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O ano da ciência em 2020 foi produtivo em diversas áreas de pesquisa e selecionamos as principais notícias para você
O ano de 2020 foi marcado pela pandemia de COVID-19. Com tanta atenção direcionada de cientistas e da mídia para compreender essa ameaça, é natural que você tenha deixado algo passar. Por isso, a Ilha do Conhecimento fez uma seleção das principais notícias do mundo da ciência durante o ano de 2020. Em nossa retrospectiva, saiba dos acontecimentos mais importantes e interessantes de diversas áreas de pesquisa, como astronomia, paleontologia, inteligência artificial, genética, imunologia, e muito mais!
Astronomia
2020 foi um ano movimentado no espaço. Duas naves tripuladas foram mandadas à Estação Espacial Internacional pela SpaceX – sendo os primeiros lançamentos tripulados de uma companhia privada. Com isto, a SpaceX foi certificada pela NASA para realizar novas expedições tripuladas no futuro.
Além disso, 3 diferentes missões foram enviadas a Marte. A NASA enviou uma sonda para o planeta, com o objetivo de trazer de volta à Terra fragmentos marcianos de rocha e poeira , pela primeira vez. A China também enviou uma sonda para explorar a superfície de Marte, inclusive em busca de sinais de água e vida no passado. Por fim, os Emirados Árabes Unidos enviaram um satélite para orbitar Marte e traçar um mapa climático do planeta vermelho.
Em setembro, a descoberta de fosfina na atmosfera de Vênus causou uma polvorosa reação. Isso porque esse gás é produzido, aqui na Terra, por microorganismos; logo, pesquisadores apontaram para a possibilidade de este ser um indício de vida no nosso planeta vizinho. Esta hipótese perdeu força – parece mais provável que reações químicas raras na Terra estejam acontecendo regularmente em Vênus, graças às diferenças nas atmosferas dos dois planetas. Ainda assim, a descoberta é interessante e exemplifica como poderemos, um dia, detectar sinais de vida em outros planetas.
Um pouco mais sobre a nossa galáxia foi descoberto na própria Terra, graças a um meteoro que caiu em nosso planeta em 1969, e foi reexaminado em 2020. Nesta nova análise, foram encontradas partículas sólidas, cuja formação foi estimada entre 5 e 7 bilhões de anos atrás. Estas partículas são muito mais velhas do que os sólidos terrestres mais antigos, já conhecidos antes, com apenas 4,4 bilhões de anos. Como todas essas partículas parecem ter a mesma idade, este achado fortalece a hipótese de que as estrelas de nossa galáxia tenham sido formadas mais ou menos ao mesmo tempo, cerca de 7 bilhões de anos no passado.
Acesse nossos textos publicados anteriormente para saber mais sobre como é o trabalho de um astrônomo e como sabemos qual a composição dos materiais observados no espaço.
Paleontologia e arqueologia
Em se tratando do passado da Terra, neste ano encontramos novidades em torno do famoso dinossauro Tyranosaurus rex. Cientistas encontraram, pela primeira vez, fósseis de T. rex tão jovens que ainda não haviam saído do ovo. Os filhotes tinham cerca de um décimo do tamanho de um adulto da espécie. Além disso, duas espécies “parentes” do tiranossauro foram descritas pela primeira vez: um “primo” dele, o Vectaerovenator inopinatus foi encontrado na Inglaterra; e uma espécie mais antiga do seu grupo, o Erythrovenator jacuiensis foi descoberto no Brasil. Este último, que deve ter vivido há cerca de 230 milhões de anos atrás (o T. rex viveu há 65 milhões), ajuda a compreender melhor como evoluiu todo o grupo dos terópodes – que inclui, além do T. rex, os velociraptors e as aves modernas. Se quiser saber como é feita a reconstrução da aparência de animais extintos, acesse este texto publicado por nós em 2018.
