Desvendar o processo de infecção é essencial para determinar formas de prevenir e tratar a doença.
O crescimento do número de casos de Covid-19 no Brasil vem acompanhado do aumento de dúvidas na população. Uma dúvida recorrente diz respeito às diferenças de gravidade nos sintomas apresentados por pessoas com a doença. A resposta a essa pergunta passa pelo entendimento de como o vírus atua no organismo humano e do tempo que o sistema imunológico de cada pessoa leva para combater a infecção.
Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os sintomas costumam ser leves quando a infecção se restringe à parte superior do sistema respiratório, afetando o nariz e a garganta. Essa geralmente é a área de entrada do vírus em nosso corpo, já que a transmissão do novo coronavírus (Sars-Cov-2) se dá por gotículas de saliva, secreções respiratórias e contato com superfícies contaminadas.
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Uma vez dentro do corpo humano, os vírus utilizam a proteína S, presente em sua superfície, para se ligar a um receptor específico de nossas células, a proteína ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2). É por meio dessa ligação que o vírus é englobado pela célula e consegue utilizá-la para a replicação viral. Quando várias cópias do vírus foram produzidas, elas deixam a célula de origem em busca de novas células para infectar. Nesse processo, os vírus acabam usurpando os recursos celulares em benefício próprio, o que faz com que a célula deixe progressivamente de executar funções vitais para ela e morra. As tentativas do corpo para combater o problema resultam em uma inflamação no local.
Nas regiões superiores do sistema respiratório, os sintomas da reação do corpo ao vírus são leves, incluindo febre, tosse e dores de garganta e de cabeça. Segundo análise da OMS a partir de dados de 56 mil pessoas infectadas com o novo coronavírus na China, esse é o quadro sintomático de 80% dos casos. Sintomas severos, como falta de ar, atingem 14% dos infectados e os quadros graves, com insuficiência pulmonar e risco de morte, correspondem a 6%. Os casos mais graves estão geralmente associados à chegada do vírus aos pulmões, quando o processo inflamatório acaba lesionando o tecido pulmonar e dificultando a captação de oxigênio.
Idosos, pessoas com sistema imunológico comprometido ou que apresentam outros problemas de saúde crônicos podem ter mais dificuldade em combater a infecção antes que ela atinja os pulmões. Em parte, essa eventual diferença na resposta imunológica explica por que a idade média das pessoas que morrem em decorrência da Covid-19 na Itália, por exemplo, é 80 anos.
Homem em San Fiorano (Lombardia, Itália) com máscara de proteção. Foto: Marzio Toniolo/via Reuters/Reprodução de G1.
Mas o perfil de pessoas com casos mais graves da doença varia entre países. Nos Estados Unidos, a hospitalização de jovens adultos é alta e o grupo de 20 a 54 anos já corresponde a quase 40% dos hospitalizados. Apesar de a mortalidade nessa faixa etária ser baixa, é preciso avançar na compreensão das causas biológicas e sociais desse padrão. E essa compreensão só pode ser alcançada com registro adequado de dados e investimentos em pesquisas.
News: Luanne Caires
Fontes:
Estudo mostra por que alguns casos de Covid-19 são fatais e a maioria não (Super Interessante)
Report of the WHO-China Joint Mission on Coronavirus Disease 2019 (OMS)
Por que o novo coronavírus consegue se propagar com tanta eficiência (BBC)
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52110672
Coronavírus: o que a Covid-19 faz com o seu corpo
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51891465
Younger adults make up big portion of coronavirus hospitalizations in U.S. (The New York Times)
https://www.nytimes.com/2020/03/18/health/coronavirus-young-people.html
Perguntas não respondidas sobre coronavírus impedem saber o que acontecerá nos próximos meses (El País)
(Editoração: André Pessoni)