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Crenças e atitudes sobre tubarões e as implicações para sua conservação

#Ao seu alcance (Artigos científicos em linguagem simplificada)

Destaques
● Tubarões despertam medo e admiração nas pessoas;
● A percepção que as pessoas têm sobre os tubarões impactam o desenvolvimento e o sucesso de estratégias que permitam a conservação das espécies desses animais;
● Adquirir um maior conhecimento sobre os tubarões, assim como experiências prévias e contato com conteúdos sobre conservação favorecem a criação de imagens positivas sobre estes animais.

Compreender os fatores que influenciam o comportamento e a percepção das pessoas em relação à biodiversidade é essencial para o planejamento e a implementação de ações de conservação que possam ser efetivas.

Nesse contexto, João Neves e colaboradores publicaram o artigo intitulado Changing trends: beliefs and attitudes toward sharks and implications for conservation, de tradução livre Crenças e atitudes sobre tubarões e as implicações para sua conservação. Nele, os autores apresentam exemplos de estudos e reflexões sobre temas relacionados à percepção das pessoas sobre tubarões e as consequências para conservação destes animais marinhos.

tubarões
Cardume de tubarões observados na ilha de Bora-Bora. Fonte: unsplash.com

 

Antes de tudo, por que existem tubarões ameaçados de extinção? 

Os motivos, infelizmente, são muitos. Os autores do artigo destacam a pesca de tubarões, a pesca de outros animais (no qual tubarões acabam sendo vítimas) e a perda de seus habitat. Desde 1970, 71% da população de tubarões e raias diminuiu no mundo todo.

Ok, e por que isso importa?

Tubarões são predadores importantes e a perda de indivíduos deste grupo afeta a estrutura trófica (cadeia alimentar) do ecossistema marinho em que estão inseridos. Isso tem consequências na abundância e ocorrência de várias espécies, incluindo peixes usados na nossa dieta.

Você sabia que tubarões estão na lista das 20 espécies mais carismáticas*?

*Lista feita a partir de um estudo científico. Para saber mais, confira: Albert C, Luque GM, Courchamp F (2018). The twenty most charismatic species. PloS one 13(7):e0199149.

Apesar disso, narrativas sobre estes animais continuam evidenciando características negativas, representando tubarões como predadores vorazes.

Os autores destacam vários estudos que buscaram identificar atitudes e conhecimentos das pessoas em relação a tubarões. Para identificar estes fatores, pesquisadores podem fazer análises do conteúdo de materiais nas mídias sociais e outros canais de comunicação, entrevistas com pessoas e até análises de desenhos de crianças!

Um estudo citado no artigo de João Neves e colaboradores relata que tubarões, além de serem associados ao gênero masculino, entram no estereótipo misto de predadores muito competentes, mas pouco “calorosos”. Animais associados com esta percepção geralmente evocam medo (poxa, são superpredadores!), mas também respeito e admiração justamente pelos traços associados a esta competência (inteligência, beleza, determinação).

E o que influencia nossa percepção sobre tubarões? 

Um maior conhecimento sobre estes animais foi associado a percepções menos utilitaristas, atitudes menos negativas e a menor percepção de risco de ataques.

Experiências prévias com tubarões e exposição à materiais midiáticos com maior teor de conteúdos voltados à sua conservação são fatores relevantes para imagem positiva deste animal. Assim, ações de educação que aproximem as pessoas dos tubarões, desmistifiquem e forneçam informações corretas sobre seus comportamentos e ecologia podem ser chave para mudança de atitudes e comportamentos.

Comunicação é tudo! Quem aqui já assistiu o filme “tubarão”? 

A interação entre humanos e tubarões é de baixa probabilidade, porém tem grandes consequências  e por isso são foco de grande atenção da mídia e podem influenciar muito a percepção das pessoas. 

Políticas públicas e comunicação midiáticas que amplificam mensagens que causam medo, são superficiais e não relatam a realidade dos acontecimentos, afetando como as pessoas entendem a problemática relacionada à conservação dos tubarões e perpetuam estratégias de manejo e práticas pouco efetivas ou sem sucesso nenhum. 

Um dos estudos citados identificou que discursos políticos relacionados a estratégias de reduzir acidentes com tubarões na Austrália entre 2000 e 2014 estavam mais alinhadas a narrativas de filmes que em evidências científicas. 

Apesar da predominância de atitudes negativas relacionadas aos tubarões, os autores do artigo indicaram que esta percepção pode estar sendo gradualmente alterada. Como exemplo, foi citada a semana do tubarão do canal Discovery. Desde 1988, todo ano esta semana atrai a atenção de milhões de pessoas em mais de 70 países. Um estudo analisando o conteúdo dos programas exibidos entre 2001 e 2012 indicou que, apesar da persistência de elementos que evidenciam tubarões como predadores mortais, desde 2010 há uma presença maior de materiais científicos e relacionados à conservação destas espécies de peixes. 

Estes pontos são relevantes porque canais midiáticos (como jornais, Instagram e programas de tv) são uma importante fonte de informação para as pessoas e podem moldar ou limitar a percepção delas sobre uma variedade de assuntos, incluindo a conservação da biodiversidade. Por isso, os autores reforçam a importância da interação entre governo, cientistas e jornalistas para fornecer uma comunicação precisa, informativa e não superficial sobre comportamento e ecologia dos tubarões e nossas interações com eles.

O artigo de Neves e colaboradores ainda discute outros caminhos que poderiam ser explorados e relatam outras pesquisas relacionadas à percepção das pessoas sobre os tubarões.

 

Quer saber mais?

Leia o texto completo aqui: https://www.ethnobioconservation.com/index.php/ebc/article/view/630/347

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Colaboração: Bruna Lima Ferreira sobre a autora

Bruna é bióloga e mestre pela USP e pesquisadora colaboradora do Programa de Conservação Mamíferos do Cerrado (PCMC). É fascinada pelas relações que as pessoas têm com a natureza e pela busca de estratégias que promovam comportamentos mais sustentáveis e a reaproximação (e valorização) da sociedade e natureza. Acredita no papel da popularização científica e ensino de ciências para construção de uma ciência democrática.

 

Artigo Original:

O texto apresentado é uma adaptação do artigo Changing trends: beliefs and attitudes toward sharks and implications for conservation, publicado pela revista Ethnobiology and Conservation em 2022, de autoria de NEVES, João; MCGINNIS, Terran e GIGER, Jean-Christophe.

 

(Editoração: Nathália A. Khaled)

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