Alguns animais se reproduzem sem que haja cópula entre dois indivíduos de sexos opostos, gerando, neste caso, prole com material genético idêntico ao de seu progenitor. Entre mamíferos, no entanto, a reprodução ocorre de maneira sexuada, havendo fecundação de gametas provenientes de uma fêmea e um macho. Filhotes de camundongos de duas mães já haviam sido produzidos em laboratório, mas pela primeira vez, cientistas geraram camundongos de dois pais a partir da manipulação genética de células tronco. Os pesquisadores produziram células tronco haploides por meio da manipulação de gametas de machos e fêmeas, nas quais foram deletadas as respectivas regiões do DNA que impedem a formação de embriões a partir de um só progenitor. Em seguida, as células haploides foram injetadas em óvulos – células paternas particularmente injetadas em um óvulo sem núcleo – e posteriormente implantadas no útero de uma fêmea adulta que serviria como “barriga de aluguel”. Embora os embriões bipaternais tenham desenvolvido anatomia normal esperada para um camundongo, os filhotes morreram até 48 horas após o nascimento. Já os camundongos bimaternais cresceram normalmente e se tornaram adultos férteis, isso graças ao aperfeiçoamento do método pelos pesquisadores que deletaram três novas regiões genéticas nas células haploides maternas. Mesmo com a baixa expectativa de vida entre os filhotes de dois pais, o trabalho traz grandes contribuições para a genética e reprodução assistida, especialmente em fornecer estratégias para a conservação de espécies de mamíferos ameaçados dos quais apenas indivíduos de um dos sexos estão disponíveis para procriação.
Tweet-science: Priscila S. Rothier
Artigo original: Revista Cell Stem Cell (Nov/2018) # Generation of bimaternal and bipaternal mice from hypomethylated haploid ESCs with imprinting region deletions. Autores: Z. Li, L. Wang, L. Wang e colaboradores.
(Editoração: Fernando Mecca, Gabriela Duarte e André Pessoni)