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Como Pesquisa e Empreendedorismo estão atrelados?
DESTAQUES: – Empreendedores e pesquisadores têm muito em comum, mas pesquisadores precisam de mais formação para transformarem suas pesquisas em algo rentável; – Universidades poderiam investir mais na formação de pesquisadores-empreendedores como forma de aumentar o impacto socioeconômico das pesquisas; – Outras entidades podem ser aliadas das universidades nesse objetivo. |
Por que atualmente se fala tanto em empreendedorismo? Afinal, o empreendedor nasce pronto ou se torna um?
O empreendedorismo pode ser definido como uma forma de otimização de recursos e dos processos organizacionais, visando a redução de custos e melhoria de processos, de modo a criar algo de valor, mas ao mesmo tempo, assumindo os riscos. Assim, remete a criação de novos negócios, que por trás disso tem a figura do empreendedor engajado para tal.
As características empreendedoras e o “espírito empreendedor” são importantes em todos os segmentos que objetivam ter o seu negócio, seja produto ou serviço, alavancado por crescimento e visibilidade no seu segmento de mercado. De forma geral, podemos dizer que as características empreendedoras não são iguais para todos, pois estas podem mudar e serem constituídas ou reformuladas dependendo do contexto em que a pessoa está inserida.
E na Ciência, você saberia dizer como acontece esse processo de empreendedorismo ou como ele tem se mostrado?
Pois bem, é sabido que muitos pesquisadores em suas rotinas deixam a desejar por não ter uma visão de negócios para suas pesquisas. Muitas pesquisas que existem, de fato, não são planejadas com a intenção de gerar algum lucro ou desenvolver algum produto, serviço ou tecnologia que conduza à riqueza.
Se você está envolvido com pesquisa, seja em uma iniciação científica, na pós-graduação – mestrado, doutorado e pós-doutorado – ou já é docente em universidade, evidenciam-se algumas características que podem fazer de você, ao mesmo tempo, pesquisador e empreendedor.
Muitas das habilidades que formam a essência de um empreendedor são desenvolvidas durante a formação para pesquisa científica, as quais vão além do simples domínio do conhecimento específico de uma área ou do método científico.
Nós, pesquisadores, lidamos todos os dias com prazos curtos e nos dedicamos muitas horas além de uma jornada normal de trabalho, nas quais muitas das vezes estendemos o trabalho para noites, madrugadas e fins de semana. Englobado a isso, sempre temos de resolver algum problema que surge de repente no setor ou laboratório de pesquisa onde são realizados os experimentos, por exemplo. Ademais, nos deparamos com o fato de ter que conduzir dois ou mais projetos de pesquisa com recursos que às vezes não são suficientes nem para um, e por fim, o detalhe mais importante: não temos medo de percorrer pelo desconhecido.
Bom, o que quero dizer com isso é que no desenrolar de uma pesquisa temos muito espírito aventureiro e estamos constantemente empreendendo.
Constantemente lidamos com o fato do governo destinar poucos recursos para financiar a continuidade de pesquisas, por exemplo. Somado a isso, passamos pelo espetáculo da crise econômica com cortes gigantescos na destinação de verbas. Contudo, como dizem os empreendedores, “onde há crise, existem também oportunidades”, e esse é o cenário ideal para conduzir o pesquisador experiente ou em formação a sempre se reinventar no trabalho.
Desse modo, por que é importante empreender em pesquisa?
O Brasil, infelizmente, ainda não vê o empreendedorismo como um ponto estratégico para o desenvolvimento das universidades, bem como não vê o impacto disso para o próprio país.
Um desafio que vale ser citado é com relação ao ensino de empreendedorismo. As disciplinas desta grade estão presentes, em geral, somente nas faculdades de administração e negócios que, por sua vez, não permitem ter uma visão ampla das demandas da universidade como um todo. Até temos palestras e eventos na área, mas poucas incentivam atividades práticas no desenvolvimento de ideias e projetos, seguidos de modelos utilizados na área, como pitchs e hackathon.
É imprescindível desenvolver desafios que promovam o ensino do empreendedorismo nas universidades, tal como aulas de como gerir e desenvolver negócios. Para isso, as universidades não precisam necessariamente fazer tudo sozinhas, temos instituições como o Sebrae e Endeavor, por exemplo, que auxiliam as universidades a se tornarem mais empreendedoras. Além de podermos contar com as Incubadoras de Empresas para direcionamento e alavancar uma ideia que está no papel para colocá-la em prática.
Em síntese, independente da área, o desenvolvimento científico depende de capital, ou seja, aquele que deseja iniciar ou continuar produzindo ciência precisa saber vender seu projeto. Ademais, é preciso mudar a cultura das universidades para incentivar os alunos a terem uma visão empreendedora, para que criem negócios de grande impacto e desenvolvimento. Afinal, temos o mesmo objetivo, tornar o país mais desenvolvido seja social ou economicamente. As universidades podem e devem ser protagonistas ao incentivar os negócios inovadores e de alto crescimento.
Colaboração:
Loren Queli Pereira sobre a autora
Loren é biomédica, especialista em Hematologia e multiprofissional em Saúde, além de mestra em Ciências pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, em Uberaba-MG. Atualmente cursa doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical e Infectologia também pela UFTM. Loren é aspirante a cientista, engajada com pesquisa e produção de conteúdo para divulgação científica.
Fontes consultadas:
– GUIMARÃES, R. A Razão Empreendedora na pesquisa em saúde. Revista Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, n. 9, 2019.
– LOPES, M. A.; LIMA, E. Desafios atuais e caminhos promissores para a pesquisa em empreendedorismo. Revista de Administração de Empresas, v. 59, n. 4, 2019.
– SILVA, A. W. P.; OLIVEIRA, B. N. F.; CASTRO, A. B. C.; SILVA, P. M. M.VEIGA-NETO. A, R. Comportamento empreendedor: Um mapeamento da produção científica nacional (2000-2020) e proposição de uma agenda de pesquisa. Revista de Administração Unimep, v. 18, n. 1, 2020.
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(Editoração: Fernando Mecca e Loren Pereira)