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Por que enchentes e deslizamentos acontecem?

#Ciência et al. (Especiais temáticos repletos de informações científicas)

Enchentes e deslizamentos são problemas antigos que se intensificaram atualmente. Mas o que está causando isso?

DESTAQUES:
– Embora geralmente tenham as fortes chuvas como um fator em comum, enchentes, inundações e alagamentos são fenômenos distintos;
– A chuva é apenas um dos fatores que contribuem para o desencadeamento de inundações, alagamentos e deslizamentos, outras causas incluem a impermeabilização dos solos e o descarte incorreto do lixo;
– Apesar de muitas vezes serem considerados “desastres naturais”, a ocorrência desses fenômenos e o estrago que causam podem ser evitados ou minimizados por medidas de curto, médio e longo prazo.

Você sabe o que é uma enchente? O que causa esse tipo de problema? Há solução? Nesse texto vamos falar sobre os desastres ambientais que assolaram vários lugares do Brasil durante o início do ano de 2022, o que causa isso, além do que pode ser feito para evitá-los.


O que é uma enchente?

Os rios perenes (aqueles que nunca secam) possuem dois tipos de leito: um menor, principal, onde a água está sempre presente; e um maior, complementar, que é invadido pela água apenas em épocas de cheias. No clima tropical, por exemplo, essas cheias, também chamadas de enchentes, acontecem em decorrência das chuvas intensas de verão.

 

Figura 1: Esquema de um rio, com o seu leito maior e menor sendo representados. Fonte: Brasil Escola.


O que é inundação?

Já a inundação é quando a água transborda e sai do leito complementar do rio, atingindo o que está em volta dele. Geralmente, o que é noticiado como enchente na verdade é uma inundação, como foram os casos ocorridos nos estados do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo no início do ano de 2022.

 

Figura 2: Esquema representando uma situação normal de um rio, a enchente e a inundação. Fonte: Colégio Átrio.


O que é alagamento?

Um alagamento, por sua vez, é comum em centros urbanos. Este ocorre quando há acúmulo de água em um local que não é próximo a um rio. Geralmente, está associado a uma falha (ou ausência) nos sistemas de drenagem (bueiros e tubulações subterrâneas que levam a água das chuvas para os leitos dos rios) naquele local.

Figura 3: Esquema representando um alagamento, permitindo a sua diferenciação de uma situação normal de um rio, enchente e inundação. Fonte: Colégio Átrio.

 

O que é deslizamento de terra?

O deslizamento ocorre em terrenos inclinados, como as encostas. Ele geralmente acontece por causa da retirada da cobertura vegetal original, que é responsável por “segurar” o solo e impedir o livre escoamento das águas. Isso porque, quando não há raízes profundas mantendo a consistência do solo e criando “barreiras” para a água passar, a água corre livremente na superfície e vai levando a terra consigo, criando erosões e propiciando o deslizamento de terra.

Figura 4: O esquema representa a anatomia de um deslizamento de terra, bem como as suas etapas. Fonte: Rio On Watch.


Quais as principais consequências das enchentes, inundações, alagamentos e deslizamentos?

  • Transmissão de doenças (em especial a leptospirose); 
  • Mortes; 
  • Perdas materiais; 
  • Sofrimento econômico, social e psicológico das populações afetadas.


Quais são as causas desses acontecimentos?

Causas antrópicas (humanas):

  • Retirada da vegetação original das encostas; 
  • Plantação de bananeiras e outras plantas de raízes curtas (as raízes dessas árvores não fixam o solo e aumentam os riscos de deslizamentos);
  • Impermeabilização dos solos: a água da chuva não consegue ser absorvida pelo solo, o que causa um acúmulo de água na superfície; 
  • Problemas nos sistemas de drenagem: sistemas ineficientes ou entupimento dos bueiros e tubulações; 
  • Ocupação de locais impróprios: esse é o principal problema do Brasil, pois existem leis de ocupação que são desrespeitadas por causa do crescimento acelerado das cidades. Por exemplo, várias moradias e edifícios ficam localizados nas margens dos rios, no leito complementar, que é o local onde naturalmente ocorrem as enchentes. Assim, sempre que há chuvas um pouco mais intensas, esses locais já são afetados, trazendo graves consequências para quem mora ali. Mas por que há pessoas que moram nesses lugares? Um motivo está relacionado ao preço. Como a ocupação desses locais é inadequada, a moradia é bem mais barata. Ou seja, as pessoas não escolhem morar nesses lugares, elas vão para lá por falta de opção, pois é o único lugar que conseguem pagar; 
  • Descarte incorreto do lixo: ao jogar lixo nas ruas, você possibilita que a água da enxurrada carregue esse lixo até os bueiros, o que pode ocasionar seu entupimento. Assim, a água não vai escoar de maneira eficiente e isso pode gerar um acúmulo de água na superfície. Além disso, em alguns locais há o descarte de resíduos diretamente nos leitos dos rios. Essa é outra atitude muito perigosa, pois fazendo isso, aumenta-se o assoreamento que ocorre no leito dos rios e isso causa uma diminuição no espaço disponível para a água do rio correr.

