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Nova técnica permite que células da pele fiquem 30 anos mais jovens

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)

O procedimento faz com que as células tenham seu relógio biológico reprogramado sem perder a sua função especializada.

Envelhecer nada mais é do que um declínio gradual de funções dos tecidos e das células que os compõem. Ao passo que o envelhecimento acontece, várias alterações e perturbações acontecem desde o nível molecular, sendo algumas delas a princípio reversíveis. Portanto, os autores buscaram entender se mudanças no padrão de transcrição (evento onde há formação de uma fita de RNA a partir do DNA, expressando informações para desempenhar funções biológicas) e em mecanismos epigenéticos (que envolvem modificações químicas que podem alterar a expressão gênica) poderiam ser reprogramadas para reverter o processo de envelhecimento. Os resultados mostraram que células da pele (fibroblastos) puderam ser rejuvenescidas em 30 anos. O estudo realizado por pesquisadores do Reino Unido foi publicado em abril de 2022 na revista eLife e pode revolucionar a medicina regenerativa.

Sabendo que o epigenoma (conjunto de todas as alterações na expressão gênica) é rejuvenescido em uma fase de maturação de células somáticas (todas as células, com exceção de células reprodutoras), era possível sugerir que a reprogramação completa não seria necessária para reverter o envelhecimento. Com base nisso, os autores desenvolveram a técnica chamada de “reprogramação transitória de fase de maturação” (MPTR). Esse método baseia-se parcialmente na técnica ganhadora do Prêmio Nobel de Shinya Yamanaka em 2007, que reprogramou geneticamente células da pele de ratos e as transformou em células-tronco pluripotentes induzidas.

O processo completo de reprogramação de células-tronco leva cerca de 50 dias usando quatro moléculas-chave chamadas fatores Yamanaka. Enquanto a nova técnica expõe as células aos fatores Yamanaka por apenas 13 dias. As células que passam por essa exposição perdem temporariamente e depois readquirem sua identidade de fibroblastos. Foi observado que eventualmente passaram a produzir marcadores característicos de fibroblastos, como o colágeno. Os autores atribuíram isso a uma memória epigenética de genes desse tipo de célula. Os fibroblastos utilizados vieram de três doadores de meia-idade com idade cronológica de 38, 53 e 53 anos e idade epigenética 45, 49 e 55 anos, respectivamente.

pele mais jovem fibroblastos
Imagem de fibroblastos (células da pele) marcados com corantes fluorescentes. Imagem: iStock / Getty Images Plus / Reprodução SoCientifica

Neste sentido, os pesquisadores analisaram medidas de idade celular e constataram que o perfil das células reprogramadas era 30 anos mais jovem que em comparação aos dados de referência. O primeiro marcador analisado foi o relógio epigenético. Há moléculas que funcionam como marcadores de envelhecimento. Elas podem ser medidas com alta precisão, sendo usadas para construir “relógios de envelhecimento” que predizem a idade cronológica em humanos e outros mamíferos. O segundo foi o transcriptoma (conjunto completo de genes transcritos de um dado organismo, órgão, tecido ou linhagem celular), em que todas as leituras de genes produzidas pelas células reprogramadas foram analisadas. Diljeet Gill conduziu o trabalho em seu doutorado e declarou que seus resultados representam um grande passo rumo à nossa compreensão da reprogramação de células. Ele também ressalta que a compreensão do envelhecimento em nível molecular progrediu na última década, dando origem a técnicas que permitem aos pesquisadores medir mudanças biológicas relacionadas à idade nas células humanas. Com isso, foi possível aplicar aos experimentos para determinar a extensão da reprogramação alcançada pelo novo método desenvolvido.

Todos os resultados são de experimentos in vitro e, sendo assim, o estudo representa uma prova de conceito, onde eles mostraram que a reprogramação completa não é necessária para reverter o envelhecimento de células. No entanto, não se sabe se seria possível rejuvenescer as células na escala de 30 anos em fibroblastos de indivíduos mais velhos ou mais jovens. Além disso, não se sabe como as células reprogramadas se comportariam em organismos vivos ou se apresentariam algum risco.

A importância deste trabalho consiste principalmente no seu potencial de aplicações. As células que se comportam como células mais jovens produzem mais colágeno, por exemplo. O colágeno é uma proteína que é encontrada nos ossos, tendões e ligamentos da pele, ajudando a fornecer estrutura aos tecidos e curar feridas. Os pesquisadores testaram as células parcialmente rejuvenescidas criando um corte artificial em uma camada de células crescidas in vitro. Foi observado que os fibroblastos reprogramados se moviam para a lacuna mais rapidamente do que os mais velhos. Dessa forma, o potencial desse estudo para medicina regenerativa é enorme e, por isso, o estudo representa um marco de opções para a área.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Artigo científico intitulado “Multi-omic rejuvenation of human cells by maturation phase transient reprogramming”, publicado na revista eLife em 2022, de autoria de Gill e colaboradores. https://elifesciences.org/articles/71624#abstract

Matéria no site Science Daily, intitulada “Old skins cells reprogrammed to regain youthful function”, publicada em 08/04/2022. https://www.sciencedaily.com/releases/2022/04/220408083901.htm

Matéria no site Só Cientifica, intitulada “Células da pele ficam 30 anos mais jovens com nova técnica de rejuvenescimento”, publicada em 20/04/2022. https://socientifica.com.br/celulas-da-pele-ficam-30-anos-mais-jovens-com/

 

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