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Condições precárias de trabalho dos catadores favorecem a propagação de vírus causadores de doenças neste grupo
Os catadores de materiais recicláveis fazem parte de um grupo demográfico marginalizado envolvido na coleta de lixo, enfrentando riscos no local de trabalho. Isso aumenta sua suscetibilidade a contrair doenças infecciosas. Diante disso, pesquisadores das universidades de Brasília (UnB), de São Paulo (USP), do Instituto Butantan e do Campus Biomédico da Itália analisaram amostras de sangue de 120 catadores que em 2017 trabalhavam no aterro da Cidade Estrutural, um lixão ao ar livre, localizado no Distrito Federal do Brasil, antes de sua desativação oficial. Os resultados foram publicados na Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, em agosto de 2024.
Para realização do estudo, os pesquisadores utilizaram a amostra de plasma de 120 pessoas que trabalham coletando recicláveis, sendo este o grupo de estudo, e 60 amostras de plasma de doadores de sangue foram obtidas no Hemocentro da cidade de Ribeirão Preto, caracterizando o grupo controle. No grupo de estudo, a idade variava de 19-66 anos, com idade média de 39 anos, tendo 71,7% de participantes do sexo feminino e 28,3% do sexo masculino. No grupo controle, a idade média e a porcentagem de participantes do sexo masculino e feminino se aproximavam do grupo de estudo.
A fim de retirar qualquer impureza e descartar contaminação de material genético de outros organismos, as amostras de plasma foram tratadas com uma enzima chamada DNAse, que é capaz de digerir DNA, removendo esse tipo de molécula da amostra. Assim, só moléculas de RNA, material genético de vírus, permanecem na amostra. A partir do RNA, foi feito o DNA complementar ao RNA presente nas amostras por meio da técnica de transcrição reversa. Com isso, esse DNA complementar foi sequenciado, ou seja, a sequência do DNA foi descrita, permitindo comparar essas amostras com as sequências de vários vírus conhecidos.
Nas amostras do grupo de catadores de materiais recicláveis foi observada a presença de vírus conhecidos, como o HIV (vírus da imunodeficiência humana), HCV (vírus da hepatite C), da dengue e da Chikungunya (CHIKV). Estes vírus não foram encontrados nas amostras de sangue no grupo-controle. O HIV e o HCV podem contaminar resíduos sólidos depositados indevidamente em lixões. Consequentemente, há uma necessidade urgente de mais pesquisas para avaliar os riscos ocupacionais, como lesões e cortes, entre os catadores de materiais recicláveis para adquirir essas infecções.
Os resultados obtidos no estudo destacam a importância do monitoramento de infecções específicas em populações vulneráveis, o que poderia subsidiar políticas e práticas de saúde pública. Ao considerar fatores sociais, culturais e econômicos em conjunto com dados epidemiológicos, os formuladores de políticas podem desenvolver intervenções destinadas a salvaguardar a saúde e o bem-estar de comunidades marginalizadas, como os catadores. Principalmente devido ao Brasil possuir uma população estimada de 200.000 a 800.000 indivíduos que se dedicam à coleta de materiais recicláveis.
Colaboração:
Vitor Batista sobre a autora
Vitor Batista é graduando em ciências biológicas na FFCLRP/USP e acredita que a ciência precisa ser difundida para o público com linguagem acessível, sendo alcançada por meio de projetos como a Ilha do Conhecimento.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria da Revista Pesquisa FAPESP, intitulada “Micróbios indesejados no sangue de catadores de materiais recicláveis“, publicada em outubro de 2024.