Outra origem evolutiva que ficou mais clara foi a dos pterossauros, os lagartos voadores que conviveram com os dinossauros. Todos os fósseis de pterossauros conhecidos têm anatomia bastante adequada para o voo, e finalmente pesquisadores começam a entender um elo entre esta anatomia e a de outros répteis anteriores a eles. Este seria um grupo chamado lagerpetídeos, que compartilham mais de 30 características anatômicas com os pterossauros, apesar de não serem capazes de voar. Veja mais sobre esse estudo, que também teve a participação de pesquisadores brasileiros, no site da Agência Brasil.
Em um passado mais próximo, novos achados conturbaram nosso entendimento da origem dos humanos no continente americano. Ferramentas de pedra, como lâminas e pontas de flechas, foram encontradas no México e datam de cerca de 30 mil anos atrás. Os humanos que utilizavam estas ferramentas devem ter chegado à América por mar, e não por terra firme através do Estreito de Bering, já que só foi possível caminhar pelo estreito há cerca de 18 mil anos atrás.
Na Indonésia, desenhos de humanos caçando foram encontrados em cavernas e datados com pelo menos 44 mil anos. Isso quer dizer que são pelo menos 4 mil anos mais velhos do que outros registros já conhecidos. Ainda sobre pinturas rupestres, murais apelidados de “Capela Sistina da pintura rupestre” foram encontrados na Amazônia colombiana, com dezenas de milhares de desenhos com pelo menos 12 mil anos de idade. O número de pinturas é impressionante, e pesquisadores apontam que será necessário um esforço de gerações para estudar todas elas.
Meio ambiente e sustentabilidade
Além do aumento das queimadas em diversos biomas brasileiros, o ano de 2020 foi motivo de alerta para a causa ambiental como um todo. Isso porque o derretimento de geleiras se tornou ainda mais preocupante esse ano.
Pesquisadores descobriram que uma geleira da Antártica apelidada de “geleira do juízo final” está derretendo em estado alarmante. Thwaites, como é chamada essa porção de gelo na parte oriental da Antártida, está diminuindo 0,8 metros por ano, uma taxa de derretimento que levará ao seu desaparecimento entre 200 e 600 anos, segundo estimativas dos cientistas. Além do aumento do nível dos oceanos que esse derretimento pode causar (estimado em até 0,6 metros), o apelido dessa geleira faz menção a sua importância na manutenção de outras geleiras, uma vez que funciona como uma barreira entre elas e o mar, que está cada vez mais quente, impedindo um efeito em cascata. Essa descoberta apenas aumenta a preocupação do derretimento de gelo do continente, uma vez que essa taxa já é seis vezes maior do que na década de 1980.
Mas 2020 também trouxe boas notícias, com alguns passos importantes em direção à mitigação do problema das mudanças climáticas. A startup norte-americana “Eat Just” desenvolveu uma alternativa para o alto consumo de carne pelos seres humanos e suas consequências ambientais da pecuária: carne de laboratório. O alimento, que já foi aprovado pelo órgão regulador de ao menos um país (Singapura), é criado a partir de poucas células do animal desejado, que serão multiplicadas em meios de cultura laboratoriais, com nutrientes e ambiente adequado. Dessa forma, criamos tecido (carne) animal comestível sem demandar muita energia, água, áreas naturais para pastos e confinamento, além, é claro, de minimizar o sofrimento animal. Em junho, publicamos sobre um estudo com objetivos similares: a busca pelo fim do uso de animais em testes de cosméticos utilizando epiderme humana reconstituída.
Outra possível solução foi apresentada para um dos grandes vilões do meio ambiente, no caso a produção e o uso de plástico. Apesar de ser um material de grande importância e utilidade para a nossa sociedade, sua produção envolve o uso de combustíveis fósseis, e seu descarte gera poluição por seus resíduos. Mas se não podemos abandonar completamente seu uso, o que podemos fazer? Além da responsabilidade de cada indivíduo em utilizar alternativas quando possível e reciclar, cientistas desenvolveram em laboratório proteínas capazes de “digerir” objetos de plástico em poucos dias. Com a quebra química do plástico realizada por essas enzimas, plásticos do tipo PET, aquele da garrafa de refrigerante, podem ser quebrados para serem reutilizados. Dessa forma, se diminuiria ambos os problemas desse tipo de plástico: não seria necessário a produção do zero desse tipo de material, ao mesmo tempo que se daria um destino ao material após o descarte.
