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Relatório ajuda a entender a influência antrópica na crise emergencial climática, que já atinge o nordeste do Brasil

#Farol de Notícias (Atualidades científicas que foram destaque no jornalismo da semana)

O relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas divulgado pela ONU aponta a influência antrópica na crise climática como “inequívoco e inquestionável”

 

No dia 09 de agosto, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês). O relatório deixa claro o papel do homem nas alterações climáticas e serve para explicar que já houve mudanças irreversíveis por séculos ou milênios. Em 2015, o Acordo de Paris foi assinado por 195 países e seu principal objetivo era limitar a emissão de gases estufa a fim de frear o aquecimento global, mantendo-o em até 2 graus. Segundo o relatório recentemente divulgado, se não houverem mudanças drásticas e  reduções significativas das emissões de carbono, é possível que o aumento da temperatura global ultrapasse 2 ºC até 2050. Caso isso ocorra, a intensidade e a frequência de fenômenos naturais também irão aumentar. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirma que o documento é “um código vermelho para a humanidade”, com uma evidência irrefutável: as emissões de gases a partir da queima de combustíveis fósseis e do desmatamento estão sufocando o planeta e colocando bilhões de pessoas em risco.

relatório ONU
Níveis de CO2 continuam em nível recorde. Fonte: Unsplash/Johannes Plenio – Reprodução ONU

O estudo divulgado nesta segunda-feira é o sexto relatório de avaliação do IPCC, e é o primeiro de uma série de três relatórios que vêm sendo elaborados com a participação de 234 especialistas de 66 países. Para sintetizar os efeitos do aquecimento global e prever cenários de acordo com as emissões de gases estufa, os cientistas revisaram mais de 14.000 artigos e referências publicadas até agora. Os relatórios permitem notificar os governos sobre o que se deve fazer para cumprir esses compromissos e a publicação completa dos dados será divulgada antes da Conferência das Partes (COP 26), que visa reunir em novembro os líderes de 196 países, a fim de discutir soluções para a crise climática. A reunião acontecerá em Glasgow, na Escócia.

O relatório aponta a influência humana como principal responsável pelo aquecimento da atmosfera, dos oceanos e da Terra. A temperatura global está aumentando numa taxa sem precedentes desde 2 mil anos atrás, estando atualmente 1,1 ºC mais alta que na era pré-industrial. CO2 (dióxido de carbono), CH4 (metano) e N2O (óxido nitroso), os três principais gases de efeito estufa na atmosfera, têm as maiores taxa de emissão em 800 mil anos, e as taxas atuais de CO2 não são vistas desde 2 milhões de anos atrás. Neste contexto, os combustíveis fósseis são apontados como os grandes protagonistas das emissões de gases estufa. Guterres afirma ainda que o relatório “deve soar como uma sentença de morte para os combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”. Além disso, as altas temperaturas do planeta têm causado fenômenos naturais extremos, entre os quais se destacam  secas, incêndios florestais, chuvas fortes, ciclones tropicais, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar e ondas de calor. Além disso, o ciclo da água também parece ter sido fortemente afetado, onde em altas latitudes, os volumes de chuva poderão aumentar daqui para frente, enquanto nas regiões subtropicais haverá uma diminuição dos mesmos.

O relatório afirma que o nordeste brasileiro é a área seca mais densamente povoada do mundo e é a mais afetada pelas mudanças climáticas no país. A região do semiárido, conhecida pelas secas severas e longos períodos de estiagens, terão essas características agravadas. Boa parte do Nordeste e do norte de Minas Gerais enfrentam secas mais intensas e temperaturas mais altas em muitos anos. Estima-se que até 2030 o planeta irá aumentar em até 1,5 ºC a sua temperatura, então o verão do semiárido terá temperaturas superiores a 40 ºC. Entre os anos de 2012 e 2017, a região semiárida enfrentou a maior seca desde que os níveis de chuva começaram a ser registrados, em 1850. Essa seca foi atribuída às mudanças climáticas e ajudou a expandir as áreas desertificadas.

Mapa da desertificação no Semiárido brasileiro. Fonte: Lapis – Reprodução UFAL

A desertificação do semiárido já é um problema notável decorrente do desmatamento e do aquecimento global. A área desertificada já equivale ao tamanho da Inglaterra e, segundo o relatório, 94% do semiárido está sujeito à desertificação. O estado de Alagoas é o mais afetado pela desertificação, que já corresponde a 32,8% de todo território estadual. O meteorologista e cientista do solo Humberto Barbosa, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), explica que temperaturas extremas destroem a diversidade de microrganismos que vivem no solo do seminário e que eles são cruciais para a existência das plantas. Em adição Barbosa fala que, por mais que haja chuva na região, sem os microrganismos não há condições para crescimento de vegetação. A região do semiárido tem os Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do país e, uma vez que a crise climática tem afetado tão severamente esta área, a preocupação do país deve ser notória. As previsões indicam um forte êxodo rural dessas regiões devido às secas.

Levando em consideração o relatório, é óbvia a necessidade de amenizar a influência da ação antrópica sobre o clima do planeta. Assim, as investidas para conter a crise climática precisam ser reforçadas. De acordo com os especialistas, com a diminuição da emissão de gases estufa, a qualidade do ar pode melhorar e dentre 20 a 30 anos, as temperaturas globais podem se estabilizar. Se as emissões cessarem até 2030 e até o final do século chegarmos o mais perto possível de 0 emissões, com a poluição existente equilibrada por remoção de carbono, será possível reverter o aumento da temperatura.

 

Colaboração: Iasmin Cartaxo Taveira sobre a autora

Iasmin Taveira queria ser cientista desde criança e acredita que tornar o conhecimento acessível é o melhor jeito de promover desenvolvimento social. É Biotecnologista pela UFPB e faz mestrado em bioquímica na FMRP/USP.

 

Fontes e mais informações sobre o tema:

Matéria no site Galileu, intitulada “5 pontos do novo relatório do IPCC para entender a emergência climática ”, publicado em 09/08/2021. https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2021/08/5-pontos-do-novo-relatorio-do-ipcc-para-entender-emergencia-climatica.html

Matéria no site ElPais, intitulada “Relatório da ONU sobre o clima responsabiliza a humanidade por aumento de fenômenos extremos ”, publicado em 09/08/2021. https://brasil.elpais.com/internacional/2021-08-09/relatorio-da-onu-sobre-mudanca-climatica-responsabiliza-humanidade-por-aumento-de-fenomenos-extremos-atuais.html

Matéria no site da ONU, intitulada “ ‘Relatório do IPCC é um código vermelho para a humanidade’ ”, publicado em 09/08/2021. https://news.un.org/pt/story/2021/08/1759292

Matéria no site BBC, intitulada “Mudança do clima acelera criação de deserto do tamanho da Inglaterra no Nordeste”, publicado em 11/08/2021.https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58154146

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