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Your pain, my gain!

#Ciência et al. (Conteúdos repletos de informações científicas)

Schadenfreude: A experiência biológica de sentir prazer pela desgraça alheia.

DESTAQUES:
• Muitas vezes, as pessoas falham em simpatizar com os outros e, às vezes, até experimentam schadenfreude (do alemão: prazer com os infortúnios dos outros);
• Um potente preditor de schadenfreude é a inveja, que pode ser provocada por ideias preconcebidas;
• Quando o schadenfreude é experimentado por um grupo contra outro, pode desencadear comportamentos prejudiciais, com menor compreensão e altruísmo entre os grupos.

Uma resposta que podemos apresentar frente a dor do outro é a empatia, mas como é de se imaginar, ela  pode ser limitada. 

A empatia é comumente definida como a capacidade de compreender e experimentar os estados internos dos outros. Além de sentir empatia pelos outros quando eles estão visivelmente angustiados, as pessoas também podem fazê-lo quando as pessoas experimentam outros estados emocionais, inclusive positivos. Acredita-se que essa habilidade conduz a relacionamentos sociais, pois a empatia está associada a interações mais favoráveis e satisfatórias com os outros. Porém, ninguém tem empatia com todos o tempo todo e, normalmente temos uma tendência a ter menos empatia ainda com quem não possuímos muita proximidade.

Outra resposta que temos frente a dor do outro é a resposta contra-empática. Essas podem, na melhor das hipóteses, permitir indiferença ao sofrimento dos outros e, na pior, facilitar o dano contra eles. Assim, ao invés de empatia ou apatia, as pessoas podem sentir prazer – schadenfreude – em resposta à dor dos outros. Como as pessoas respondem à dor dos outros, de forma empática ou contra-empática, depende dos preconceitos preexistentes em relação ao alvo do infortúnio. 

schadenfreude empatia inveja
Figura 1. Quadro intitulado Retorno ao Convento, de Eduardo Zamacois y Zabala, 1868. A pintura retrata um grupo de monges rindo enquanto um monge tenta controlar um burro.

Várias condições comumente predizem o schadenfreude

1) quando o infortúnio beneficia os observadores; 

2) quando o infortúnio parece merecido;

3) quando o infortúnio recai sobre um alvo invejado. 

O schadenfreude motivado pela inveja, podem ser prazerosos porque fazem as pessoas se sentirem melhor consigo mesmas. As pessoas podem invejar grupos com a mesma facilidade com que invejam alvos individuais. Além disso, com uma implicação social importante, as pessoas podem experimentar o schadenfreude na ausência de qualquer interação (por exemplo, sem histórico de conflito e/ou competição explícita) com o grupo invejado: o simples conhecimento do estereótipo ou ideia preconcebida de um grupo é suficiente. 

Segundo pesquisa, as pessoas sorriem mais quando acontece um infortúnio de um grupo ao qual inveja do que quando acontece algo positivo com este grupo. E, embora seja difícil relatar schadenfreude abertamente, segundo essa pesquisa, as nossas respostas fisiológicas podem transparecer na presença de prazer (e não apenas na ausência de dor) em resposta aos infortúnios dos alvos invejados. 

Foi observado no estudo, a partir de análises por imagem obtidas de ressonância magnética funcional, uma maior ativação do corpo estriado ventral, estrutura cerebral relacionada ao prazer, quando algo ruim acontecia com um grupo externo e uma maior ativação do córtex cingulado anterior e da ínsula anterior, estruturas relacionadas à dor, quando o grupo externo obtinha algum ganho. 

Ou seja, é possível que nós soframos quando o grupo que invejamos tem ganhos e sentimos prazer quando eles sofrem alguma desventura. 

Em síntese, como uma melhor compreensão das perspectivas dos outros aumenta a preocupação com o seu bem-estar podendo levar a atos altruístas, o comportamento simples de observar passivamente o dano a um grupo invejado pode ter implicações prejudiciais e, por ser prazeroso, pode persistir e possivelmente aumentar com o tempo, principalmente se o schadenfreude for experimentado por um grupo, sendo um elemento de coesão entre os indivíduos.

 

schadenfreude

Colaboração:

Priscilla Queiroz de Lima sobre a autora

Priscilla Queiroz é fisioterapeuta pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Entre as áreas que mais lhe interessam estão a neurociência, em especial relacionada a dor crônica e o comportamento motivado, a fisiologia do exercício e a liderança.

 

Referências:

Artigo científico intitulado “Association of compassion and empathy with prosocial health behaviors and attitudes in a pandemic”, publicado em 2022 na revista Plos One, de autoria de Karnaze M.M, Bellettiere J. e Bloss C.S.

Artigo científico intitulado “Their pain, our pleasure: stereotype content and schadenfreude”, publicado em 2013 na revista Annals of the New York Academy of Sciences, de autoria de Cikara M. e Fiske S.T.

(Editoração: Loren Pereira e Nathália A. Khaled)

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