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Populações de cães de Chernobyl são geneticamente diferentes de outras no mundo

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Estudo mostra que os cães da cidade de Chernobyl são diferentes de cães de raça pura e de raça não definida em todo o mundo

O desastre nuclear de Chernobyl foi um acidente operacional de uma usina nuclear situada na região norte da Ucrânia Soviética em abril de 1986. O acidente levou a contaminação ambiental generalizada e de longo prazo da região. Diante disso, muitos estudos visam entender como o evento e a radiação no ambiente afetou os animais  nos arredores da usina. Um desses estudos, publicado em março de 2023 na Science Advances, mostrou que os cães que vivem na usina ou até em 45 quilômetros da usina são geneticamente diferentes de outras populações de cães no mundo. 

A Zona de Exclusão de Chernobyl é uma área de cerca de 30km que foi contaminada pela nuvem radioativa liberada após o acidente, compreendendo as cidades de Pripyat e Chernobyl, que se tornaram cidades fantasmas. Hoje a região conta com cerca de 800 cães abandonados, que são alimentados por trabalhadores da limpeza de Chernobyl e turistas.

Em 2017, Timothy Mousseau, um dos autores do estudo e ecologista evolutivo da Universidade da Carolina do Sul, estava entre os visitantes do local e encontrou os cães de Chernobyl em uma viagem com o Clean Futures Fund, uma organização que cuida de animais. A partir de então, Mousseau visitou o local mais de 50 vezes para coletar amostras de sangue de cachorros de vida livre.

Com essas amostras os autores foram capazes de extrair o DNA dos animais e caracterizar a estrutura genética de 302 cães. Com isso, foi possível identificar três populações genéticas, sendo a genética de populações, um campo de estudo que busca estudar a distribuição e a composição genética em uma ou mais populações e as consequências de possíveis mudanças nessa composição. Eles observaram que os cães podem ser agrupados de acordo com a proximidade da usina: 1) população de cães que vivem na usina; 2) população de cães de até 15 km de distância; 3) população de cães de até 45 km de distância.

Um desastre nuclear impõe certa pressão seletiva (conjunto de condições ambientais que origina o favorecimento de determinados genes em relação a outros em determinada população) à vida na região afetada. Dessa forma, alterações genéticas nos animais do ambiente, que são passadas para suas proles, contribuem para adquirir padrões genéticos diferenciados. Neste contexto, a análise de parentesco referente a ancestralidade dos animais revela também a existência de 15 famílias de cães, com a maior abrangendo todos os locais de coleta dentro da zona de exclusão radioativa, o que reflete a migração dos animais entre a usina e a cidade de Chernobyl.

cão chernobyl
Cão em Chernobyl. Fonte: Timothy Mousseau/AP – Reprodução SoCientifica

Além disso, as amostras foram comparadas com amostras de sangue de outros cães, o que permitiu a conclusão que os cães de Chernobyl são geneticamente diferentes dos demais. Os autores afirmam que o relativo isolamento desses animais na área contaminada contribuiu para que houvesse uma menor contribuição genética de cães modernos nestas populações, propiciando a sua caracterização e desenho de todos os futuros estudos de mapeamento genético de animais da região. Além disso, eles também explicam que cada um dos três distintos grupos de cães na região de Chernobyl experimentou níveis diferenciais de contaminação que são bem registrados.

Os autores enfatizam que o estudo apresenta a primeira caracterização de uma espécie doméstica em Chernobyl, estabelecendo sua importância para estudos genéticos sobre os efeitos da exposição à radiação de baixa dose e longa duração. Eles concluem que a maior contribuição da pesquisa para sociedade reside na compreensão dos fundamentos biológicos da sobrevivência animal e até humana em regiões de alto e contínuo ataque ambiental.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes:

Artigo científico intitulado “The dogs of Chernobyl: Demographic insights into populations inhabiting the nuclear exclusion zone”, publicado na revista Science Advances em 2023, de autoria de Spatola e colaboradores. https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.ade2537

Matéria no site SoCientifíca, intitulada “Estudo mostra que cães de Chernobyl são geneticamente distintos”, publicada em 07/03/2023. https://socientifica.com.br/caes-de-chernobyl/

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