Sentir vergonha está longe de ser prazeroso, mas será que devemos evitar esse tipo de sentimento? O sentimento de vergonha influencia a nossa tomada de decisões sobre como as pessoas que interagimos julgam nossa aparência e atitudes, prevenindo os indivíduos de serem socialmente desvalorizados ou excluídos. A fim de compreender melhor a expressão da vergonha, pesquisadores realizaram um estudo em 15 comunidades espalhadas pelo mundo para avaliar se a desvalorização da imagem do indivíduo relacionada com a vergonha varia entre sociedades ou se é compartilhada em todas as culturas humanas. Os participantes foram divididos em dois grupos, um em condição de audiência e outro de exposição à vergonha. Os participantes que fizeram papel de audiência reagiram a 12 situações embaraçosas envolvendo terceiros, e expuseram se consideravam negativa a imagem daquela pessoa na situação apresentada. Já os participantes diretamente expostos a situações de vergonha responderam com quanta vergonha reagiriam a 12 cenários diferentes. Apesar da grande variação cultural entre as comunidades, em todas elas o grau de vergonha apresentou grande correspondência com o padrão de desvalorização de imagem atribuído pelas audiências. Os resultados suportam que a vergonha é uma característica biológica dos humanos mantida por seleção natural, e não um produto cultural. A tomada de decisões na nossa espécie funciona como uma análise de compensações da sua influência sobre nosso bem-estar; quando surge uma nova informação sobre uma pessoa que julgamos apresentar baixo valor para a nossa própria existência e para aqueles com quem a pessoa interage, esse indivíduo por consequência será menos ajudado e mais prejudicado, colocando em perigo a sua sobrevivência. Sentir vergonha, portanto, evita a tomada de atitudes egoístas e incentiva a colaboração social, contribuindo para a nossa própria sobrevivência e comunidade.
Tweet-science: Priscila S. Rothier
Artigo original: Revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Set/2018) # Cross-cultural invariances in the architecture of shame. Autores: D. Sznycer, D. Xygalatas, E. Agey e colaboradores.
(Editoração: Fernando Mecca, Gabriela Duarte e André Pessoni)