vínculo empregatício –, já pesquisava sobre a pós-graduação.

Entrei no site da UFTM e pesquisei curso por curso da área da saúde. Era uma vontade de estudar e aprender sobre doenças, esse tema chamava a minha atenção na graduação. Nessa pesquisa encontrei o programa no qual estou alocada hoje: Medicina Tropical e Infectologia. Ingressei na pós em 2017, e conheci uma mulher que também impactou de forma muito positiva a minha vida. Abriu uma porta de oportunidades e a partir desse ano minha vida acadêmica tomava um novo formato. O meu programa de pós endossou o meu desejo de ser docente e a Profa. Dra. Luciana (minha orientadora do Mestrado e atualmente do Doutorado), me mostrou os caminhos da pesquisa acadêmica. Foi realmente o início de outros sonhos.

 

5) Ao longo de sua formação e carreira na pós-graduação, você tem se dedicado à área de parasitologia, trabalhando especialmente com doenças negligenciadas, como é o caso da Leishmaniose visceral. Parte desse trabalho teve resultados aplicados, a exemplo da análise do aplicativo LeishCare.  A importância deste aplicativo para smartphone consiste em ser destinado a profissionais de saúde que atuam em áreas endêmicas para leishmaniose visceral e tegumentar, o qual auxilia a acompanhar a evolução destas doenças. Diante dessas experiências, como você vê o impacto social da ciência frente aos desafios de escassez de verba, falta de vagas e desinformação?

Meu produto final do Mestrado teve um impacto significativo na área da saúde. Naquela época, minha orientadora havia conseguido a aprovação de um valoroso projeto que seria financiado pela FAPEMIG. Foi a nossa oportunidade de desenvolver e conduzir um importante trabalho em três áreas endêmicas de Leishmaniose visceral em Minas Gerais. LeishCare foi um marco na minha carreira e dos demais coautores pesquisadores, um trabalho realizado por muitas mãos e colaborações; eu diria que o fortalecimento de parcerias move a pesquisa acadêmica. O trabalho colaborativo permite que o ambiente acadêmico, o serviço e a comunidade externa estejam ligados. Na ocasião, vimos a nossa produção científica chegando à população, essa premissa, sem dúvidas, é o melhor resultado obtido. Estreitar essas relações e fortalecer as redes colaborativas. 

Iniciei meu projeto de Doutorado sem nenhum fomento, somente após dois anos que consegui parte do financiamento para executar alguns procedimentos metodológicos. No meu entendimento, nosso país ainda não é capaz de reconhecer a riqueza e os variados ganhos de pesquisas realizadas em ambientes acadêmicos públicos. Carece confiança e desejo de investimentos por parte governamental. É realidade no Brasil, pesquisadores que retiram do próprio bolso investimento em determinada pesquisa ou compra de reagentes, por exemplo. Passou da hora de nosso país investir nas pesquisas acadêmicas brasileiras e credibilizar os pesquisadores que passam anos de suas vidas dedicando-se a estudos que contribuirão para maior longevidade de uma população, descoberta de novas vacinas para diversas doenças, ou até mesmo a cura delas.

Eu diria que a desinformação é herança do atual governo, que infelizmente é norteado por negacionismo e descredibilização da Ciência. É uma realidade que está prestes a mudar e me sinto bastante esperançosa nesse sentido. A corrida para encontrar uma vacina eficaz e segura para a maior pandemia de todos os tempos nos mostrou a capacidade e a força que instituições públicas e privadas possuem. Se houver investimento, haverá progresso. Havendo progresso nos tornamos fortes e vencemos batalhas difíceis.

 

6) Além de pesquisadora, você teve vínculos com a área de educação, inclusive com educação popular. Como tem sido discutir ciência com os jovens em meio às rápidas transformações no consumo de informação? O que você diria para inspirar novas meninas nas ciências?

A tecnologia é realidade em muitos estados brasileiros. Os jovens de hoje se adequaram muito bem à revolução tecnológica. As informações transitam de uma ponta a outra do país, ou melhor, percorrem todo o mundo num curto espaço de tempo. No meu entendimento, discutir ciência com os jovens tem sido um grande desafio pois, muitas vezes, eles tiveram um contato primário com determinado tema e acabam por trazer à tona sua bagagem histórica permeada de inúmeros vieses acerca desse tema.

Quebrar paradigmas ou ultrapassar as barreiras é o grande desafio em sala de aula. Como as informações chegam de forma instantânea, esse aluno se vê, na maioria das vezes, perdido nesse bombardeio de notícias. O professor, nesse sentido, tem o papel crucial de sensibilizar e mostrar os caminhos que poderão ser percorridos, esclarecendo temas e dúvidas, ensinando e sobretudo, aprendendo com a turma. 

Como forma de inspiração para as meninas que irão percorrer os caminhos da ciência: acreditem nos seus sonhos, essa frase clichê te moverá para lugares que mudarão a sua vida de forma significativa. Se você tiver a oportunidade de estudar, agarre essa oportunidade e não tenha medo de encarar os desafios que chegarem até você. Eles te farão mais forte e corajosa. Não desanime, pense, reflita e analise o tempo todo como você deseja estar a longo prazo. Isso fará a diferença em sua vida. Eu desejo muito que você consiga o que sonha.

 

7) E, na sua própria trajetória, quais outras mulheres, dentro ou fora da área científica, são inspiração?

Minha primeira inspiração é a mulher mais importante da minha vida: minha mãe. Ela é o motivo principal pelo qual eu levanto todos os dias para dar o melhor de mim. É por ela que enfrento, com maestria, todas as adversidades da vida e futuramente pretendo oferecer boas condições para que ela tenha uma velhice tranquila e confortável. A segunda inspiração é a minha irmã: Camila Elias. Licenciada em Letras/Espanhol, percorre novos e promissores caminhos da vida militar. Meu eterno exemplo de perseverança e compaixão. Depois delas, muitas outras mulheres que passaram em minha vida serviram como inspiração de trajetória acadêmica a ser percorrida. Dentre elas a minha orientadora e amiga: Luciana de Almeida Silva Teixeira. Minhas parcerias desde sempre da UFTM: Sílvia Coelho e Catarina Teixeira.

Pesquisadoras e Cientistas que me inspiram: Djamila Ribeiro, Natalia Pasternark, Dorcas Lamounier, Ana Nilce Elkhoury, Romina Oliveira, Ethel Maciel e Luiza Caires. As demais mulheres são as minhas amigas pessoais, tanto as que conheci no ambiente acadêmico quanto as que transitam em minha vida fora dos muros acadêmicos. Essas sabem quem são e o que representam em minha vida, não necessito citá-las.

 

mulheres trajetória na ciênciaSobre a entrevistada: Priscilla Elias Ferreira da Silva

Links: lattes, e-mail, instagram

Priscilla é bióloga, Mestra em Ciências e doutoranda em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Infectologia da UFTM. Sonha em ser professora, percorreu diferentes caminhos em sua trajetória acadêmica. Faz pesquisas na área da Leishmaniose visceral, doença tropical negligenciada de suma importância no nosso país.

 

(Editoração: Fernando Mecca, Loren Pereira e Nathália Khaled)

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