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Análises de ondas sísmicas sugerem que o fluido que compõe o núcleo da terra oscila com periodicidade, provocando mudanças na duração dos dias e no campo magnético do planeta
O núcleo da terra é composto de duas camadas, que são divididos pela separação de fases líquida (camada externa) e sólida (camada interna). Os núcleos interno e externo são compostos por ferro e níquel. Uma vez que a pressão do núcleo interno é muito alta, ele está em estado sólido. À medida que se afasta do centro o núcleo passa para o estado líquido. A transição entre as fases do núcleo dá origem à Descontinuidade de Gutenberg. Dessa forma, a flutuabilidade química e o calor latente liberados da transição de fases do ferro no limite do núcleo interno alimentam o movimento do núcleo externo e o geodínamo (mecanismo que gera o campo magnético da Terra).
O campo magnético gerado faz com que haja um torque (tendência que uma força tem de rotacionar um corpo sobre o qual ela é aplicada) eletromagnético do geodínamo, o que tende a rotacionar o núcleo interno no núcleo externo líquido. Essa rotação gera ondas sísmicas, que permitem entender o movimento do núcleo da Terra. Foi a partir da análise destas ondas que pesquisadores da Universidade de Pequim explicaram as variações do movimento do núcleo da Terra, em um trabalho publicado em janeiro de 2023 na revista Nature Geoscience.
Já que o núcleo está situado tão abaixo da crosta (camada do planeta em que vivemos), é difícil estudá-lo. Sendo assim, as pesquisas visam medir pequenas diferenças nas ondas sísmicas geradas por terremotos e explosões nucleares. Para a pesquisa, os cientistas avaliaram as vibrações de diferentes terremotos nas últimas seis décadas.
Os autores observaram que a direção que os núcleos interno e externo se movimentam é dinâmica e, quando há desaceleração até a inércia do núcleo interno, o núcleo externo também desacelera, mas mantém-se girando. Isso gera um desequilíbrio entre os movimentos dos núcleos, devido às alterações no torque de ambos. Esse desequilíbrio entre o torque eletromagnético e gravitacional é suficiente para alterar a rotação do núcleo interno. Foi assim que os autores puderam chegar à conclusão que o núcleo interno gira de um lado para o outro, em ciclos de sete décadas, com mudanças no sentido da rotação a cada 35 anos, em média.
Song Xiaodong, um dos autores da pesquisa, enfatiza “Percebemos evidências contundentes de que o núcleo da Terra tem girado mais rápido do que a superfície, mas por volta de 2009 isso parou”.
Após 2009, ondas sísmicas mostraram que o núcleo passou a girar para o outro lado. Os pesquisadores sugerem que a última vez que houve uma mudança de direção foi no início da década de 1970. Eles prevêem que a próxima mudança ocorrerá em meados da década de 2040.
No trabalho, os autores ainda destacam uma correlação entre a rotação do núcleo e mudanças observadas na duração do dia, pequenas variações no tempo exato que a Terra leva para girar ao redor de seu eixo, além de mudanças no campo eletromagnético. Os autores concluem que seus achados fornecem evidências de interações dinâmicas entre as camadas da Terra, desde o interior mais profundo até a superfície.
Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora
Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB, mestre e doutoranda em bioquímica na FMRP/USP.
Fontes:
Artigo científico intitulado “Multidecadal variation of the Earth’s inner-core rotation”, publicado na revista Nature Geoscience em 2023, de autoria de Yang e Song. https://www.nature.com/articles/s41561-022-01112-z
Matéria no site BBC News Brasil, intitulada “Como pesquisadores concluíram que núcleo da Terra ‘freou’”, publicada em 25/01/2022. https://www.bbc.com/portuguese/geral-64397212