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Mudanças climáticas atuais e o futuro da vida na Terra

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Sobre
Categoria: Artigo – Revista Eletrônica Frontiers for Young Minds
Título original: Current Climate Change and the Future of Life on the Planet
Ano de publicação: 2019
Link do artigo original: https://kids.frontiersin.org/articles/10.3389/frym.2019.00037

Resumo

Desde a Revolução Industrial, o clima na Terra tem mudado rapidamente. As ações humanas são o principal fator que promovem esse ritmo intenso de mudanças. Em particular, o uso massivo de combustíveis fósseis (óleo, carvão, gás) libera uma grande quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, que se concentra e aquece o planeta. Até agora, essa mudança climática não afetou muito a vida na Terra. No entanto, é uma ameaça para a existência de várias formas de vida, que têm de suportar as mudanças climáticas e as ações do homem (por exemplo, desmatamento). Todos esses fatores combinados podem também nos afetar em breve. Por exemplo, a disponibilidade de alimentos pode ser drasticamente reduzida. Nesse artigo, falaremos sobre a ligação entre as atividades humanas e as mudanças climáticas, pois a humanidade pode desacelerar seu impacto no planeta. Há muitas coisas que todos podem fazer para ajudar a desacelerar as mudanças climáticas e a extinção de formas de vida em um futuro próximo.

 

HOJE, O CLIMA ESTÁ MUDANDO MUITO RÁPIDO E ISSO NÃO É NATURAL

Você sabe a diferença entre tempo e clima? O tempo é composto por uma série de propriedades físicas, como temperatura, precipitação, velocidade do vento e muitas outras características que mudam de acordo com as estações, dias ou mesmo horas. Quando consideramos o tempo durante longos períodos (30 anos ou mais), estamos falando sobre o clima. O clima do nosso planeta muda constantemente ao longo dos anos (Figura 1A). No passado, alguns períodos de tempo eram consideravelmente mais quentes e outros consideravelmente mais frios do que hoje, e mudanças semelhantes acontecerão no futuro.

 

mudanças climáticas terra

Figura 1: (A) As mudanças na temperatura média e nos níveis de CO2 nos últimos 100.000 anos. (B) As mudanças na temperatura média e nos níveis de CO2 entre os anos de 1880 e 2016. Em ambos (A, B), a linha azul-vermelha representa as mudanças de temperatura e a linha verde-marrom representa a variação de CO2. A partir desses gráficos, você pode ver claramente que: (1) as mudanças climáticas e a variação de CO2 estão intimamente relacionadas; (2) o clima tem mudado ao longo de milhares de anos; e (3) a Terra está aquecendo rapidamente desde 1880. (C) Os gases de efeito estufa são gases capazes de aquecer a Terra e a atmosfera. A liberação de gases de efeito estufa na atmosfera (setas para cima) e a remoção da atmosfera (setas para baixo) são mostradas. As setas vermelhas representam as emissões antropogênicas e as verdes representam as emissões naturais (os dados de A e B vêm da NASA e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, EUA). Adaptado de Hubbe, A. e Hubbe, F., 2019. 

Cerca de 20.000 anos atrás, a última fase de resfriamento terminou, iniciando um período de aquecimento até cerca de 8.000 anos atrás, durante o qual a temperatura média da Terra aumentou entre 3,1 ºC a 4,7 ºC [1]. Isso significa uma mudança de cerca de 0,03 ºC a cada século. Entre 8.000 anos atrás e a Revolução Industrial (cerca de 200 anos atrás), as temperaturas eram relativamente constantes. Desde então, as temperaturas voltaram a aumentar rapidamente (Figura 1A, B). Em 2100, os cientistas acreditam que a temperatura média do planeta terá aumentado 2 ºC a 4,9 ºC adicionais em comparação com as temperaturas na época da Revolução Industrial [2]. Isso significa que o aumento da temperatura do planeta no próximo século acontecerá cerca de 100 vezes mais rápido do que aconteceu nos últimos 20.000 anos. Enquanto as mudanças anteriores no clima foram resultado de vários fatores, como quantidade de energia proveniente do Sol e a concentração de diferentes gases atmosféricos, desta vez os humanos são os principais responsáveis. É por isso que chamamos o aquecimento atual de mudança climática antropogênica (ou induzida pelo homem). 

