Muitas criaturas mitológicas têm sua origem no imaginário popular, inspiradas em animais que realmente existiram. Por exemplo, os ciclopes, seres gigantes de um só olho presentes nas histórias mitológicas da Grécia Antiga, foram imaginados após encontros de pessoas com crânios de mamute. No caso dos unicórnios, esta talvez não seja a forma com que o mito foi criado, porém segundo novos estudos, animais com um só chifre na cabeça (unicórnios) viveram e talvez conviveram com humanos na Sibéria, por volta de 35 mil anos. Diferente do mito presente até hoje no imaginário popular, estes animais não eram cavalos, mas sim uma espécie de rinoceronte, chamada Elasmotherium sibiricus, um importante componente da megafauna europeia com quase dois metros de altura e quatro toneladas de peso, e um imenso e único chifre acima de suas narinas. Um novo estudo, publicado no começo deste ano, datou por isótopos de carbono 25 ossos de Elasmotherium obtidos de diferentes museus na Europa e concluiu que estes animais viveram há até pelo menos 39-35 mil anos, época em que já são encontrados registros de seres humanos modernos (Homo sapiens) habitando estas mesmas regiões. Em outra série de análises no mesmo estudo, os pesquisadores inferiram que os Elasmotherium se alimentavam basicamente de ervas que ocorriam apenas na Sibéria. Por conta desta dieta muito específica, as mudanças climáticas ocorridas a partir de 38 mil anos podem ter tornado estas ervas escassas e ter influenciado a extinção dos “unicórnios siberianos”.
Figura: Impressão artística (esquerda) e esqueleto montado (direita) de Elasmotherium sibiricum. Imagem: W. S. Van der Merwe e Igor Doronin.
Tweet-science: Gabriel de Souza Ferreira
Artigo original: Revista Nature Ecology & Evolution (Jan/2019) # Evolution and extinction of the giant rhinoceros Elasmotherium sibiricum sheds light on late Quaternary megafaunal extinction. Autores: P. Ksintsev, K. J. Mitchell e colaboradores.
(Editoração: Gabriela Duarte, Priscila Rothier, André Pessoni e Caio Oliveira)