Image default

Desaceleração da epidemia e imunidade de rebanho: o que isso significa?

Pesquisa Epicovid indica queda na quantidade de brasileiros com anticorpos para o coronavírus. Em Manaus, outro grupo de pesquisadores sugere imunidade coletiva. 

 

A quarta fase da pesquisa Epicovid-19 BR concluiu que o percentual de pessoas com anticorpos contra o novo coronavírus no Brasil está diminuindo. Em junho, 3,8% dos brasileiros apresentaram anticorpos. Em agosto, o valor caiu para 1,4%. Os resultados indicam desaceleração da pandemia quando o assunto é número de infecções recentes.

A pesquisa é coordenada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e inclui 133 cidades do país. Em cada uma delas, 10 casas são selecionadas aleatoriamente para receber uma visita de equipe treinada para coletar os dados. Um dos moradores da residência é sorteado para responder a um questionário sobre aspectos sociais, econômicos e de saúde dos moradores. Enquanto isso, outro morador passa por um teste rápido de identificação de anticorpos contra o coronavírus. 

 

Teste sorológico feito com amostra de sangue para detecção de anticorpos.
Teste sorológico feito com amostra de sangue para detecção de anticorpos. Imagem: Leopoldo Silva/Agência Senado.

 

O teste rápido analisa uma gota de sangue retirada do dedo da pessoa e é sensível a infecções de até 45 dias (recentes), mas também consegue identificar infecções graves que ocorreram há mais tempo. Se o teste detectar presença de anticorpos contra o novo coronavírus, a pessoa é considerada como alguém que está ou já esteve infectada. 

A queda na quantidade de pessoas com infecções recentes é animadora porque sugere uma redução da transmissão. Mas ainda assim é preciso cuidado. A pesquisa também indica que as infecções passaram a atingir pessoas de outras faixas de idade. No começo da pandemia, a soroprevalência (frequência de indivíduos com os anticorpos de interesse) era maior entre pessoas de 20 a 50 anos, provavelmente devido às atividades de trabalho. Agora, os pesquisadores notaram um crescimento entre crianças e idosos. Outra mudança é que a maior soroprevalência na pesquisa não está mais nas capitais, e sim em cidades do interior, especialmente no Ceará e no Pará.

 

Manaus e a discussão sobre a imunidade de rebanho

A queda no percentual de infectados ganhou ainda mais destaque após pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) sugerirem que Manaus, capital do Amazonas, pode ter atingido a imunidade de rebanho. O estudo foi divulgado na plataforma medRxiv, em artigo ainda sem revisão por outros pesquisadores.

 

Pessoas usando máscara aguardam no corredor de uma unidade de saúde.
Imagem: Divulgação/Prefeitura de Manaus/via Agência Brasil.

 

A imunidade de rebanho ocorre quando um número de pessoas imunes a uma infecção atinge um nível capaz de frear o espalhamento da doença. É o mesmo princípio que garante a eficácia da vacinação em massa. Em Manaus, os pesquisadores sugerem que esse nível é de 66% de infectados na população, já que desde junho o número de infectados na cidade se estabilizou em torno desse valor. 

Para chegar a esse resultado, a equipe de cientistas analisou amostras de sangue doado à Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) entre fevereiro e agosto deste ano. O sangue de mil doadores por mês foi testado para avaliar se apresentava anticorpos contra o novo coronavírus. Os resultados foram ajustados em um modelo matemático que considerava a sensibilidade do teste e a proporção de sexo e idade da população.

 

Homem realizando doação de sangue ao lado de uma enfermeira.
Além de salvar vidas, amostras de sangue doado contribuem para pesquisas científicas e entendimento de doenças. Imagem: Anderson Acendino/Governo de Mato Grosso.

 

Mas é preciso estar atento a algumas limitações do estudo e do entendimento da doença. A primeira delas é que a pesquisa foi feita com dados de bancos de sangue e o perfil dos doadores é diferente do perfil da população em geral. Além disso, estudos indicam que a presença de anticorpos contra o novo coronavírus é temporária no organismo humano, o que faz com que a imunidade também seja. Isso significa que pessoas que já foram infectadas podem contrair a doença novamente daqui a algum tempo. 

Além disso, a circulação do vírus é reduzida pelas medidas de proteção como distanciamento social e uso de máscaras. O retorno das atividades econômicas e sociais pode furar as bolhas de imunidade e levar a um novo aumento do número de infecções.

 

News: Luanne Caires

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Pré-print de artigo científico intitulado “COVID-19 herd immunity in the Brazilian Amazon”, publicado na plataforma medRxiv em 2020, de autoria de BUSS Lewis, PRETE JR. Carlos e colaboradores. 
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.09.16.20194787v1.full.pdf

Matéria no site da Agência Fapesp, intitulada “Quarta fase da Epicovid indica desaceleração da epidemia na maior parte do país”, publicada em 17/09/2020.
https://agencia.fapesp.br/quarta-fase-da-epicovid-indica-desaceleracao-da-epidemia-na-maior-parte-do-pais/34162/

Matéria no site da Agência Fapesp, intitulada “Com 66% da população infectada, Manaus pode ter atingido a imunidade de rebanho”, publicada em 23/09/2020.
https://agencia.fapesp.br/com-66-da-populacao-infectada-manaus-pode-ter-atingido-a-imunidade-de-rebanho/34183/

Matéria no site Uol, intitulada “Covid: imunidade de rebanho pode durar poucos meses, diz estudo da USP”, publicada em 23/09/2020.
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/agencia-estado/2020/09/23/covid-imunidade-de-rebanho-pode-durar-poucos-meses-diz-estudo-da-usp.htm

 

(Editoração: André Pessoni)

Postagens populares

Pesquisa mostra que tímpano foi fundamental para répteis sobreviverem e se proliferarem ao longo da história evolutiva

IDC

Vírus no sangue de catadores de materiais recicláveis

IDC

Prêmio Nobel 2024

IDC

Estudos apontam que boas práticas utilizadas na agricultura que podem reduzir emissões de carbono no campo

IDC

Pesquisa mostra as alterações cerebrais que acontecem durante a maternidade

IDC

A pior extinção em massa do mundo teve início com Mega El Niño

IDC