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Um oceano inspirador e envolvente

#Década do Oceano (Uma parceria pela sustentabilidade do oceano)

Como tornar o oceano cada vez mais inspirador e envolvente? Isso depende de pessoas informadas e de ações coordenadas!

Destaques:
– As Unidades de Conservação marinhas são eficazes para combater simultaneamente impactos da pesca, da perda da biodiversidade e das mudanças climáticas;
– Engajamento pela conservação precisa combinar informação, legislação, benefícios econômicos, sociais, emocionais e oferecer alternativas de escolha;
– Um caminho para alcançar o objetivo de mostrar o quanto o oceano é inspirador e envolvente é por meio da educação básica;
– Engajar os estudantes da educação básica não é uma tarefa fácil para os professores, pois ainda há poucos materiais didáticos para esta finalidade.

Imagine-se em um “paraíso”. O que vem à sua mente? É de se esperar que a maioria das pessoas imagine uma praia ou ilha deserta. Pois é, o oceano inspira as pessoas de diversas maneiras, sendo o cenário de casamentos, férias, luas de mel, filmes, músicas, livros etc. Afinal, qual o valor disso? Alguns diriam que é o preço do capital natural do oceano. De fato, contabilizando os recursos, o oceano representaria a sétima economia do mundo. Mas não é só isso! 

Sabe as sensações vivenciadas no “paraíso”? São os valores e os benefícios para a nossa qualidade de vida, os chamados serviços ecossistêmicos. O oceano é capaz de suprir grande parte das necessidades humanas, desde as básicas (fisiológicas e de segurança), as psicológicas (sociais e de estima) e as de autorrealização, como podemos ver quando aplicamos os serviços ecossistêmicos oferecidos pelo oceano na Pirâmide de Maslow.

Propriedades do oceano aplicadas a modo de preencher a Pirâmide de Maslow.

Pois bem, o oceano nos presenteia com benefícios básicos ou mesmo de autorrealização. Ainda assim, vivemos de costas para o mar e, até mesmo sem querer, o impactamos – o que também gera impacto em nós. Então, o que fazer para reverter tanto os impactos quanto o distanciamento do ambiente marinho?

Vamos pensar primeiro na questão dos impactos. A criação de Unidades de Conservação (UC) marinhas é a forma mais eficaz de proteção dos ecossistemas marinhos, pois garante funções importantes para a conservação da biodiversidade, de habitats, do turismo, do refúgio de espécies e da manutenção de estoques pesqueiros. A interrupção de pesca em algumas áreas pode levar ao estabelecimento de espécies que não eram mais observadas, aumento da riqueza de espécies, aumento do tamanho dos indivíduos, recuperação dos habitats e melhores resultados em relação a áreas com níveis de proteção menos restritivos, levando a benefícios socioeconômicos para pescarias e no bem-estar social, por exemplo. Além disso, as UC garantem a provisão de serviços, resistência e resiliência, gerando efeitos no setor turístico, na segurança alimentar, no risco de danos climáticos às cidades costeiras e no combate às mudanças globais. Tudo isso simultaneamente!

No entanto, essas áreas são ameaçadas pela falta de recursos para a gestão e a não adesão da sociedade. Para tanto, existem pesquisas importantes nesse contexto, como a pesquisa realizada pela oceanógrafa Barbara Banzato e colaboradores, que é a aplicação de estratégias integradas de ciência comportamental no setor turístico, avaliando sua eficiência para estimular a valorização das UC pela sociedade e gerar mais engajamento e recursos.

A maioria das ações de comunicação ambiental tem focado em informação, economia, regras e proibições, mas ainda não são suficientes. É preciso também combinar com benefícios sociais e emocionais, e oferecer alternativas de escolha menos impactantes às pessoas. Aliás, abordar soluções, paisagens bonitas e senso de comunidade têm melhores resultados para inspirar e envolver do que apontar os problemas. E o turismo oferece tudo isso, mostrando potencial por engajar turistas e empresas que aportam recursos visando lazer e reconhecimento ao mesmo tempo em que consomem serviços e pescados das comunidades parceiras da UC que adotam práticas responsáveis. Então, quando estiver no litoral, que tal conhecer uma e sentir de perto seus benefícios?

Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte de São Paulo: a vegetação cobrindo uma porção continental e o mar aparecendo em segundo plano. (Foto: Barbara Banzato)

Agora vamos pensar em como aumentar o contato das pessoas com o ambiente marinho. Por mais que todos nós gostemos de ir à praia em um feriado prolongado, não significa que conheçamos muito sobre o ambiente marinho. Para algumas pessoas, como pesquisadores que escolheram estudar alguma parte do oceano, o conhecimento sobre esse ambiente é grande. Mas qual é o conhecimento daquelas pessoas que nunca viram o mar ou pouco ouviram falar sobre ele? O que fazer para a sociedade como um todo conhecer e compreender a relação do oceano com o bem-estar humano?

