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Pesquisas indicam capacidade de novo coronavírus infectar células fora do sistema respiratório

Presença de receptores celulares para o vírus em neurônios, testículos e rins aumenta as possibilidades de ação viral no organismo humano.

O novo coronavírus (Sars-Cov-2) causou uma pandemia associada principalmente a sintomas no sistema respiratório, como tosse, falta de ar e níveis variados de comprometimento dos pulmões. Mas a capacidade de infecção do vírus parece ser bem mais ampla. Pesquisas realizadas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indicam que o vírus é capaz de infectar outras células do corpo, como neurônios e células dos testículos, o que pode disseminar os efeitos virais no organismo.

A ideia de investigar a presença do vírus em diferentes tecidos vem da presença de receptores ACE-2 em células de outros órgãos, além dos pulmões. A entrada do novo coronavírus nas células envolve a ligação de proteínas virais a moléculas de ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2) na superfície celular. Por isso, células que contenham esse receptor podem funcionar como porta de entrada para o vírus e causar outros problemas. Os rins são um exemplo onde receptores ACE-2 estão presentes e dados clínicos apontam que 7% dos pacientes em estado grave de Covid-19 também apresentam insuficiência renal.

 

Coronavírus (em amarelo) emergindo de célula infectada (membrana em azul e roxo). Imagem modificada  a partir de microscopia eletrônica de varredura. Imagem: NIAID/RML | Reprodução de Instituto Butantan.

 

Efeitos na reprodução masculina

Para estudar a presença do vírus em tecidos que não fazem parte do sistema respiratório, a Faculdade de Medicina da USP utiliza amostras de tecidos coletadas durante a necropsia de vítimas da Covid-19. Testículos e glândulas salivares já testaram positivo para a presença do vírus, mas ainda é preciso investigar se existe alguma chance de contaminação por meio de relações sexuais. Por enquanto, o risco de contágio por essas vias não foi confirmado. 

Em estudo publicado na revista científica Fertility and Sterility, pesquisadores da China e dos Estados Unidos coletaram amostras de sêmen de 34 homens chineses em estado leve ou moderado da doença. As amostras foram coletadas cerca de um mês depois que os pacientes foram diagnosticados com Covid-19 e as análises em laboratório não detectaram presença de coronavírus no sêmen. Como a quantidade de amostras era baixa, o estudo não descarta totalmente a possibilidade de transmissão sexual do vírus, mas indica que as chances de isso acontecer são remotas. Os pesquisadores também chamam a atenção para a possibilidade de o vírus causar danos à produção de sêmen e de esperma dentro dos testículos, mesmo que ele não esteja presente na ejaculação.

 

Representação do COVID-19 e anticorpos. Imagem: Reprodução Jornal da USP.

 

O vírus no sistema nervoso

Além de estudo com necropsias e fluidos corporais, a técnica de cultivo de células in vitro tem ajudado a compreender o efeito do vírus sobre outros tecidos. Pesquisadores do Instituto de Biologia da Unicamp investigam a capacidade de infecção no sistema nervoso, que também apresenta a proteína ACE-2. Segundo dados apresentados pelo neurologista Li Li Min, coordenador de Educação e Difusão do Conhecimento do Instituto Brasileiro de Neurociências e Neurotecnologia (BRAINN), até 30% das pessoas com Covid-19 podem apresentar sintomas neurológicos, como confusão mental, perda de paladar ou de olfato e derrame. 

Diante desse quadro, a equipe de cientistas da Unicamp utilizou uma linhagem de células cerebrais humana e neurônios obtidos a partir de células-tronco para testar a capacidade do vírus infectar o sistema nervoso. A infecção foi confirmada com a mesma técnica usada nos exames de diagnóstico de Covid-19, a PCR em tempo real.

 

Neurônios produzidos a partir de células-tronco. Imagem: Giuliana S. Zuccoli | Reprodução de Agência Fapesp.

 

Os próximos passos da pesquisa buscam entender se o vírus consegue atravessar a barreira que protege o cérebro contra agentes causadores de doenças e substâncias tóxicas. Essa barreira, chamada barreira hematoencefálica, restringe a passagem de substâncias do sangue para o cérebro. Outros temas da investigação são as alterações que o vírus causa no metabolismo neuronal e se a infecção também atinge os astrócitos, células que são maioria no sistema nervoso central e auxiliam o funcionamento dos neurônios.

 

News: Luanne Caires

sobre a autora

Fontes:

No evidence of SARS-CoV-2 in semen of males recovering from COVID-19 (Fertility and Sterility)

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0015028220303848

Após novo coronavírus ser achado em testículo, estudo vai verificar presença no sêmen (Jornal da USP)

https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/apos-novo-coronavirus-ser-achado-em-testiculo-estudo-vai-verificar-presenca-no-semen/

Necropsias já detectaram novo coronavírus em testículo e glândulas salivares (Jornal da USP)

https://jornal.usp.br/ciencias/necropsias-ja-detectaram-novo-coronavirus-em-testiculo-e-glandulas-salivares/

Novo coronavírus é capaz de infectar neurônios humanos (Agência Fapesp)

http://agencia.fapesp.br/novo-coronavirus-e-capaz-de-infectar-neuronios-humanos/33053/

Saiba como o coronavírus pode chegar ao Sistema Nervoso (Jornal da Unicamp)

https://www.unicamp.br/unicamp/ju/radio/video/saiba-como-o-coronavirus-pode-chegar-ao-sistema-nervoso

(Editoração: André Pessoni)

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