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Restos de Thescelosaurus achados na Dakota do Norte estão ligados a fragmentos de asteroide que podem ter relação com a extinção de espécies há 66 milhões de anos
Sabemos que os dinossauros foram extintos do nosso planeta depois que um asteroide atingiu a Terra há cerca de 66 milhões de anos. Recentemente, cientistas encontraram um fóssil de dinossauro no sítio paleontológico de Tanis, no estado americano de Dakota do Norte (EUA), que pode ter sido morto no momento que o asteroide atingiu a Terra. Com isso, os pesquisadores acreditam que agora conseguem ter uma visão extraordinária do último dia dos dinossauros, uma vez que identificaram uma resolução de tempo muito precisa para os acontecimentos dentro deste sítio paleontológico.
A descoberta inclui, entre outros, dois fósseis muito importantes: uma perna de dinossauro incrivelmente preservada, que possuía a pele do animal, e peixes com vestígios de poeiras nas guelras. A perna pode ser datada com precisão no momento em que o asteróide que provocou a extinção dos dinossauros atingiu a Terra. Os especialistas explicam que isso é possível devido à presença de detritos do impacto, que choveram apenas em seu rescaldo imediato, ou seja, as consequências imediatas do impacto que incluem a projeção de rochas e a chuva de detritos. No caso dos peixes, eles possuíam pequenas partículas presas nas suas brânquias, que são as esférulas de rocha derretidas que os peixes teriam inalado quando elas entraram nos rios. Essas rochas teriam sido expulsas do local do impacto e, então, caído de volta na superfície do planeta.
O local de impacto do asteroide se deu no Golfo do México, ao largo da Península de Yucatán, que fica a cerca de 3.000 km de Tannis. Mesmo com a distância, o impacto também foi sentido na região. Portanto, o peixe encontrado junto do fóssil de dinossauro e a presença de outros detritos que choveram por um período específico imediatamente após o impacto do asteroide, permitiram que os cientistas identificassem que eles eram da mesma época do impacto do asteroide. As esférulas encontradas nos peixes foram ligadas quimicamente e por datação radiométrica ao local do impacto mexicano. Em duas partículas recuperadas de resina de árvore preservada também há pequenas inclusões que implicam uma origem extraterrestre. Assim, com a identificação da composição deste material, todas as evidências e todos os dados químicos do presente estudo sugerem fortemente que os cientistas estão olhando para um pedaço do asteróide que acabou com dinossauros.
O sítio de fósseis de Dakota do Norte é descrito como uma confusão caótica. Os restos de animais e plantas parecem ter rolado em um depósito de sedimentos por ondas de água do rio desencadeadas por tremores de terra inimagináveis. Organismos aquáticos estão misturados com criaturas terrestres. Com tantas evidências, o sítio se tornou uma fonte de fósseis de valor inestimável.
Robert DePalma, o estudante de pós-graduação da Universidade de Manchester que está liderando a escavação de Tanis, disse: “Temos tantos detalhes neste sítio que nos dizem o que aconteceu momento a momento, é quase como assistir nos filmes. Você olha para a coluna de rocha, olha para os fósseis lá, e isso te traz de volta àquele dia.” Phillip Manning, um professor de História Natural também da Universidade de Manchester conta que “a resolução de tempo que podemos alcançar neste sítio está além dos nossos sonhos mais loucos… Isso realmente não deveria existir e é absolutamente lindo. Nunca sonhei em toda a minha carreira que veria algo a) tão limitado no tempo; e b) tão bonito, e também conta uma história tão maravilhosa.”
O fóssil de dinossauro encontrado é um Thescelosaurus. “É um grupo que não tínhamos nenhum registro anterior de como era sua pele, e mostra muito conclusivamente que esses animais eram muito escamosos como lagartos. Eles não eram emplumados como seus contemporâneos carnívoros”, disse o professor Paul Barrett, do Museu de História Natural de Londres, que é um especialista em dinossauros ornitísquios. Sobre a perna do dinossauro, ele ainda relata que ela parece ter sido arrancada muito rapidamente, levando em consideração que não existem vestígios de que ela tenha sido arrancada por outro animal ou sofrido de alguma doença.
A BBC passou três anos filmando a região e criando materiais para desenvolver um documentário sobre o sítio de Tanis que tem previsão de estreia para meados de abril e se chama The Final Day with Sir David Attenborough. A produção informou que a equipe de pesquisadores também encontrou os restos fossilizados de uma tartaruga que foi espetada por uma estaca de madeira e pequenos mamíferos e suas tocas, bem como a pele de um tricerátopo, um embrião de pterossauro dentro de seu ovo e o que os cientistas pensam que poderia ser um fragmento do próprio impacto do asteróide.
Colaboração: Jéssica de Moura Soares sobre a autora
Jéssica de Moura Soares é Bacharel em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Mestre e agora doutoranda em Bioquímica pela Universidade de São Paulo (USP). Se interessa por iniciativas onde a ciência ajuda a transformar o mundo em um lugar mais sustentável e igualitário. Entusiasta da divulgação científica, acredita que a ciência tem que ser de fácil acesso a todos.
Fontes e mais informações sobre o tema:
Matéria no site BBC, intitulada “Tanis: Fossil of dinosaur killed in asteroid strike found, scientists claim”, publicada em 06/03/22. https://www.bbc.com/news/science-environment-61013740
Matéria no site Só Científica, intitulada “Cientistas encontram fóssil de dinossauro que foi morto pelo asteroide”, publicada em 08/03/22. https://socientifica.com.br/fossil-de-dinossauro/
Matéria no site The Guardian, intitulada “Scientists find fossil of dinosaur ‘killed on day of asteroid strike’.”, publicada em 07/03/22. https://www.theguardian.com/science/2022/apr/07/fossil-dinosaur-killed-asteroid-strike-thescelosaurus-north-dakota-extinction