Desde a Revolução Industrial, nossa espécie vem queimando enormes quantidades de combustível fóssil para atender à nossa demanda cada vez maior por energia. Principalmente por meio da atividade industrial, nos últimos 200 anos, os humanos aumentaram a quantidade de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera em cerca de 46%. E o CO2 não é o único fator que afeta o clima. O uso de combustíveis fósseis, agricultura, processos industriais e desmatamento emitem outras substâncias (ou evitam que diminuam naturalmente) que contribuem para as mudanças climáticas (Figura 1C).  

A mudança climática antropogênica pode não parecer muito para nós agora, mas terá um enorme impacto na humanidade, tanto nas gerações atuais quanto nas próximas. A frequência e a intensidade dos fenômenos naturais, como secas e tempestades, muito provavelmente aumentarão, trazendo várias consequências para os humanos (Tabela 1). Até mesmo nossos limites costeiros mudarão dramaticamente com a elevação dos oceanos, principalmente devido ao derretimento das calotas polares. Isso pode resultar no abandono de cidades litorâneas inteiras, como Nova York, Miami, Rio de Janeiro, Amsterdã e Bangkok.

Tabela 1: Principais impactos diretos na vida humana devido às mudanças climáticas antropogênicas. Adaptado de Hubbe, A e Hubbe, F., 2019.

As mudanças climáticas também afetaram as formas de vida no planeta, Vários micróbios, plantas e animais provavelmente serão extintos. Só para dar uma ideia de como a vida pode mudar em resposta à mudança climática, apenas 6.000 anos atrás, o Deserto do Saara, um dos lugares atuais mais secos da Terra, estava coberto por uma vegetação exuberante. Esta paisagem verde foi resultado das condições mais úmidas na região na época [3].

 

ENTÃO, O QUE ACONTECE COM OS SERES VIVOS QUANDO O CLIMA MUDA?

As mudanças climáticas afetam a forma como os seres vivos interagem uns com os outros e com o ambiente em que vivem. Quando enfrentam desafios climáticos, as espécies têm duas opções principais, que podem acontecer também combinadas. A primeira é migrar. Por exemplo, à medida que as temperaturas da superfície do oceano aumentam, devido às mudanças climáticas antropogênicas, várias espécies, de algas a peixes, estão se movendo em direção aos pólos em busca de águas mais frias [4]. Para que a migração aconteça, as espécies devem ser capazes de encontrar outro lugar onde possam sobreviver e prosperar. Isso é mais fácil, como você pode imaginar, para as espécies que são capazes de viajar longas distâncias durante a vida, como baleias e pumas. No entanto, pode ser muito difícil para espécies que não podem viajar longas distâncias ou que não dispersam sementes muito longe ou com muita frequência, como as preguiças e as orquídeas.

A outra forma de uma espécie sobreviver é evoluindo. A evolução pode acontecer em pequena escala. Por exemplo, ao longo de algumas gerações, os esquilos alpinos (Tamias alpinus) no Parque Nacional de Yosemite, Califórnia, EUA, desenvolveram faces mais longas nos últimos 100 anos em resposta à mudança climática [5]. A evolução também pode acontecer em grande escala, resultando na origem de novas espécies. Por exemplo, os ursos pardos (Ursus arctos) e os ursos polares (Ursus maritimus) evoluíram da mesma espécie de urso, em um processo que começou por volta de 480–340 mil anos atrás, à medida que os dois grupos acumulavam mais e mais diferenças ao longo do tempo [6].

Infelizmente, quando as espécies não conseguem migrar ou evoluir em resposta às mudanças do ambiente, elas se extinguem. O estilo de vida da humanidade e o número cada vez maior de humanos no planeta impõem uma série de desafios para a sobrevivência de várias espécies (Figura 2). Cerca de duas espécies de vertebrados foram extintas por ano durante os últimos 100 anos, principalmente devido às causas humanas [7]. Alguns exemplos dos muitos subprodutos prejudiciais do nosso estilo de vida são o intenso desmatamento causado pela agricultura e a poluição do ar e da água. A mudança climática antropogênica merece atenção especial, pois é diferente de outros impactos humanos. A mudança climática antropogênica tem um efeito global, mesmo em áreas que raramente são perturbadas por outros impactos humanos, como algumas áreas protegidas. Além disso, a mudança climática antropogênica está acontecendo muito rapidamente para que várias espécies tenham tempo de migrar ou evoluir. Isso significa que a mudança climática antropogênica é uma séria ameaça às espécies que já lutam para sobreviver em uma Terra amplamente transformada pelo homem. A mensagem para levar para casa é: os humanos estão causando um impacto devastador e duradouro na vida na Terra. Para colocar em números, é possível que mais de 75% de todas as espécies, três em cada quatro espécies que existem atualmente, estejam extintas daqui há alguns séculos [8]!

