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PL 529/2020: universidades garantem autonomia, mas ciência ainda sai perdendo

Apesar de o governo recuar quanto à interferência no orçamento de universidades, projeto prevê extinção de institutos de pesquisa e abre espaço para aumento de impostos. 

 

Na noite da última terça-feira (13), o Projeto de Lei 529/2020 foi aprovado na Assembleia Legislativa paulista (Alesp) com 48 votos favoráveis e 37 contrários. O PL prevê uma reforma administrativa de órgãos estaduais para, segundo o governo, garantir ajuste fiscal e equilíbrio das contas públicas. Após forte pressão de entidades ligadas à pesquisa, o governo recuou na proposta de interferência na receita das três maiores universidades do estado e no orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Mas a extinção de parte dos institutos de pesquisa e autarquias de serviços sociais foi mantida.

Entre os órgãos estaduais previstos para serem extintos estão a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), a Fundação Parque Zoológico, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). Além disso, o PL prevê a fusão de três grandes institutos de pesquisa: o Florestal, o Geológico e o de Botânica. 

Os três institutos são responsáveis por pesquisas e projetos de referência na área de meio ambiente, biodiversidade e conservação. Desde a semana de publicação do PL, foram lançados manifestos e abaixo-assinados em defesa da manutenção dos órgãos e da valorização da ciência e da proteção ambiental. O Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam) também se posicionou contra a fusão e afirmou que a medida não resultará em menos gastos de recursos públicos. Segundo análise do Proam, o Instituto Florestal (IF) administra unidades auto sustentáveis, que geram mais dinheiro do que as despesas pagas pelo governo com funcionários.

 

Entrada do Parque Estadual Alberto Löfgren (Horto Florestal de São Paulo), localizado na zona norte da capital paulista.
Entrada do Parque Estadual Alberto Löfgren (Horto Florestal de São Paulo), localizado na zona norte da capital paulista. Imagem: Divulgação/Instituto Florestal.

 

A Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC) também declarou em página oficial que a aprovação do PL é um retrocesso. A associação argumenta que o investimento em pesquisa é um dos motores do desenvolvimento econômico e da superação de crises, não apenas no estado de São Paulo mas em qualquer lugar do mundo, como demonstrado pela crise causada pela Covid-19.

Apesar da importância dos órgãos que serão extintos para as áreas de saúde pública, habitação, mobilidade e meio ambiente, não houve discussão ampla sobre como o governo pretende incorporar os serviços ofertados por essas instituições. A indicação até o momento é de que parte do oferecimento de serviços sociais, que são direitos básicos dos cidadãos, podem ser concedidos à iniciativa privada. 

Além de alterar a estrutura e funcionamento de várias instituições estaduais, o PL prevê também a privatização de parques públicos e reduções nos benefícios fiscais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Mudanças no ICMS podem afetar diretamente os preços de produtos essenciais de alimentação e saúde, como itens da cesta básica e medicamentos. 

 

Homem depositando um saco pequeno de feijão dentro de uma caixa com outros alimentos.
Mudanças no imposto sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) pode resultar em aumento de preços e prejudicar setores que já se encontram vulneráveis devido à pandemia de Covid-19. Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

 

O PL 529/2020 foi proposto em agosto pelo governo do estado de São Paulo, em caráter de urgência, e seu desenrolar acelerado não abriu espaço para o debate abrangente na sociedade. Alguns deputados realizaram audiências virtuais independentes para saber a opinião da população, mas a dimensão das mudanças propostas exigia uma discussão menos apressada e que fosse estimulada pelo governo como um todo. 

Alterações feitas ao PL original, inclusive a preservação do caixa financeiro das universidades e a retirada de quatro entidades do processo de extinção, ainda serão confirmados em votação na Alesp.

 

News: Luanne Caires

sobre a autora

Fontes e mais informações sobre o tema:

Projeto de Lei 529/2020 do Governo do Estado de São Paulo, publicado em 13/08/2020.
https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000332222

Matéria no site Agora São Paulo, intitulada “Pacote fiscal de Doria vai para sanção; veja o que muda para os servidores”, publicada em 14/10/2020.
https://agora.folha.uol.com.br/grana/2020/10/pacote-fiscal-de-doria-vai-para-sancao-veja-o-que-muda-para-os-servidores.shtml

 

(Editoração: André Pessoni)

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