Avanços científicos contribuem para compreensão das rotas de infecção e desenvolvimento de tratamentos contra surto global.
A doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), já atingiu mais de 90 mil pessoas no mundo e resultou em mais de 3.000 mortes. No Brasil, oito casos já foram confirmados e há mais de 635 casos suspeitos, segundo os novos métodos de contabilização da infecção adotados pelo Ministério da Saúde. Apesar dos números preocupantes, estudos feitos nos últimos dois meses indicam que a infecção está se espalhando de forma mais lenta do que surtos anteriores, como o da gripe A causada pelo vírus H1N1, mas que novas versões do vírus já começaram a surgir fora do continente asiático.
Nos dois primeiros meses de circulação de cada vírus, o Sars-Cov-2 chegou a 64 países, enquanto o H1N1 já havia atingido 110. No entanto, a quantidade de pessoas atingidas pelo coronavírus no mesmo período é cerca de 40% maior. A menor dispersão no surto atual se deve a regras mais rígidas no controle de viagens e a informações preciosas fornecidas pela comunidade científica para o entendimento da doença.
Imagem: Juliane Souza/G1.
Uma ferramenta fundamental da ciência contra a infecção foi o sequenciamento genético, que agilizou o desenvolvimento de testes diagnósticos. O mapeamento do genoma do Sars-Cov-2 foi feito em tempo recorde, apenas 10 dias depois de o Shangai Public Health Center, na China, receber as primeiras amostras de pacientes. A agilidade em compartilhar as novas informações com a comunidade internacional possibilitou a multiplicação de pesquisas em vários outros países. De acordo com a revista científica Nature, em apenas 20 dias, foram publicados mais de 50 trabalhos sobre as características do vírus, seu período de incubação e as rotas de infecção.
O sequenciamento genético feito no Brasil também trouxe luz à evolução do vírus. Pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP) e do Instituto Adolf Lutz (IAL) analisaram, em parceria com a Universidade de Oxford (Reino Unido), amostras retiradas dos casos da doença confirmados no Brasil. Dois casos são de pessoas que viajaram à Itália. As análises, que ficaram prontas em apenas 48 horas, indicaram que uma das amostras se assemelha mais a uma forma do vírus sequenciada na Alemanha e que a outra amostra tem maior correspondência com uma variante sequenciada na Inglaterra. Como nos dois casos há grandes diferenças em relação ao vírus encontrado na China, os pesquisadores sugerem que a infecção já está em fase de transmissão interna na Europa.
Os resultados do sequenciamento em vários países são armazenados em um banco de dados digital, ao qual a comunidade científica internacional tem acesso. Já existem mais de 200 genomas sequenciados para o novo coronavírus em um dos maiores bancos na área: o Centro Nacional de Dados Genômicos, da China. As informações armazenadas contribuem para o teste de medicamentos contra a infecção. Uma das combinações terapêuticas testadas, por exemplo, é a combinação de antirretrovirais usados no combate ao HIV, como o Lopinavir/Ritonavir.
Além da via medicamentosa, pesquisas estão em andamento para o desenvolvimento de vacinas contra o vírus, em parcerias que envolvem farmacêuticas, universidades, órgãos de saúde e os governos chinês e estadunidense. A previsão é de que os testes clínicos sejam iniciados em até seis meses, segundo Paul Young, diretor da Escola de Química e Biociências Moleculares da Universidade de Queensland (Austrália) em reportagem do jornal Folha de São Paulo.
News: Luanne Caires
Fontes:
Novo coronavírus gera ações sociais, médicas e científicas nunca vistas (Folha de São Paulo)
Farmacêuticas correm para desenvolver vacinas contra o coronavírus (Folha de São Paulo)
Covid-19 se espalhou pelo mundo mais devagar do que o H1N1, aponta levantamento (Bem Estar/G1)
Qual a importância de sequenciar o genoma do coronavírus (Jornal Nexo)
(Editoração: Bruna Lima)