Tecnologia
Ainda sobre as conquistas da tecnologia de materiais, uma nova fronteira foi alcançada com possíveis aplicações em nosso cotidiano no futuro. Em condições específicas de pressão, similares às do centro da Terra, cientistas criaram um composto baseado em carbono e hidrogênio com a característica de um supercondutor elétrico em temperatura ambiente. Tal tipo de material vinha sendo buscado há décadas e será de grande importância na economia de eletricidade, se usado em cabos de energia, por exemplo. O desafio agora é fazer a manutenção desse condutor de baixa resistência em ambientes com pressões mais baixas e aplicáveis em maior escala.
A tecnologia de ponta aplicada a estudos biológicos também surpreendeu. Um exemplo é um software de inteligência artificial desenvolvido para nos ajudar a entender melhor a estrutura e a função das proteínas. Os cientistas, e até mesmo alunos estudiosos de ensino médio, sabem que proteínas são formadas a partir de “receitas” do material genético de uma célula, que traduz a sequência de letrinhas do DNA em sequências de aminoácidos, formando as proteínas, que desempenham diversas funções, desde estruturais em seu corpo até mesmo combatendo doenças no seu sistema imunológico. O detalhe é que as proteínas apresentam uma estrutura tridimensional, que se forma depois de sua síntese a partir do DNA de uma maneira que até então não compreendíamos ou conseguíamos recriar. É aí que entra a descoberta dos pesquisadores: o software consegue prever esse processo de estruturação com grande precisão. Essa descoberta pode ajudar a compreender melhor o funcionamento da biologia de diversos seres vivos, além de auxiliar no desenvolvimento de medicamentos.
Medicina e saúde
Quando se trata de desenvolvimento de medicamentos, com certeza a busca pela vacina para a Covid-19 marcou o ano de pesquisas na área de saúde pelo mundo. Mais de 70 grupos de laboratórios distintos atuaram no desenvolvimento de diferentes vacinas, que hoje já estão sendo aplicadas em dezenas de países. O tempo recorde para chegar ao mercado (menos de um ano), com todos protocolos de segurança e eficácia exigidos, também foi um destaque para a capacidade científica do nosso mundo contemporâneo.
Contudo, essa certamente não foi o único destaque da área da saúde em 2020. Como exemplo, podemos citar os grandes avanços no tratamento de outra doença viral, que já foi responsável por diferentes epidemias no mundo e milhares de mortes nos últimos 30 anos. A AIDS é uma síndrome sexualmente transmissível causada pelo vírus HIV. Apesar do avanço no tratamento, que garante uma sobrevida aos acometidos por ela, falar-se em cura ainda é algo raro. Porém, neste ano, pesquisadores desenvolveram um novo tratamento que tem o potencial de atuar na erradicação da doença no corpo humano. Trata-se de um medicamento que atua estimulando a atividade de genes dos vírus que podem estar “escondidos” em células. Por meio dessa droga, os vírus latentes de HIV, que são perigosos pois não são identificados pelo sistema imunológico do paciente em tratamento, são descobertos. Assim, na sequência de administração de outro medicamento que atua em células T do sistema imunológico e auxiliam o combate à infecção pelo vírus no organismo, podem auxiliar futuramente na cura de pacientes. Além disso, pela primeira vez em mais de 10 anos, uma vacina para o vírus HIV chegou na terceira fase de testes. Os estudos, realizados em colaboração com laboratórios europeus e africanos, devem ser concluídos nos próximos dois anos.
Com certeza podemos esperar avanços e descobertas ainda mais incríveis neste e nos próximos anos no mundo da ciência! Acompanhe as publicações da Ilha do Conhecimento para não perder nenhuma novidade da Ciência em 2021.
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(Editoração: Beatriz Spinelli, Eduardo Borges e Caio Oliveira)