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Por que se vacinar contra a febre amarela?

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

A febre amarela é uma doença altamente controlada graças ao desenvolvimento vacinal na metade do século passado

DESTAQUES:
• A febre amarela é uma doença viral transmitida pela espécie de mosquito Aedes aegypti, o mesmo vetor da dengue;
• A doença foi contida com o desenvolvimento de uma vacina, com dois tipos disponíveis no Brasil, e atualmente os casos são raros;
• A vacina é uma ferramenta essencial para o controle da febre amarela.

A febre amarela é uma doença viral, podendo ser transmitida por dois principais mosquitos: o Haemagogus leucocelaenus, relacionado com um ciclo silvestre da doença, e o Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, associado a um ciclo urbano da doença. 

O ciclo silvestre tem início a partir de um macaco infectado e, quando um mosquito o pica, passa a carregar o vírus também, podendo infectar humanos que se encontram em regiões de mata. 

Já o ciclo urbano se inicia com um humano infectado, que pode ser picado pelo Aedes na cidade, permitindo que ele carregue o vírus e possa transmiti-lo para outro humano. Como esses mosquitos são típicos de regiões tropicais, ambos os ciclos têm uma alta incidência nas Américas central e do Sul e na África. 

febre amarela
Esquema dos ciclos de contaminação da febre amarela, demonstrando as diferenças entre os transmissores e entre os primeiros infectados. Além disso, há uma comparação entre os casos e os óbitos de febre amarela confirmados no Brasil entre 2016 e 2019, data do ano de publicação da imagem, permitindo visualizar a queda nesses números ao longo dos anos. Imagem: Jornal da USP, 2019.

A febre amarela apresenta sintomas e gravidade variáveis, normalmente incluindo febres, dores musculares, dor de cabeça, náusea ou vômito e, em casos mais graves, sangramentos, olhos e pele amarelados, essas últimas sendo as características que deram nome à doença. 

O tratamento da febre amarela consiste basicamente no controle dos sintomas, mas sua prevenção é feita pelo controle dos mosquitos transmissores e, principalmente pela vacinação, sendo necessária apenas uma única dose da vacina para prevenir os sintomas descritos, principalmente os mais graves, e para diminuir a incidência da doença. 

Para conter essa doença, cientistas trabalharam por anos no descobrimento do agente causador da febre amarela e no desenvolvimento de uma vacina. Em 1936 Max Theiler, um médico sul-africano, completou o desenvolvimento de uma vacina contra a doença, enquanto trabalhava nos laboratórios da Fundação Rockefeller, em Nova Iorque. Esse feito concedeu a Max Theiler o Prêmio Nobel de Medicina, em 1951. 

No ano de 1937, testes de campo foram feitos no Brasil e a vacina se mostrou eficaz na prevenção da doença, o que permitiu que ela se tornasse uma ferramenta importante no combate à mesma e pudesse ser produzida em larga escala inicialmente pelo Instituto Tecnológico em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), no Rio de Janeiro. 

Atualmente, estão disponíveis no Brasil duas vacinas contra a febre amarela:

  • a produzida pela Bio-Manguinhos (Fiocruz), usada pela rede pública
  • a produzida pela Sanofi Pasteur, usada pela rede privada. 

Ambas as vacinas são elaboradas a partir do vírus da febre amarela vivo atenuado, cultivado em ovo de galinha. Em outras palavras, para desenvolver a vacina, são feitas várias infecções do vírus em ovos de galinha embrionados, até que se obtenha um vírus enfraquecido e incapaz de produzir a doença. Então, esse vírus atenuado é utilizado no desenvolvimento da vacina. 

Quando a vacina é aplicada no indivíduo, o vírus atenuado é capaz de entrar nas células do corpo e multiplicar-se lentamente, acionando o sistema imunológico – sistema responsável por proteger o organismo contra agentes estranhos. Porém, como o vírus está atenuado, ele tem menor capacidade de se replicar, e faz isso de maneira lenta, portanto é incapaz de causar a doença. 

Dessa forma, em indivíduos que possuem um sistema imunológico saudável, reações adversas são muito raras e, se ocorrem, são brandas. Como o sistema imunológico é ativado com a aplicação da vacina, ele reconhece aquele agente estranho, o combate e produz células de memória, que protegem o organismo e respondem rapidamente em caso de uma nova infecção por este vírus. Por esse motivo, a vacina é uma ferramenta essencial para o controle da febre amarela. 

A eficácia da vacina é comprovada pelo cenário nacional observado antes e depois de 1937, que foi o ano em que a vacina foi implementada. Já em 1942 foi registrada a última epidemia urbana da doença no Brasil, e os números de casos graves foram diminuindo à medida que a cobertura vacinal nacional aumentou.

Atualmente, após mais de 540 milhões de doses aplicadas, a situação epidemiológica da doença no país é satisfatória, registrando menos de 10 casos por ano.. 

Por isso, a dica sempre é a mesma: VACINEM-SE!

 

Colaboração:

Bianca Tiemi Toma sobre a autora

Aluna de graduação do curso de Ciências Biomédicas, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Camilly Vitória Barbosa Pires sobre a autora

Aluna de graduação do curso de Ciências Biomédicas, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Carolina Carla Valera Sanchez sobre a autora

Aluna de graduação do curso de Ciências Biomédicas, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Tem interesse por doenças infecciosas e imunologia.

Karina Gersanti Custódio sobre a autora

Estudante do primeiro ano de Ciências Biomédicas, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP).

Leticia Lima Kaiser sobre a autora

Graduanda do segundo ano de Ciências Biomédicas, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Tem interesse por microbiologia e pretende seguir carreira acadêmica.

 

Referências

Matéria na revista Pesquisa Fapesp intitulada “Vacina controversa”, publicada em 03/2018. https://revistapesquisa.fapesp.br/vacina-controversa/

Matéria no site Jornal da USP intitulada “Estudos sobre a febre amarela ajudarão a monitorar doença”, publicada em 02/05/2019. https://www.jornaldocampus.usp.br/index.php/2019/05/estudos-sobre-a-febre-amarela-ajudarao-a-monitorar-doenca/

Matéria no portal Fundação Oswaldo Cruz intitulada “História e qualidade: produção da vacina contra febre amarela na Fiocruz”, publicada em 17/01/2017. https://portal.fiocruz.br/noticia/historia-e-qualidade-producao-da-vacina-contra-febre-amarela-na-fiocruz

Matéria no site Bio-Fiocruz intitulada “Vacinas virais” publicada em 22/03/2022. https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/perguntas-frequentes/perguntas-frequentes-vacinas-menu topo/131-plataformas/1574-vacinas-virais

Matéria no site do Canal Rural intitulada “Ovos embrionados são usados como matéria-prima de vacinas animal e humana” publicada em 14/09/2020. https://www.canalrural.com.br/noticias/ovos-embrionados-sao-usados-como-materia-prima- de-vacinas-animal-e-humana

Site da Pfizer. https://www.pfizer.com.br/sua-saude/vacinacao/tudo-sobre-vacinas

Site do LabPasteur. https://labpasteur.med.br/vacinas/febre-amarela

Site da Organização Pan – Americana da Saúde. https://www.paho.org/pt/topicos/febre-amarela

Site da Prefeitura Municipal de Mirandópolis.                                                                                  https://www.mirandopolis.sp.gov.br/portal/noticias/0/3/986/febre-amarela

(Editoração: Fernando F. Mecca e Nathália A Khaled)

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