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Polvos são capazes de editar naturalmente seu próprio RNA

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Nova pesquisa indica que os cefalópodes editam suas proteínas neurais para se adaptarem às mudanças de temperatura.

Polvos são conhecidos por serem animais muito complexos por possuírem, por exemplo, um sistema nervoso relativamente extenso com cerca de meio bilhão de células nervosas, destacando-os dos demais invertebrados. Eles têm cérebros semelhantes aos humanos – ambos descendem evolutivamente do mesmo animal primitivo e possuem sistemas nervosos centrais complexos. Ainda, sua habilidade cognitiva pode se aproximar à dos cães.

Nesse contexto, uma nova pesquisa descobriu que os polvos têm a capacidade de editar seu próprio RNA, o que permite-lhes se adaptar rapidamente às mudanças sazonais de temperatura. Isso é particularmente importante porque os polvos não regulam sua própria temperatura corporal e são vulneráveis a danos cerebrais em temperaturas extremas.

O RNA é uma molécula biológica que compõe o material genético dos seres vivos, mais especificamente um tipo de ácido nucleico, que possui várias funções nos organismos, sendo a principal delas a produção de proteínas. Assim como DNA, o RNA é uma molécula polimérica formada por nucleotídeos que formam uma sequência, ou um código, o qual é importante por carregar informação necessária para a formação das proteínas.

A recodificação do RNA é um processo que permite que os organismos editem temporariamente suas proteínas, no caso dos polvos as proteínas neurais e outras proteínas cerebrais em resposta a mudanças no ambiente físico. Ao contrário das mutações de DNA, essas edições podem ocorrer rapidamente e sem alterar permanentemente o material genético original.

O trabalho foi realizado por uma equipe internacional liderada pelo Laboratório Biológico Marinho de Massachusetts estudou como os polvos lidam com as mudanças sazonais de temperatura. Eles descobriram que os polvos produzem diferentes proteínas neurais com base na temperatura da água do mar em que vivem. Essa adaptação rápida ajuda esses animais a sobreviver em ambientes desafiadores. Além disso, os pesquisadores também descobriram que a edição sensível à temperatura ocorreu globalmente nos cefalópodes, incluindo lulas e chocos — todos membros da mesma família dos polvos.

polvos
A classe Cefalópodes inclui animais como polvo, lula, sépia e náutilos. Fonte: wikimedia

A capacidade dos polvos de editar seu próprio RNA é uma adaptação única no reino animal, pois, enquanto os humanos editam apenas cerca de 3% de seus genes, os polvos podem recodificar a maioria de suas proteínas cerebrais. Isso é particularmente notável porque essa recodificação ocorre principalmente em proteínas neurais essenciais para o funcionamento do sistema nervoso.

Segundo os cientistas, o processo se destaca por ocorrer de maneira muito rápida. “Não tínhamos ideia real da rapidez com que isso pode acontecer: se leva semanas ou horas”, disse Matthew Birk, professor assistente na Universidade Saint Francis, que liderou o projeto, em um comunicado à imprensa. “Pudemos ver mudanças significativas em menos de um dia e, em quatro dias, elas estavam nos novos níveis de estado estacionário em que você as encontra depois de um mês.”

 

Colaboração:

Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Só Científica, intitulada “Polvos editam seus próprios RNAs para lidarem com o clima” , publicada em 09/06/23. https://socientifica.com.br/polvos-editam-seus-proprios-rnas-para-lidarem-com-o-clima/

 

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