Figura 2: (A) Taxas de extinção de vertebrados desde o ano 1500. A linha pontilhada (“Fundo”) representa a taxa de extinção esperada sem influência humana. Você pode ver que a quantidade de extinções causadas por humanos aumentou com o tempo e é várias vezes maior do que a taxa de extinção de fundo. (B) Principais formas pelas quais os humanos estão causando extinções. Adaptado de Hubbe, A. e Hubbe, F., 2019.

A extinção de formas de vida primorosas é triste por si só, mas o problema da extinção vai muito além do simples desaparecimento desses organismos. Contamos com muitos deles para sobreviver. A qualidade do ar que respiramos, da água que bebemos e dos alimentos que ingerimos, só para citar alguns fatores, estão diretamente relacionados com a existência e a saúde de várias outras espécies.

Além disso, também estudamos outras formas de vida para encontrar soluções para nossos próprios problemas. Por exemplo, o velcro foi desenvolvido após estudar as sementes de uma planta chamada bardana, também conhecido como carrapicho em algumas regiões, que naturalmente se prendem às roupas. Vários medicamentos foram descobertos em diferentes formas de vida e só mais tarde foram sintetizados em laboratórios. Existem inúmeras invenções e descobertas à nossa espera através do estudo da natureza, mas elas só estão disponíveis enquanto as espécies que podem nos ajudar ainda estiverem vivas no planeta.

 

SEJA PARTE DA SOLUÇÃO!

Em todo o mundo, as pessoas estão trabalhando juntas para diminuir os efeitos das mudanças climáticas e de outros impactos humanos negativos no planeta. O Acordo de Paris, iniciado em 2016, é um bom exemplo disso. Este acordo é um esforço global para evitar que as temperaturas globais aumentem mais de 2 °C em relação ao período anterior à Revolução Industrial. A ideia básica é reduzir drasticamente as emissões globais de CO2 e outras substâncias que contribuem para as mudanças climáticas. Atualmente, 185 países – de quase 200 existentes – aderiram ao Acordo de Paris. A cidade dinamarquesa de Copenhagen também tem um plano ambicioso. Ela quer se tornar uma cidade neutra em carbono até 2025. Para esse fim, entre outras coisas, a cidade está mudando sua produção de energia de combustível fóssil para energia derivada, principalmente, do vento e de resíduos animais/vegetais, reduzindo a quantidade de lixo produzida, além de transformar a cidade em uma enorme ciclovia. Em vários países, os cientistas estudam diferentes maneiras de retirar o CO2 da atmosfera e transformá-lo em algo útil. Alguns pesquisadores, por exemplo, estão estudando como usar bactérias para transformar o CO2 em combustível.

No entanto, em um planeta com mais de 7,6 bilhões de pessoas, todos nós precisamos mudar nossos modos de vida para minimizar as mudanças climáticas antropogênicas. Existem muitas maneiras de cada um de nós fazer a sua parte. Um bom primeiro passo é calcular a pegada de carbono da sua família. A pegada de carbono mede a quantidade de CO2 que estamos emitindo para a atmosfera em um determinado período de tempo. Você pode calcular sua pegada de carbono usando diferentes calculadoras online. Uma das muitas possibilidades é o http://www.neutralizecarbono.com.br/calculadoradecarbono/. E depois de saber sua pegada de carbono, tente reduzi-la! Você ficará surpreso com a quantidade de coisas que fazemos que impactam o planeta. O lado bom é que também existem muitas maneiras simples de reduzir nosso impacto negativo. Aqui estão algumas coisas fáceis que qualquer um de nós pode fazer para ajudar a prevenir mudanças climáticas antropogênicas: http://www.un.org/sustainabledevelopment/takeaction/. Algumas dessas ações fáceis incluem: não compre coisas de que não precisa, desligue os aparelhos e desligue as luzes que não estiver usando, tome banhos mais curtos, coma menos carne, aves e peixes, compre localmente e de fontes sustentáveis ​​e use sua bicicleta ou transporte público em vez de um carro sempre que possível. Ações simples como essas podem fazer uma grande diferença se um número suficiente de nós as executar! Todos devemos tentar reduzir nossas pegadas de carbono o máximo que pudermos, pois, então, reduziremos nosso impacto sobre as mudanças climáticas antropogênicas e as consequências negativas relacionadas para a vida na Terra.

