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Recifes de corais hospedam milhões de bactérias: biodiversidade da Terra pode estar muito subestimada

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque na semana)

Com amostras encontradas em apenas 99 recifes do Oceano Pacífico o estudo identificou meio milhão de variedades de bactérias.

Cientistas relataram que peixes e corais em recifes em todo o Oceano Pacífico podem abrigar quase 3 milhões de variedades de bactérias. O trabalho, publicado em 1º de junho na revista Nature Communications, indica que os cientistas até então haviam subestimado amplamente o microbioma da Terra. A nova contagem de bactérias que vivem apenas nos recifes de corais do Oceano Pacífico se enquadra no que eram as estimativas atuais para a diversidade microbiana total da Terra, sugerindo que há exponencialmente mais bactérias vivendo no planeta do que se pensava anteriormente.

Os recifes de coral estão entre os ecossistemas mais diversos da Terra, e os microrganismos são essenciais para manter saudáveis todas as criaturas que vivem nesse habitat. As bactérias, por exemplo, podem ajudar os corais a obter os nutrientes que precisam para sobreviver ou a protegê-los contra doenças, caracterizando uma relação ecológica harmônica, também conhecida como simbiose, onde ambos os organismos têm vantagens na associação.

Além disso, esse microbioma pode oferecer proteção contra o estresse térmico mortal para os corais. No entanto, a biodiversidade desses microrganismos que vivem nos recifes ainda não é clara para os cientistas. A maioria dos estudos examina espécies animais em uma pequena área ou se concentra em apenas uma espécie. Por outro lado, pesquisas globais são difíceis de se fazer. 

recifes de corais
Um recife de coral é formado pela acumulação de animais marinhos e de certas algas. Fonte: wikimedia.org

Durante a Expedição Tara Pacific de 2016 a 2018, os autores do atual trabalho visitaram 99 recifes de corais. Em cada local, eles coletaram amostras de plâncton, três espécies de corais e duas espécies de peixes, acumulando 5.392 amostras. A equipe então categorizou quantas variedades de bactérias poderiam encontrar em cada amostra, com base nas diferenças genéticas entre os microrganismos.

Os cientistas explicam que “a palavra espécie realmente não funciona bem para micróbios”, diz Jennifer Biddle, ecologista microbiana da Universidade de Delaware em Lewes, que não participou do estudo. É difícil comparar características físicas como forma ou cor para separar organismos tão pequenos e difíceis de ver em espécies distintas.

As análises genéticas da equipe identificaram mais de 540.000 variedades bacterianas vivendo nos três tipos de organismos analisados. Esse número sozinho – de uma pequena fração da fauna de recifes do Pacífico – representa cerca de 20% das estimativas atuais de todas as bactérias que vivem na Terra, que variam de 2,72 milhões a 5,44 milhões. Com base na quantidade de espécies de peixes e corais que vivem no Pacífico ocidental e central, os recifes de corais desse oceano sozinhos podem abrigar pelo menos 2,8 milhões de tipos de bactérias, calculou a equipe.

Essa diversidade pode ser uma espécie de “seguro ecológico” para os recifes, disse Pierre Galand, primeiro autor do estudo. Por exemplo, vários tipos de bactérias podem ajudar os corais de uma mesma maneira, como garantir que as criaturas construtoras de corais obtenham nutrientes essenciais. A vantagem é que, com tanta diversidade, algumas bactérias podem facilmente substituir outras que estejam com problemas quando fatores como altas temperaturas causam a queda da população bacteriana. 

As estimativas ainda podem estar subestimando a diversidade microbiana nos recifes do Pacífico, dizem os autores. É difícil contabilizar algo invisível a olho nu, e as ferramentas moleculares para examinar o material genético geralmente excluem organismos que os cientistas desconhecem. “Estamos sempre subestimando os microrganismos com os métodos que estamos usando”, concluem.

 

Colaboração:

Jéssica de Moura Soares sobre a autora

Jéssica de Moura Soares é bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Science News, intitulada “Coral reefs host millions of bacteria, revealing Earth’s hidden biodiversity”, publicada em 01/06/23. https://www.sciencenews.org/article/coral-reef-bacteria-microbe-biodiversity

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