Em meio à crise causada pela atual pandemia, iniciativas de apoio à pesquisa e à inovação se multiplicam como forma de entender a doença e conter seus efeitos danosos.
Até a última quarta-feira, quando este texto foi escrito, o Brasil já tinha registrado 2.433 pessoas contaminadas pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) e 57 mortes em decorrência da doença Covid-19, sendo que 48 ocorreram no estado de São Paulo. Para conter a curva de infecção, representantes de governos federal, estaduais e municipais já decretaram medidas públicas de distanciamento social, como o fechamento de comércio e de escolas, além de medidas emergenciais para intensificar o atendimento na área de saúde. Mas, além das políticas governamentais, os aliados no combate à doença envolvem entidades de pesquisa, empreendedorismo e até o computador de quem está em casa de quarentena.
O papel dos dados e das análises
Uma pandemia sempre resulta em uma enorme quantidade de dados, como o número de pessoas infectadas, taxas de infecção e de letalidade, distribuição espacial de infectados e simulações sobre os efeitos de medidas de prevenção. Para analisar dados como esses, foi fundado o Observatório Covid-19 BR, grupo composto por pesquisadores de oito universidades do Brasil, Estados Unidos e da Alemanha. A análise organizada de informações é valiosa para orientar gestores e tomadores de decisão sobre quais medidas têm maiores chances de minimizar o problema e quais seriam momentos críticos para adotá-las.
Imagem: Reprodução de Jornal da USP
Além de informações sobre a evolução da doença, muitas pesquisas trabalham com o processamento de dados para entender aspectos biológicos do vírus e da resposta que causa no organismo humano. Às vezes, a quantidade de dados é tão grande que são necessários supercomputadores para analisá-los. É o caso das pesquisas sobre enovelamento de proteínas, que permitem entender a estrutura das proteínas e avançar na compreensão de como elas funcionam. Vírus possuem proteínas que suprimem nosso sistema imunológico e permitem a reprodução viral. Para entender melhor as proteínas do coronavírus e buscar tratamentos para a Covid-19, milhares de pessoas têm contribuído com o projeto Folding@home, criado por pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
O projeto existe desde 2000, mas nos últimos meses ganhou um número recorde de participantes. A ideia é simples. Cada usuário com um computador pessoal pode baixar o software do projeto e ceder parte do processamento da sua máquina para rodar os dados da pesquisa. Atualmente, o potencial de processamento do projeto já é 470 petaflops, mais do que o processamento somado dos 7 supercomputadores mais potentes do mundo.
No projeto Folding@home, usuários podem ceder parte do processamento de seus computadores pessoais para pesquisas. Imagem: Pixabay.
Além dos computadores
Mas não só de computadores e modelos estatísticos se faz o combate a uma pandemia. Também é preciso entender o problema junto à população. Diante da limitação de recursos no sistema público de saúde, o Supera Parque Tecnológico e várias startups associadas em Ribeirão Preto (SP) lançaram uma campanha para arrecadar fundos que permitam o oferecimento de testes de COVID-19 a um maior número de casos suspeitos. A iniciativa pretende converter os laboratórios e os equipamentos do parque em um laboratório de diagnóstico, complementando os dados obtidos no sistema de saúde. Além de agilizar a detecção de portadores do vírus, a campanha contribui para aumentar a precisão das estatísticas oficiais sobre a doença e o planejamento pela Secretaria de Saúde.
Como a demanda não para no diagnóstico da doença, muitos grupos se dedicam a alternativas para a fase de tratamento. O Laboratório de Engenharia Pulmonar e Cardiovascular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está desenvolvendo um projeto para produção de ventiladores mecânicos de baixo custo, com recursos nacionais. O objetivo é utilizar recursos nacionais para gerar uma produção em massa capaz de atender a demanda crescente, visto que a própria pandemia dificultou os processos de importação de produtos.
Iniciativa Covid-19 Air Brasil propõe esforço coletivo para produção de ventiladores mecânicos para atender demanda em meio à pandemia. Imagem: Agência UFRJ de Inovação.
Dinheiro para as iniciativas
Como avançar nas pesquisas e na inovação requer financiamento, entidades de todo o país estão destinando verba para projetos que atuem no combate ao coronavírus. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) lançou um edital de R$ 10 milhões para selecionar propostas de prevenção, diagnóstico e tratamento da Covid-19. O foco é em projetos que já estejam em fase final de desenvolvimento e possam ser colocados em prática em até 40 dias após recebimento da verba. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também destinou R$ 2 milhões para startups, micro e pequenas empresas desenvolverem soluções de mitigação da pandemia. Os projetos podem incluir desde softwares até equipamentos médicos. O financiamento foi lançado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII).
Em São Paulo, onde se concentra o maior número de casos, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) disponibilizou até R$ 10 milhões para redirecionar projetos de pesquisa ao combate à Covid-19. Entre os temas de destaque estão o estudo de atividade antiviral de fármacos existentes, desenvolvimento de novas terapias contra o vírus, compreensão epidemiológica da doença e o entendimento do comportamento social durante a crise (como forma de minimizar atitudes que danosas à contenção da pandemia).
Veja mais
Outras iniciativas se voltam à arrecadação de doações para atender pessoas em condições de vulnerabilidade e hospitais públicos. Conheça algumas no link a seguir:
Conheça também outros editais para desenvolvimento de tecnologias de combate ao coronavírus:
https://www.inovativabrasil.com.br/coronavirus/
News: Luanne Caires
Fontes:
Observatório Covid-19 BR
Observatório Covid-19 BR ajuda a compreender evolução da pandemia no Brasil
Mais de 400 mil pessoas cederam o poder de seus PCs para combater o coronavírus (Olhar Digital)
Folding@Home
Startup vai lançar exame de coronavírus em farmácia por R$ 130 – ou menos (Exame)
Projeto de ventiladores mecânicos de baixo custo (InovAtiva Brasil)
https://www.inovativabrasil.com.br/coronavirus/
Senai vai financiar projetos de inovação capazes de combater o coronavírus (Estado de Minas)
Embrapii e Sebrae destinam recursos para startups durante crise do coronavírus
Fapesp incentiva o redirecionamento de projetos ao combate do novo coronavírus (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo)
(Editoração: André Pessoni)