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Os sinais que seu cão te dá (e como identificá-los)

#Ciência et al. (Especiais temáticos repletos de informações científicas)

Identifique alguns sinais que seu cão te dá indicando que uma situação é estressante.

DESTAQUES:
– Cães possuem comunicação própria. Podemos identificar alguns aspectos deste sistema e usá-los para entender nossos cães;
– Os cães fazem um ritual de reconhecimento ao encontrarem outros cães;
– Há sinais que permitem identificar quando o cão não está confortável em uma situação, como: sacudir o corpo, bocejar, lamber o focinho e os lábios seguidamente;
– Cães não mordem sem antes expressarem outros comportamentos, como: colocar orelhas para trás, encarar, colocar o rabo entre as pernas, se abaixar e rosnar.

Imagine o seguinte cenário: você e seu cãozinho passeando pela rua. Tudo vai bem, até que virando a esquina, vem outro cão com seu tutor. O que você faz? (a) passo do outro lado da rua; (b) dou meia volta e espero o outro cão passar ou (c) deixa rolar. 

Muitos tutores ficam apreensivos com a possibilidade do encontro entre cães, puxam a guia para que os cães não cheguem perto um do outro, impedindo assim que se conheçam. Essa atitude do tutor faz parte da boa intenção humana de impedir que seus cães se machuquem ou entrem em uma briga. Mas os cães são seres sociais e gostam de conhecer uns aos outros. Por isso, escrevemos este texto para todos os tutores preocupados por aí.

Quando os cães se encontram, há uma espécie de ‘ritual de reconhecimento’, que faz parte do comportamento natural da espécie. Para entender esse ritual, é preciso saber como os cães se comunicam, como eles conversam. Os cães usam três sentidos para se comunicarem: o olfato, a visão e a audição. No ritual de reconhecimento eles precisam cheirar um ao outro e, enquanto se cheiram, eles fazem a leitura corporal com a visão, principalmente analisando a cauda e a postura corporal. Em seguida, eles cheiram o corpo todo uns dos outros até a parte anal (onde se encontra a sua “identidade”). Após todo esse processo, se os dois cães estiverem confortáveis, acontece o convite para a brincadeira, como mostra a figura abaixo.  

sinais caninos sinais cão
Figura 1. Ritual de reconhecimento. Imagem por Bruna Lima Ferreira e Nathália Amato Khaled.

Mas como identificar se seu cão não está confortável no “ritual de reconhecimento”, como na situação descrita acima?  Há alguns elementos dessa comunicação canina que podem nos auxiliar a identificar possíveis situações estressantes para o cão.  Por exemplo, durante esse encontro, e após eles se cheirarem, se um deles desviar o olhar e sentar-se de costas para o outro cão, é um aviso de que ele não está confortável com essa interação e não devemos forçar esse encontro.  

Desviar olhar, sentar-se de costas, se sacudir sem estar molhado e bocejar são alguns dos sinais que compõem a linguagem corporal dos cães como sinais de apaziguamento (ver a figura abaixo), ou seja, sinais de que eles não querem brigar, e que aquela determinada situação está causando estresse e desconforto.

Todos os cães se comunicam entre eles, mas podem existir falhas nessa linguagem em casos de cães que são privados da socialização, por isso a importância de possibilitar a convivência entre eles sempre. Não prive seu cão desse contato! 

A linguagem corporal e todos os sinais dessa comunicação servem para os tutores também: tente observar melhor o seu cão, ele sempre vai demonstrar como está se sentindo em todas as situações, tanto em situações de estresse como em situações de segurança, agradável e de felicidade. 

Figura 2. Sinais de apaziguamento. Imagem: Blog Dicas Peludas.

Outra informação importante: O cão não morde do nada!! Os sinais de apaziguamento, como citados acima, são sinais de que seu cãozinho está desconfortável em uma situação. Depois disso, ele pode tentar evitar a situação virando o corpo e a cabeça, se afastando. Se a situação ou fonte de incômodo persistir, o cão irá manifestar outros sinais, demonstrando que a situação está ficando cada vez mais estressante, como colocar a orelha para trás, arrepiar o pelo e rosnar. Se nada mudar, o cão morde,  como mostra a escada de agressividade nos cães (figura 3). 

Figura 3. Escala de agressividade em cães. Imagem por Ana Lucia Baldan.

Ok. Sabendo disso tudo, qual seria a melhor forma de proceder ao ver outro cão na rua? Bom, ninguém conhece seu cão como você, mas aqui vão algumas dicas…. 

DICA 1: Não tem problema você perguntar ao outro tutor se o cão dele socializa bem com outros cães. E se o cão estiver sozinho? Cães de rua, geralmente, sabem se comportar diante de outros cães e fazem a leitura corporal perfeitamente.

Dica 2: Quando encontrar outro cão passeando na rua, além de perguntar para o outro tutor se o cão dele socializa, lembre-se sempre de deixar a guia bem “relaxada” sem estar esticada. O cão precisa se sentir “livre” para fazer a leitura corporal à vontade, sem interferência. A guia tensa dá a impressão para o seu cão que você está com medo e isso faz com que ele aja na defensiva para te proteger e não faça a leitura corporal do outro cão de forma correta.

DICA 3: Socialize seu cão sempre que possível (especialmente entre 21 e 84 dias de vida)! Você pode tentar aproximar seu cão de outros cães que você conhece e sabe que são tranquilos. 

No mais, aproveite o passeio!

 

Colaboração:

Ana Lucia Baldan sobre a autora

Bióloga e médica veterinária com docência em bem-estar animal pela World Animal Protection (WAP). Mestre em Ciências pela FFCLRP/USP. Atualmente é doutoranda em medicina comportamental de abrigos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Trabalha com consultoria comportamental e treinamento de cães, e pesquisa formas de aumentar a chance de adoção e bem-estar de cães de abrigo.

Bruna Lima Ferreira sobre a autora

Bióloga, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia e parte do Laboratório de Etologia e Bioacústica (EBAC) da USP-RP. Tem interesse em estudos sobre comportamento animal, bioacústica, conservação ambiental e educação. É entusiasta da divulgação científica e popularização da ciência. Atualmente é membro da equipe da Ilha do Conhecimento.

 

Fontes e referências bibliográficas:

Artigo científico intitulado “Aprendizagem social em cães domésticos: Uma revisão dos estudos tendo humanos como liberadores de dicas”, publicado na revista Acta Comportamentalia em 2013, de autoria de Dahás, L.; Neves Filho, H.; Cunha, T.; e Resende, B.

Artigo científico intitulado “Bem-estar animal para clínicos veterinários”, publicado na revista Brazilian Journal of Health Review em 2020, de autoria de Siqueira, V.; e  Bastos, P.

Livro “Canine Behavior”, Capítulo 4 “Canine Social Behavior” (pág. 133-192), de autoria de Beaver, B., publicado pela editora Saunders em 2009. 2a ed. 

Matéria no blog Dicas Peludas intitutlada “Calming signs – Um pedido de paz”, publicada em 2013. (Website)

(Editoração: Beatriz Spinelli e Fernando Mecca)

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