Cientistas observaram que células B do sistema imune têm aumento na capacidade de reconhecer o novo coronavírus ao longo do tempo. Os resultados não eliminam a necessidade de cuidados contra reinfecções.
A vacinação contra Covid-19 começou no Brasil no último domingo e aqueceu as discussões sobre a produção de anticorpos que combatem o vírus no organismo humano. O princípio que baseia a efetividade das vacinas é sua capacidade de estimular o sistema imunológico a produzir anticorpos contra o vírus, simulando a produção causada por uma infecção natural, mas sem que a pessoa fique doente. Em meio ao debate, pesquisadores nos Estados Unidos e na Suíça publicaram um estudo que indica que o sistema imune é capaz de lembrar como produzir anticorpos contra o SARS-CoV-2 por no mínimo seis meses após a infecção inicial. Os cientistas também concluíram que os anticorpos ficam mais potentes no decorrer desse tempo.
Após a pessoa ser infectada pelo novo coronavírus, os níveis de anticorpos tendem a cair ao longo dos meses e, com isso, a proteção imunológica contra a Covid-19 poderia desaparecer rapidamente. O que o brasileiro Julio Cesar Lorenzi e os demais cientistas da equipe observaram é que os níveis de anticorpos contra o vírus diminuem, mas os níveis dos linfócitos B de memória permanecem constantes até pelo menos seis meses depois da infecção. Os linfócitos B são um tipo de célula de defesa que reconhece partes do vírus e cria anticorpos contra ele.
Os anticorpos produzidos pelas células B seis meses após a pessoa ser infectada conseguem neutralizar diversas variações da corona, que é a “coroa” do novo coronavírus, impedindo o vírus de agir nas células. A ação neutralizante foi observada em testes feitos in vitro, ou seja, em ensaios de laboratório. A capacidade de proteção imunológica mais potente se deve ao amadurecimento e à seleção das células B. No processo de amadurecimento, os linfócitos passam por várias mutações que melhoram o reconhecimento do vírus.
Para chegar a esses resultados, a equipe de pesquisadores partiu da análise de amostras de sangue de 87 pessoas que tiveram Covid-19. Os pacientes tinham entre 18 e 76 anos. As amostras foram coletadas em dois momentos: cerca de 40 dias após a infecção e, depois, cerca de 191 dias (6,2 meses) após a infecção.
As mudanças observadas nos linfócitos B e o aumento de sua capacidade de reconhecer o vírus são compatíveis com uma exposição prolongada ao material viral. Resíduos de proteínas do SARS-CoV-2 podem permanecer nos tecidos do corpo mesmo após o fim da fase de atividade do vírus, durante a qual ele se replica em células da região nasal, faringe, pulmão e intestino, por exemplo.
Para verificar se há permanência do antígeno no intestino depois da fase clínica da doença, a equipe de pesquisadores fez biópsia intestinal em 14 pessoas voluntárias. A biópsia ocorreu, em média, quatro meses depois de as pessoas receberem o diagnóstico inicial de Covid-19. Pedaços de proteínas virais foram encontrados em metade dos pacientes, o que sugere que o sistema imunológico pode passar por um estímulo contínuo para combater o novo coronavírus.
Apesar de animadores, os resultados não excluem a possibilidade de que uma pessoa possa se reinfectar. Além disso, é preciso investigar como as novas variantes do coronavírus, inclusive as que surgiram no Brasil, no Reino Unido e na África do Sul, afetam a resposta dos linfócitos B e a eficácia das vacinas.
O estudo foi publicado preliminarmente na revista científica Nature na última terça-feira.
News: Luanne Caires
Fontes e mais informações sobre o tema:
Artigo científico intitulado “Evolution of antibody immunity to SARS-CoV-2”, publicado na revista Nature em 2021, de autoria de Gaebler C., Wang Z., Lorenzi JCC. e colaboradores.
https://www.nature.com/articles/s41586-021-03207-w
Matéria no site G1, intitulada “Anticorpos de pacientes que tiveram Covid ficaram mais potentes 6 meses após infecção, diz estudo liderado por brasileiros na ‘Nature'”, publicada em 18/01/2021.
https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/18/anticorpos-de-pacientes-que-tiveram-covid-ficaram-mais-potentes-6-meses-apos-infeccao-diz-estudo-liderado-por-brasileiros-na-nature.ghtml
(Editoração: André Pessoni)