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Cientistas desenvolvem tecnologia que pode ser uma solução para crise alimentar

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

A tecnologia envolve o enriquecimento nutricional de algas marinhas com proteínas, fibras alimentares e minerais para suplementar a dieta de humanos e outros animais

A Organização das Nações Unidas estima que a crise de alimentos pode durar anos e deixar dezenas de milhares à beira da insegurança alimentar. Em conjunto ao apelo do combate à fome, a crescente conscientização do público para a qualidade de produtos alimentares mais saudáveis estimula estudos que envolvem desenvolvimento de alimentos funcionais (alimentos que possuem substâncias com benefícios à saúde). Diante disso, uma pesquisa representa esperança para aliviar a crise global de alimentos.

O trabalho consiste no desenvolvimento de uma tecnologia de aquicultura que envolve a produção de algas marinhas enriquecidas com compostos que aumentam seu valor nutricional. Esse tipo de produto pode ser utilizado nas indústrias emergentes de alimentos e saúde, para uma produção de algas funcionais.

A pesquisa foi desenvolvida pelo aluno de doutorado Doron Ashkenazi, sob a orientação do Prof. Avigdor Abelson da Escola de Zoologia da Faculdade George S. Wise de Ciências da Vida da Universidade de Tel Aviv e pelo Prof. Alvaro Israel do Instituto de Pesquisa Oceanográfica e Limnológica de Israel (IOLR) em Tel Shikmona, Haifa. O artigo foi publicado na revista Innovative Food Science & Emerging Technologies.

crise alimentar
Algas usadas neste estudo. Fonte: Wikimedia.

Uma vez que algas marinhas possuem quantidades significativas de proteínas essenciais, carboidratos e minerais, seu consumo oferece uma fonte de alimento alternativa, sustentável e saudável do mar. Sendo assim, os pesquisadores desenvolveram uma abordagem inovadora de aquicultura em duas etapas, integrando algas marinhas e peixes, dedicada a enriquecer algas marinhas com compostos nutricionais a fim de tornar as algas ainda mais nutritivas.

O primeiro passo consiste no desvio de efluentes nutritivamente ricos de peixes para uma série de tanques de cultivo de algas marinhas. Em seguida, as algas foram expostas a estressores abióticos (elementos não vivos do ambiente que afetam os organismos vivos) de curto prazo, tais como alta irradiação de luz solar, carência de nutrientes e alta salinidade, para estimular a síntese de nutrientes desejados nas algas.

Essa metodologia permitiu altas taxas de crescimento, com até 25% de aumento de biomassa de algas marinhas por dia; melhorias significativas na quantidade de proteína; amido; e minerais em poucos dias. Para realizar o experimento, foram utilizadas 3 espécies de algas locais:  Ulva , Gracilaria e Hypnea.

 

A configuração experimental e os diferentes tratamentos aplicados no estudo estão descritos abaixo:

A luz solar e o sombreamento foram manipulados pela inserção e remoção de redes plásticas. A salinidade da água do mar (para o tratamento de alta salinidade) foi aumentada pela adição de ASS (Sal Marinho Artificial, sal de grau farmacêutico, Royal Nature, Israel). No geral, as 3 espécies passaram por ensaios experimentais que duraram 3 semanas: duas semanas de cultivo integrado com peixes, seguida de uma terceira semana sob condições alternadas de estresse abiótico, durante as quais condições de cultivo (temperatura, pH e irradiação solar), medição de crescimento, capacidade de remoção de nutrientes e composição química da biomassa de algas marinhas foram avaliadas.

  • Controle:

SW + Sombra: tanques sombreados recebendo cerca de 50% de luz solar plena e abastecidos com água do mar regular.

  • Tratamento 1

Peixe + Sombra (executado nas primeiras duas semanas e na terceira semana para representar um segundo controle): tanques sombreados recebendo cerca de 50% de luz solar e abastecidos com efluentes de tanques de peixes. 

  • Tratamento 2

Peixe + Sol: tanques sem sombra recebendo 100% de luz solar plena, abastecidos com efluentes de tanques de peixes e com a luz solar como estressor.

  • Tratamento 3

 SW + Sol: tanques sem sombra recebendo 100% de luz solar abastecidos com água do mar regular para criar um ambiente limitado em nutrientes combinado com um estresse solar.

  • Tratamento 4

Sal: cultivo de alta salinidade de cerca de 45–55 partes por trilhão (ppt). 

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Layout do sistema experimental. (a) cultivo integrado nas duas primeiras semanas (b) cultivo integrado na terceira semana (c,d,e) terceira semana estresses ambientais. Fonte: Ashkenazi, 2022.

Doron Ashkenazi explica que no estudo, as espécies de algas foram cultivadas nas proximidades de sistemas de piscicultura sob diferentes condições ambientais. As condições especiais permitiram o crescimento das algas marinhas e uma melhoria significativa no seu valor nutricional, tornando-se “algas enriquecidas”, que é um superalimento. Também será possível utilizar a alga enriquecida de forma aplicada para outras indústrias da saúde, por exemplo como suplementos nutricionais ou como medicamento, bem como na indústria cosmética. Em entrevista, Ashkenazi acrescenta: “As algas marinhas podem ser consideradas um superalimento natural, mais abundante nos componentes necessários da dieta humana do que outras fontes alimentares.

Através da abordagem tecnológica que desenvolvemos, o proprietário de uma fazenda ou empresário poderá planejar antecipadamente uma linha de produção de algas marinhas enriquecidas com os nutrientes de seu interesse, que podem ser utilizadas como alimentos saudáveis ​​ou suplementos nutricionais. Por exemplo, desenvolver algas marinhas com um teor particularmente elevado de proteínas, algas ricas em minerais como ferro, iodo, cálcio, magnésio e zinco, ou em pigmentos especiais ou antioxidantes. Além disso, essas algas podem ser usadas para suprir as necessidades de populações desfavorecidas em todo o mundo, bem como servir de suplementos para uma dieta vegetariana ou vegana.”

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes:

Artigo científico, “Enrichment of nutritional compounds in seaweeds via abiotic stressors in integrated aquaculture”, publicado na revista  Innovative Food Science & Emerging Technologies em 2022, de autoria de Ashkenazi e colaboradores. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1466856422001527

Matéria no site ScienceDaily, “New aquaculture technology can help ease the global food crisis” publicada em 31/08/2022. https://www.sciencedaily.com/releases/2022/08/220831094703.htm

Matéria no site Valor Investe, “A crise mundial de alimentos poderá durar anos, diz ONU’” publicada em 19/05/2022. https://valorinveste.globo.com/mercados/internacional-e-commodities/noticia/2022/05/19/a-crise-mundial-de-alimentos-poder-durar-anos-diz-onu.ghtml

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