Existem vários caminhos para alcançar o objetivo de mostrar o quanto o oceano é inspirador e envolvente, e um deles é por meio da educação básica. Infelizmente, não temos a Ciência Oceânica como componente curricular em nosso país. Mas podemos e devemos lutar para isso acontecer. O movimento dos objetivos da Década do Oceano, bem como a valorização e a divulgação dos sete princípios da Ciência Oceânica, já são passos importantes e necessários para atingir um objetivo tão grandioso, e podemos dizer, totalmente possível. Basta união e dedicação de todos nós. Um passo de cada vez, porém consistentes e persistentes.

Engajar estudantes da educação básica com o ambiente marinho não é uma tarefa fácil para os professores, pois ainda estamos praticamente engatinhando na produção de materiais didáticos sobre o tema. Porém, podemos citar dois excelentes materiais: o “Manual de ecossistemas marinhos e costeiros para educadores” publicado pela Rede Biomar em 2016 e o livro “Cultura Oceânica para todos – kit pedagógico” publicado pela UNESCO em 2020.

Capa do “Manual de Ecossistemas marinhos e costeiros para educadores”

O Manual da Biomar contém informações detalhadas sobre todos os ambientes marinhos, incluindo bancos de rodolitos e recifes de profundidade do talude continental, temas pouco abordados, por exemplo, na mídia. O manual contém esquemas didáticos, com textos simples e traz respostas para as curiosidades mais frequentes dos estudantes, como: “qual a origem do sal?” e “como as baleias podem mergulhar fundo?”.

Ficou curioso também? Acesse o material! Como o manual é voltado para educadores, há oito sugestões de atividades educativas para serem desenvolvidas exatamente como são, mas que também podem servir de base para novas atividades.

Capa do livro “Cultura oceânica para todos: kit pedagógico”

Já o livro publicado pela UNESCO é dividido em duas partes. Uma apresenta a história da cultura oceânica e descreve os seus sete princípios essenciais. A outra apresenta 14 atividades para a educação marinha com uma abordagem integrada de disciplinas. Para exemplificar, a atividade “As ondas” pode ser explorada junto à literatura, arte e teatro.

Apesar desses excelentes materiais citados, ainda precisamos fazer mais, traduzindo boa parte das publicações científicas em material didático à educação básica. Nesse sentido, há um projeto temático no âmbito Biota-FAPESP intitulado “O Programa BIOTA-FAPESP na educação básica: possibilidades de integração curricular”. Um dos ramos desse programa é justamente produzir material didático sobre o oceano, inspirando, instigando e engajando nossos jovens estudantes brasileiros. Ou seja, a educação é um dos caminhos para alcançarmos o “oceano que queremos”, e a bióloga Renata Alitto e equipe estão trabalhando para que novos materiais logo estejam disponíveis para estimular a alfabetização oceânica!

Há muitas outras formas de melhorar a nossa relação com o oceano. Mas, certamente, a criação de áreas marinhas protegidas e a abordagem do oceano na educação básica (com destaque para a importância das áreas protegidas e visitas a campo quando possível) são duas ações conectadas com o objetivo da Década do Oceano de contribuir para que o maior ambiente da Terra seja cada vez mais inspirador e envolvente.

Especial Década do Oceano – Uma parceria entre a Ilha do Conhecimento, a Liga das Mulheres pelo Oceano e a Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano

Colaboração:

Barbara Banzato sobre a autora            

Barbara Banzato é oceanógrafa, mestra e doutoranda em Ciência Ambiental pelo Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Entre os assuntos que mais lhe interessam estão o planejamento territorial, áreas protegidas e o relacionamento com comunidades, em especial na busca por compatibilização entre negócios sustentáveis e conservação.

 

Renata Alitto sobre a autora            

Renata Alitto é bióloga, com mestrado e doutorado em taxonomia de equinodermos. Atualmente é pesquisadora pós-doc na Faculdade de Educação/USP. Seu foco é integrar atividades de pesquisa, ensino e extensão pois acredita que a educação aliada a conhecimentos biológicos têm um poder imensurável de tocar pessoas e fomentar ações de conservação e sustentabilidade.

Tássia Biazon sobre a autora            

Tássia Biazon é bióloga e jornalista científica. Atualmente é pós-graduanda na Unicamp e no Centro de Pesquisa Boldrini, colaboradora da Cátedra Unesco para Sustentabilidade do Oceano da USP e professora na rede SESI. Tem experiência e interesse em biologia da conservação, biologia molecular, jornalismo científico e divulgação científica.

 

Fontes consultadas:

– Livro “Manual de ecossistemas marinhos e costeiros para educadores”, de autoria de Gerling, C. Ranieri, C. Fernandes, L. Gouveia, M. T. D. J., e Rocha V., publicado pela editora Comunnicar Santos em 2016. Disponível em https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/ManualEcossistemasMarinhoseCosteiros3.pdf.

– Livro “Cultura oceânica para todos – kit pedagógico”, de autoria da UNESCO, publicado pela editora UNESCO Europa em 2020. Disponível em https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000373449.locale=en.

– Site da FAPESP sobre o projeto temático: “O Programa BIOTA-FAPESP na educação básica: possibilidades de integração curricular”.

(Editoração: Loren Pereira, Fernando Mecca, Tássia Biazon, Eduardo Borges)

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