Mesmo com pandemia de Covid-19 e medidas de restrição de deslocamento, perda de vegetação na Amazônia Legal mantém tendência de aumento e afeta unidades de conservação e territórios indígenas.
A Amazônia perdeu 529 km² de área florestada em abril, mais do que a área de capitais como Maceió (509 km²) e Porto Alegre (496,8 km²). Em relação ao mesmo mês do ano passado, o aumento foi de 171% e corresponde à maior taxa de desmatamento na região nos últimos 12 anos. Os dados são do boletim divulgado esta semana pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que realiza o levantamento desde 2008.
O aumento dá continuidade à tendência do mês anterior. Em março, 254 km² de vegetação foram perdidos, área superior à da cidade de Recife (218 km²). Em relação ao mesmo período de 2019, foi um acréscimo de 279%.
Imagens de terreno desflorestado para plantio de soja e floresta preservada em Mato Grosso. Imagem: Rogerio Assis/Pesquisa Fapesp.
Áreas mais afetadas
O estado com maior contribuição para o desmatamento em abril foi o Pará (32%), com destaque para as cidades de Altamira e São Félix do Xingu. Em seguida no ranking aparecem os estados de Mato Grosso (26%) e Rondônia (19%). Essa configuração representa uma mudança em relação a março, quando o Amazonas registrou a maior perda de vegetação. De modo geral, as áreas mais afetadas em abril foram propriedades privadas (60%), seguidas por Unidades de Conservação (22%), assentamentos (15%) e terras indígenas (3%).
Exemplo de registro de perda de área florestada na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu (Pará) em 2019 (à esquerda, imagem obtida em maio e à direita imagem obtida em setembro). No levantamento de abril de 2020, a APA Triunfo do Xingu foi a unidade de conservação mais afetada pelo desmatamento. Imagem adaptada de: Planet Labs/Reprodução de Amazônia Notícia e Informação.
Como é feito o monitoramento?
Para monitorar o desmatamento, o SAD utiliza imagens de diferentes satélites para registrar mudanças nas condições da Amazônia Legal, composta por nove estados das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. O sistema consegue monitorar as mesmas áreas a cada 5 a 8 dias. Áreas com perda de vegetação são detectadas a partir de 1 hectare (10 mil m²), com visualização de detalhes na escala de 20 a 30 metros, e é possível fazer o monitoramento mesmo em períodos nublados, com imagens de radar coletadas pelo satélite Sentinel 1. Para os boletins mensais, o SAD prioriza imagens coletadas na última semana de cada mês, para incluir também eventuais eventos de desmatamento ocorridos no fim de cada ciclo.
Satélite de sensoriamento remoto. Imagem: Agência Espacial Europeia (ESA).
Os alertas de desmatamento emitidos pelo SAD precisam ser combinados com informações sobre autorizações de desmatamento na região para diferenciar o desmatamento legal do ilegal. Esse cruzamento é feito por plataformas como Mapbiomas Alerta. Os dados disponíveis pelo SAD, que não é vinculado a uma agência do governo, também podem ser complementados com levantamentos feito pelos sistemas Deter e Prodes, mantidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
News: Luanne Caires
Fontes:
Boletim do Desmatamento da Amazônia Legal (abril 2020) SAD
https://imazon.org.br/publicacoes/boletim-do-desmatamento-da-amazonia-legal-abril-2020-sad/
Desmatamento na Amazônia em abril é o maior desde 2008 (O Globo)
https://oglobo.globo.com/sociedade/desmatamento-na-amazonia-em-abril-o-maior-desde-2008-24433655
Desmatamento da Amazônia em abril foi o maior em 10 anos, diz instituto (G1)
Entenda o sistema de monitoramento do Imazon
https://imazon.org.br/publicacoes/faq-sad/
Amazônia Legal (Câmara dos Deputados)
(Editoração: André Pessoni)