Vamos mudar o mundo de uma forma mais bacana!

 

Tradução:

Beatriz Spinelli  sobre a tradutora           

Licenciada em Letras e mestra em Saúde, interdisciplinaridade e reabilitação pela Unicamp, pesquisando o ensino de língua portuguesa como segunda língua para surdos. Trabalha como editora de materiais didáticos na área de Linguagens e suas Tecnologias e tem um carinho muito grande pela educação especial, principalmente a educação bilíngue para surdos. Tem interesse por novas tecnologias voltadas à educação e por divulgação científica.

 

Artigo Original

Hubbe, A. e Hubbe, M. (2019) Current Climate Change and the Future of Life on the Planet. Front. Young Minds. 7:37. doi: 10.3389/frym.2019.00037

Declaração de conflito de interesse

Os autores declaram que a pesquisa foi realizada na ausência de quaisquer relações comerciais ou financeiras que pudessem ser interpretadas como um potencial conflito de interesses.

Agradecimentos

Somos profundamente gratos aos incríveis jovens revisores Rachel, Lorenzo, Matias e os 48 alunos da Escola Primária Manor Gardens. Também somos muito gratos aos mentores Luisa e David, e aos editores Martha e Susan. Todos eles forneceram comentários perspicazes sobre um rascunho anterior deste manuscrito.

Fontes:

[1] Annan, J. D., and Hargreaves, J. C. 2013. A new global reconstruction of temperature changes at the last glacial maximum. Clim. Past 9:367–76. doi: 10.5194/cp-9-367-2013

[2] Raftery, A. E., Zimmer, A., Frierson, D. M. W., Startz, R., and Liu, P. 2017. Less than 2°C warming by 2100 unlikely. Nat. Clim. Change 7:637–41. doi: 10.1038/nclimate3352

[3] deMenocal, P., Ortiz, J., Guilderson, T., Adkins, J., Sarnthein, M., Baker, L., et al. 2000. Abrupt onset and termination of the African humid period: rapid climate responses to gradual insolation forcing. Q. Sci. Rev. 19:347–61. doi: 10.1016/S0277-3791(99)00081-5

[4] Poloczanska, E. S., Brown, C. J., Sydeman, W. J., Kiessling, W., Schoeman, D. S., Moore, P. J., et al. 2013. Global imprint of climate change on marine life. Nat. Clim. Change 3:919–25. doi: 10.1038/nclimate1958

[5] Walsh, R. E., Assis, A. P. A., Patton, J. L, Marroig, G., dawson, T. E., and Lacey, E. A. 2016. Morphological and dietary responses of chipmunks to a century of climate change. Glob. Change Biol. 22:3233–52. doi: 10.1111/gcb.13216

[6] Liu, S., Lorenzen, E. D., Fumagalli, M., Li, B., Harris, K., Xiong, Z., et al. 2014. Population genomics reveal recent speciation and rapid evolutionary adaptation in polar bears. Cell 157:785–94. doi: 10.1016/j.cell.2014.03.054

[7] Ceballos, G., Ehrlich, P. R., and Dirzo, R. 2017. Biological annihilation via the ongoing sixth mass extinction signaled by vertebrate population losses and declines. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 114:E6089–96. doi: 10.1073/pnas.1704949114

[8] Barnosky, A. D., Matzke, N., Tomiya, S., Wogan, G. O. U., Swartz, B., Quental, T. B., et al. 2011. Has the earth’s sixth mass extinction already arrived? Nature 471:51–7. doi: 10.1038/nature09678

[9] Ceballos, G., Ehrlich, P. R., Barnosky, A. D., Garcia, A., Pringle, R. M., and Palmer, T. M. 2015. Accelerated modern human-induced species losses: entering the sixth mass extinction. Sci. Adv. 1:e1400253. doi: 10.1126/sciadv.1400253

(Editoração: Beatriz Spinelli e Fernando Mecca)

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