Figura 5: O esquema representa uma situação antes e após a remoção da mata ciliar na beira do rio, ocasionando o assoreamento. Fonte: Estudo Kids.


Causas naturais:

  • Grande volume de chuvas. Mas seria essa causa totalmente isenta da participação humana? 

Além de todas as causas antrópicas já apontadas, há outra fonte de problema que precisa ser destacada: as mudanças climáticas.

Se até a década de 1950, chuvas acima de 50 mm/dia praticamente não aconteciam, hoje, isso acontece de 2 a 5 vezes por ano na cidade de São Paulo. Além disso, uma projeção feita usando como base o aumento de 4°C na temperatura média global mostrou que a média de chuvas fortes pode quase triplicar: de 1 ocorrência a cada dez anos a 2,7 ocorrências.

Um aumento de 4°C na temperatura média global configura um cenário extremo. Mas, de qualquer forma, já estão sendo observadas temperaturas médias mais altas e temperaturas mais altas colocam mais energia na atmosfera. Consequentemente, isso gera mais evaporação, o que faz com que as nuvens cresçam mais e provoquem chuvas mais intensas, como explica, em entrevista à Folha de São Paulo, o doutor em Meteorologia Gilvan Sampaio, coordenador de Ciências da Terra do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

“Com uma maior ocorrência de chuvas fortes, as áreas de risco crescem. Regiões que antes não sofriam com inundações podem passar a sofrer” – destaca Ivan Maglio, pesquisador da USP e pós-doutor em planejamento urbano e mudanças climáticas, em entrevista à Folha de São Paulo. Com o ritmo desordenado e falta de previsibilidade, tanto a chuva quanto a seca podem ser igualmente catastróficas.


Ocorrências em 2022:

Um levantamento feito pela defesa civil apontou que entre o ano de 2017 e janeiro de 2022, 28,8 milhões de pessoas foram afetadas por catástrofes ocasionadas pelo excesso de chuvas. Vale ressaltar que o período chuvoso vai até março, o que significa dizer que algumas possíveis tragédias de 2022 ainda não foram contabilizadas nesse total (como a ocorrida em Franco da Rocha no final de janeiro e em Petrópolis em fevereiro). Além disso, foi constatado que os dois estados mais afetados pelas chuvas entre outubro de 2021 e janeiro de 2022 foram Minas Gerais e Bahia.

 

Figura 6: O esquema representa os casos de enchentes e deslizamentos ocorridos desde dezembro de 2021, bem como das localidades mais atingidas. Fonte: G1. Dados coletados até as 21h00 do dia 16/02/2022.


Por fim, o que pode ser feito para minimizar esse problema?

  • Criação de reservas florestais nas margens dos rios e em encostas de morros; 
  • Barreiras de encostas devem conter vegetação com raízes longas que deem sustentação à terra, como gramas e capins;
  • Menos pavimentação dos solos;
  • Criação de sistemas de drenagem mais eficientes; 
  • Desocupação de áreas de risco; 
  • Políticas públicas que tracem um planejamento de crescimento urbano ordenado, para que não haja a necessidade de pessoas se estabelecerem em locais de risco; 
  • Educação da população para que seja feito o descarte correto dos resíduos e menor geração de lixo.


Colaboração:

Nádia Oliveira Rossingnoli​ sobre a autora

Nádia é bióloga com ênfase em biologia ambiental pela Universidade de São Paulo (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto) e atualmente é membro da equipe da Ilha do Conhecimento. Possui interesse nas áreas de educação, divulgação científica, biologia ambiental e comportamento animal.

 


Fontes e referências bibliográficas:

Matéria no site da Folha de São Paulo intitulada “Mais frequentes e intensas, chuvas trazem assinatura da mudança climática”, publicada em 02 de fevereiro de 2022 (Website).

Matéria no site do Brasil Escola intitulada “Enchentes” (Website).

Matéria no Site da Confederação Nacional de Municípios (CNM) intitulada “PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CHUVAS EM TODO PAÍS ENTRE 2017 E 2022” (Website).

Matéria disponível no site da Secretaria da Educação intitulada “Deslizamentos” (Website).

Vídeo “Enchentes no Brasil”, de autoria do canal Brasil Escola (Vídeo).

Vídeo “O que é enchente?”, de autoria do canal Brasil Escola (Vídeo).

(Editoração: Beatriz Spinelli, Loren Pereira, Eduardo Borges)

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